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Quando Alex voltou ao Coritiba, no fim de 2012, me preocupava o messianismo que o cercava. Ao longo dos 15 anos entre a saída e o retorno, Alex sempre funcionou como um analgésico para o torcedor alviverde. Qualquer dor vivida no concreto úmido do Couto Pereira – contra os Gamas, Juventudes, Paranavaís e Ituanos da vida – era controlada pela certeza de que tudo seria diferente no dia em que Alex voltasse a vestir verde e branco. Como se sua simples volta tivesse um efeito varinha de condão de transformar o Coritiba em potente carruagem. E ai de quem dissesse que Alex jamais voltaria ao Alto da Glória. Que iria antes para Palmeiras, Cruzeiro ou ganhar dinheiro na Arábia. Que no máximo viria "enganar" no Coxa quando estivesse se arrastando.

Alex voltou. Não quando estava se arrastando. Muito pelo contrário. Voltou em condições de ser genial em vários momentos, como foi. E é exatamente por isso que Alex vai parar agora, para não chegar ao ponto de se arrastar em campo. Não considera justo com si próprio e com o torcedor terminar a carreira dessa maneira.

Alex não conseguiu fazer do Coritiba uma carruagem potente sozinho simplesmente porque não é assim que a vida funciona. Não é humano conquistar algo sozinho, sem suporte algum.

Se tem algo que Alex foi nestes dois anos no Coritiba é humano. Imperfeitamente humano. Escorregou ao bater pênalti decisivo, pois todos nós já falhamos quando não poderíamos. Ficou fora de jogos importantes, pois todos já estivemos ausentes quando alguém ou algo de que gostamos muito precisava de nós. Não realizou tudo que sonhou no Coritiba, pois ninguém realiza tudo que planeja na vida.

Quando realizou um dos seus sonhos mais íntimos, ser campeão pelo time do coração, pulou o fosso e atravessou um mar de torcedores para abraçar a mulher e os filhos. Vai dizer que quando você atinge um objetivo não quer, antes de mais nada, abraçar quem mais ama? Se levantou contra a injustiça do salário atrasado, do calendário desumano, do prometido que não é cumprido, pois é assim que nos comportamos diante das injustiças do dia a dia.

O torcedor que esperava um Alex messiânico, a conduzir o Coxa até a terra prometida, recebeu um Alex de carne, osso e alma. Não há porque reclamar da troca. Alex mostrou ser um dos seus. O sonho de todo o torcedor, de calçar as chuteiras e vestir a camisa do time do coração, Alex realizou. No começo, quando o destino indicou como único caminho para jogar bola. E no fim, quando poderia escolher qualquer outro caminho.

Mesmo que não admita, todo torcedor sentirá uma pontinha de inveja dos coxas-brancas no domingo. Não há título que pague ver um ídolo daqueles cada vez mais raros encerrar a carreira exatamente onde começou. Com a paixão de um torcedor de arquibancada. Valeu, capitão.

* A coluna entra em férias e volta no dia 27 de janeiro.

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