Entre os prováveis titulares do Brasil para a Copa da África do Sul, Gilberto Silva é um dos dois únicos remanescentes do time campeão mundial em 2002. Mas não são as lembranças do título no Japão que vão servir de inspiração para ele este ano, e sim o aprendizado da derrota de quatro anos atrás na Alemanha.
O volante aponta o excesso de confiança e a badalação em torno da seleção brasileira como os principais problemas que custaram ao time visto como favorito a eliminação nas quartas-de-final da Copa passada, e garante que dessa vez o grupo, especialmente quem jogou em 2006, está concentrado em dar a volta por cima.
"A gente tirou as lições de 2006. Realmente houve oba-oba em torno da seleção e de repente a gente perdeu a concentração num momento importante", disse o jogador de 33 anos em entrevista à Reuters nesta sexta-feira (7).
"Pode ter havido uma falta de concentração pelo fato de o Brasil ter chegado com todo aquele oba-oba, e de repente até um excesso de confiança. A gente sabe que ficou devendo, principalmente para nós mesmos", disse.
"Esse grupo agora, ainda mais o meu caso e dos outros jogadores que estiveram em 2006 -- Lúcio, Juan, Kaká --, o que a gente quer é dar a volta por cima depois do que a gente viveu", acrescentou Gilberto, que, ao lado do capitão Lúcio, são os únicos titulares do atual time e da equipe que conquistou o penta em 2002.
Com 91 partidas pela seleção, o jogador é um dos pontos de confiança do técnico Dunga tanto dentro como fora de campo. Apesar do estilo tranquilo e mais calado, é sempre escolhido como capitão substituto e participa desde o princípio do trabalho de reconstrução do time promovido pelo treinador.
Segundo o volante, em quatro anos foi montado um grupo forte que vai tentar na África do Sul encerrar em alta um ciclo que incluiu a conquista da Copa América 2007, Copa das Confederações 2009 e a liderança das eliminatórias para o Mundial.
"Nesse período com o Dunga a gente teve que começar o trabalho do zero. A gente recomeçou do nada, juntando os pedaços, e aos pouquinhos, com muita dificuldade, o grupo foi sendo montado", afirmou.
"Aos poucos fomos também conquistando a confiança do povo brasileiro e dando uma resposta dentro de campo, então o que a gente quer é fechar bem esse ciclo de trabalho que começou com a chegada do Dunga ganhando a Copa do Mundo."
"Dever cumprido"
Jogador mais defensivo do meio-campo brasileiro, muitas vezes atuando até como um terceiro zagueiro, o volante é peça fundamental no esquema tático de Dunga, baseado na marcação forte e contra-ataques.
Contestado desde suas primeiras partidas pelo Brasil, Gilberto garante que aprendeu com a experiência a não se importar com as críticas à seu estilo de jogo, especialmente por saber que a função que exerce em campo é indispensável para o sucesso do time.
"Eu não sou um jogador de dar drible, que faz gol ou uma jogada bonita. Aos olhos de muita gente a minha função passa despercebida, mas eu tenho a consciência tranquila porque sei que o meu trabalho está sendo feito voltado para o time, mesmo não aparecendo muito", disse ele, que foi reserva no Mundial da Alemanha mas recuperou a vaga de titular com a chegada do técnico Dunga à seleção.
"Pelas características da seleção brasileira, dos jogadores de frente, eu sei que algum jogador teria que fazer essa função."
Revelado pelo Atlético Mineiro e vendido ao Arsenal após a Copa do Mundo de 2002, Gilberto Silva trocou o time inglês pelo Panathinaikos, da Grécia, em 2008, após ter perdido a vaga de titular no clube londrino.
A segunda temporada no futebol grego foi marcada pela dupla conquista da copa e da liga nacional e, segundo Gilberto, serviu para colocá-lo de novo no auge de sua forma para servir ao Brasil no terceiro mundial de sua carreira.
"A minha ida para a Grécia foi uma aposta minha em relação à seleção, porque tive uma última temporada no Arsenal que não foi do jeito que eu imaginava, joguei muito pouco e isso certamente prejudicou o meu desempenho na seleção porque eu não tinha ritmo de jogo. Agora posso dizer que recuperei o meu melhor", afirmou.
O Mundial da África do Sul pode marcar também a despedida de Gilberto Silva da seleção o que, se acontecer, representará um ciclo encerrado "com o dever cumprido".
"Quero deixar ser um processo natural. Depois da Copa vou fazer uma avaliação, e tomar uma decisão que for a melhor para mim. Se tiver que dizer chegou a minha vez, vou estar encerrando esse ciclo de cabeça erguida."
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