Cerca de 60% das obras públicas em Curitiba e região previstas para a Copa de 2014 correm o risco de não ficarem prontas antes do início da competição especialmente se houver algum imprevisto no meio do caminho. A preocupação ganha corpo ao se observar o atual estágio das intervenções exatamente dois anos depois de a capital paranaense ter sido oficializada como subsede do Mundial.
Nove das 14 obras programadas ainda não estão com os projetos executivos prontos, sendo que cinco nem sequer começaram a ser elaborados. Somente um efetivamente começou a ampliação do estacionamento do aeroporto. Entre as mais importantes estão a ampliação do terminal de passageiros do Aeroporto Afonso Pena e a construção do corredor metropolitano.
Os 14 projetos são de responsabilidade do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc), da Coordenação da Região Metropolitana de Curitiba (Comec) e da Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero). Os prazos divulgados pelo Ippuc preveem o término de seis obras ainda no próximo ano. Mas, segundo o cronograma inicial do instituto, quatro delas já estão atrasadas.
Independentemente do caminho a ser percorrido para a licitação e execução das obras, o Ippuc defende que o prazo final é que deve ser levado em conta e que todos serão cumpridos. O secretário estadual para Assuntos da Copa, Mário Celso Cunha, também afirma que os projetos que ainda estão sendo feitos devem ficar prontos entre agosto e outubro deste ano.
Para especialistas, o cronograma apontado pelos órgãos públicos é otimista, mas não realista. "Obras desse porte normalmente levam até um ano e meio. Isso somente a execução. Se tudo correr bem, elas devem ficar prontas no fim de 2013. Qualquer atraso pode comprometer tudo. Para se cumprir os prazos, vamos precisar de muita sorte", analisa o engenheiro Valter Fanini, presidente do Sindicato dos Engenheiros no Estado do Paraná.
Estimativas do próprio Comec preveem que somente a elaboração dos projetos leve de seis a oito meses. Já as licitações, tanto para contratar os projetos quanto para executar as obras, devem se prolongar por pelo menos quatro meses desde que não haja recursos das empresas participantes, que podem estender o processo em vários meses e até anos.
"É possível terminar as obras até 2014, em termos de engenharia. Agora, depende de garantir os recursos. O que pode ser um problema, já que no caso do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), em geral, há um atraso de 50% em todas as obras. Sem contar as peculiaridades jurídicas que podem ocorrer. A dragagem do Porto de Paranaguá, em oito anos, não foi resolvida, por causa de entraves jurídicos", exemplifica o engenheiro civil Ricardo Bertin, coordenador adjunto do curso de Engenharia Civil da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR).
RiscosAlém dos riscos durante o processo de licitação, especialistas também preveem outros problemas que podem atravancar o andamento dos serviços, como o abandono de obras por parte de empresas, escassez de materiais, falta de profissionais qualificados no mercado e necessidades de desapropriações em alguns empreendimentos. A própria elaboração dos projetos executivos pode se estender, já que grande parte das obras será feita no meio urbano, tendo de prever interferências de redes de luz, água e energia, por exemplo.
"A etapa do projeto é fundamental. Quanto mais detalhes o projeto trouxer, mais garantia se tem de que a obra possa ser executada com uma margem de valores menor. Se não for bem detalhado, na hora de executar será preciso fazer aditivos, e aí vira uma bola de neve", avalia o presidente do Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia do Paraná (Crea-PR), Álvaro José Cabrini Júnior.
Custos extrasA preocupação do setor é que atrasos e o calendário apertado transformem a execução das obras para a Copa em um novo Pan-Americano. Em 2007, as obras no Rio de Janeiro, terminadas às vésperas da competição, custaram dez vezes mais do que o valor inicial previsto. A estimativa é que, somente em Curitiba e região metropolitana, as obras públicas custem R$ 621,8 milhões, sendo que a grande maioria dos recursos deve ser repassada por meio do PAC da Mobilidade, do governo federal.
"O cronograma de qualquer obra em engenharia está diretamente associado a custo. Dá pra fazer mais rápido, mas vai custar mais caro. Isso porque acelerar o ritmo de obras demanda mais recursos humanos e de equipamentos. Outra preocupação é, na falta de tempo, fazer soluções paliativas, a título de 'maquiagem' somente", afirma Bertin.
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