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Joel Santana chorou. Tam­­bém, pudera! Dias atrás era cantado em prosa e verso pela torcida do Botafogo. Campeão carioca sem decisão, disputou vaga na Libertadores até onde o nível técnico do time permitiu e vinha liderando seu grupo na Taça Rio ora em disputa. Bastaram alguns resultados ruins e uma derrota para o Vasco para tudo mudar.

Xingado, escorraçado, San­­tana, que é um homem sensível e emotivo, pediu demissão. Não lhe ofereciam mais ambiente no clube onde até pouco se sentia em casa. Não tinha mais aconchego, não tinha mais casa.

O futebol tem sido assim de uns tempos para cá: insensível e cruel. E é apenas um esporte, em­­bora dele se trate como elemento de batalha e desafogo de frustrações. Já não há mais o rival, há o desafeto. Já não há mais o oponente, há o inimigo. E sob esse foco frio e desagradável, nossos clubes não conseguem manter níveis emocionais adequados para as competições.

Nosso exemplo doméstico é o Atlético. Não passa por boa fase, todos reconhecem. Mas não é pela primeira vez. O torcedor já deve ter perdido a conta dessa situação ruim. Mesmo porque participou decisivamente da recuperação em quase todas elas, empurrando o time para cima e não deixando esmorecer. Até mesmo num torneio da morte de Campeonato Estadual, quando jogava nas tardes de quarta-feira e lotava a velha Baixa­­da de torcedores engravatados a transmitir energia positiva aos seus jogadores.

Isso não existe mais, ficou na doce lembrança dos atleticanos, que tinham no estádio uma ar­­ma a mais para acuar os adversários. Na pressão da voz, no grito de guerra, na vibração permanente na arquibancada, sob qualquer placar ou circunstância (sempre havia a esperança de que tudo poderia dar certo). É passado. Até mesmo o técnico Ge­­ninho estranhou o novo as­­tral. E reconheceu não ter mais a Baixada o mesmo poder mágico totalmente favorável. Pior ainda: reclamou da intimidação nociva a alguns de seus jogadores.

Mas o que se pode esperar de uma torcida que antes da partida vai ao hotel cobrar e hostilizar seus próprios atletas? Aconteceu em Irati, como de resto já se registrou em outras oportunidades. Aí o time ganhou o jogo e não du­­vido que alguns desses te­­nham atribuído o resultado à importunação pré-jogo.

Claro que há muitos lamentáveis interesses (políticos e pessoais, inclusive) por detrás dessas ocorrências. Mas o torcedor precisa (embora pareça não querer) entender as limitações de alguns daqueles que vestem a camisa de seu time. Limitações essas que sempre existiram, mas em outros tempos eram superadas pela garra de quem se sentia na obrigação de retribuir alguma coisa à paixão e ao incentivo vindo da arquibancada. Hoje, sob vaias e apupos, o que seria possível devolver?

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