Caro presidente Mario Celso Petraglia.

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Confesso que pensei e repensei algumas vezes se valia mesmo a pena me dirigir ao senhor. Sei das suas inúmeras atribuições, ainda mais pressionado por todas as exigências da Fifa. No passado, até esbocei algumas linhas, um contraponto a algumas de suas ideias, mas desisti de publicá-las. Não valia a pena. Desta vez, decidi seguir em frente. Após mais um ataque direto ao trabalho dos jornalistas, na terça-feira, acredito que encontrei o momento mais adequado.

O senhor nem deve se lembrar de mim. Não tem importância. Já lhe entrevistei algumas vezes. Na Arena, no CT do Caju, quando os profissionais da imprensa tinham livre acesso ao complexo rubro-negro (sim, isso existiu um dia!) e, mais recentemente, quando o senhor, ainda sem exercer o posto de presidente do Atlético, visitou algumas vezes a redação da Gazeta do Povo para mostrar o projeto elaborado pelo seu grupo para reformar a Arena da Baixada. Tudo, claro, com foco na Copa do Mundo de 2014. Eis aí uma tremenda contradição. Mas quem nunca pensou uma coisa e fez outra?

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Depois que se tornou o principal dirigente do Atlético, o senhor virou as costas e fechou o clube para quase todos os veículos independentes, aqueles que não recebem a chancela de oficial. Uma opção extremamente equivocada a meu ver, mas um direito seu.

As frestas na Arena surgem exatamente quando a Fifa vem a Curitiba colocar o dedo na ferida de um dos estádios mais atrasados para o Mundial. Um problema que, não tenha dúvida, influenciou na opção de 57,5% dos curitibanos de desaprovarem a realização da Copa do Mundo na cidade, segundo levantamento publicado por esta Gazeta na segunda-feira. Número que certamente deixou o senhor desconcertado, como pôde ser visto no seu reencontro com a imprensa naquele mesmo dia.

O sermão dado aos jornalistas por causa de uma pergunta que não gostaria de ouvir soa patético, para dizer o mínimo. Estavam ali profissionais ansiosos por levar ao público informações corretas sobre os motivos de o estádio demorar tanto para ficar pronto mesmo com uma injeção pra lá de considerável de dinheiro público, das impressões deixadas à dona da Copa e, claro, detalhes da denúncia de salário duplo do francês Jérôme Valcke, secretário-geral da Fifa e todo-poderoso do Mundial, o estopim para suas queixas.

Presidente, esse é o contraditório. Esse é o papel da verdadeira imprensa. Se não quiser ouvir questionamentos que nem sempre lhe agradem, da próxima vez peça para ficar de fora da entrevista coletiva. Ou, melhor, encha a plateia com alguns de seus assessores ou secretários, algo que já acontece no dia a dia do Atlético. Prepare todas as perguntas e ensaie com antecedência. Só assim o senhor não será surpreendido. Nem perderá os nervos. E poderá ir para casa feliz da vida. Com aquele projeto da Arena debaixo do braço.

Minhas cordiais saudações.

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