2015 começou carregando heranças de 2014. A operação para a realização da Copa do Mundo em Curitiba é uma delas. Previsível. A ação do poder público passou da morosidade plena para o espírito do "manda-brasa que depois a gente resolve". Direto, sem escalas. A Arena ficou pronta, a Copa saiu e agora é hora de juntar o que ficou pelo caminho. E não estamos falando de detalhes desprezíveis. Ainda falta consenso sobre o mais básico: quanto custou a obra e quanto deverá, de fato, sair dos cofres públicos.
A conclusão do Tribunal de Contas de que prefeitura de Curitiba e governo estadual não agiram de acordo com as "boas práticas públicas", conforme antecipado ontem, pelo colega Carlos Eduardo Vicelli, é um fio de esperança. O Ministério Público, adormecido ao longo de todo o processo, é quem tem o dever de se debruçar sobre as conclusões do TC e toda a papelada relativa aos convênios, para dali tirar subsídios que permitam à Justiça definir as responsabilidades ou a falta delas. Estão mais do que claros pelo menos três momentos em que o poder público poderia ter puxado a corda e garantido a transparência da operação.
O primeiro foi a assinatura do acordo tripartite em cima do orçamento de R$ 184,6 milhões, ainda na gestão de Luciano Ducci. Descartando a ingenuidade de achar que o orçamento não subiria nem um centavo sequer (nem que fosse por efeito da inflação ou do custo da construção), foi barbeiragem não explicitar o que aconteceria com qualquer centavo orçado acima deste valor.
O segundo, a mudança na administração municipal. Gustavo Fruet mandou rever contratos e projetos das obras de mobilidade. Não implementou o mesmo rigor com a Arena.
Por fim, a comissão formada em janeiro do ano passado, com prefeitura, governo estadual e federal, para a cogestão da obra. Beto Richa permitiu que fosse feito todo o esforço possível, capitaneado por Cassio Taniguchi, para acelerar o fluxo de dinheiro. Não teve o zelo de exigir em troca o fim de qualquer margem para dúvida sobre o custo do estádio.
Diante do volume de dinheiro movimentado pela máquina pública, os milhões a mais ou a menos gastos com a Arena parecem coisa pequena. Aliás, o discurso de se tratar de um dos estádios mais baratos da Copa é o preferido de quem prefere deixar tudo como está. Gente que não percebe que essa política dos convênios de pontas frouxas é o que, na soma, leva ao desajuste nas contas públicas nas três esferas de poder. Má gestão que faz com que você e eu paguemos mais impostos.
Assim, a operação da Arena deve ser tratada como qualquer outra possível má prática pública de gestão. Investigada e, caso confirmada, punida. Só vai mudar no dia em que se tornar comum os gestores públicos serem obrigados a pagar (financeiramente, até) pelos seus erros e omissões. No caso da Arena, só haverá chance de isso acontecer se o Ministério Público se coçar.
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