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Ganhar a medalha de bronze em Pequim e se tornar a primeira judoca brasileira a subir no pódio olímpico foi um feito impressionante na vida da brasiliense Ketleyn Quadros. Mas mais incrível foi a sua trajetória até entrar no tatame do Ginásio de Ciências e Tecnologia da capital chinesa. O judô sempre esteve no sangue de Ketleyn. Aos 8 anos, em Ceilândia, a menina já falava para sua mãe, Rosemary, o que queria ser quando crescesse. "Vou ser atleta olímpica de judô."Depois de abandonar as sessões de natação no Sesi pelas aulas de judô, o seu talento logo foi reconhecido. "Não tínhamos dinheiro para pagar a transferência de federação para Belo Horizonte", lembra a mãe, que assistiu no ginásio às lutas da filha. "A mãe da Erika (Miranda, que foi cortada na véspera do início da Olimpíada, e que é grande amiga de Ketleyn) arrumou uma bicicleta e rifou para conseguirmos o dinheiro para pagar a transferência de federação", relembrou a mãe, que viajou para a China, junto com sua "comadre", graças ao "patrocínio" de alguns empresários da cidade onde mora.

Cabeleireira, divorciada e mãe de mais duas meninas, Rosemary, emocionada pela conquista da filha, disse na arquibancada do ginásio que espera que a filha possa ter um retorno financeiro com o judô. "Sei que ela gosta muito, sempre rezo bastante para ela não se machucar, mas é preciso ganhar dinheiro", afirmou, sem saber que a filha e Leandro Guilheiro, bronze no masculino, vão receber da Confederação Brasileira de Judô R$ 20 mil como prêmio pela medalha.

A mãe destacou a força de vontade da judoca. "A gente se vê pouco no ano, porque ela sempre está treinando forte até nos fins de semana. Nunca reclama, jamais abaixa a cabeça. Sempre procura atingir seus objetivos. Ela merece o que está acontecendo com ela." Rosemary espera que a filha seja recebida com festa na quinta-feira, quando retorna da China com a medalha no peito. "Bem que o presidente Lula poderia receber minha filha Vamos dar uma festona para ela."

Ketleyn, que cursa Educação Física e divide um quarto com Érika em uma república em Belo Horizonte, admitiu que estava deslumbrada com a conquista. Natural para quem há oito meses não fazia nem parte da seleção principal. Suas maiores conquistas haviam acontecido na categoria júnior. Mesmo assim, no início do ano, ganhou a disputa pela vaga da veterana Danielle Zangrando. "Fiz um trabalho psicológico no Minas Tênis, com a doutora Regina, e vim determinada a conseguir um bom resultado. Mas não esperava uma medalha tão rápido", reconheceu a judoca de 20 anos

A atleta destacou o trabalho da técnica Rosicléia Campos. "Dá para ouvir os gritos dela o tempo todo. É ótimo por que ela não deixa a gente perder a concentração. A histeria dela acorda a gente na luta." Rosicléia não conseguia parar de chorar. Ela fez parte da primeira equipe olímpica do Brasil em 1992, em Barcelona. "É um sonho que se materializa. O Brasil sempre teve boas lutadoras. Faltava alguém que acreditasse nelas e eu sempre acreditei."

O caminho de Ketleyn em Pequim começou com uma vitória sobre a sul-coreana Kang Sin Young, seguida de uma derrota para a holandesa Deborah Gravenstijn - que terminaria com a medalha de prata, derrotada na decisão pela italiana Giulia Quintavalle. Na repescagem, Ketleyn derrotou a espanhola Isabel Fernandez, campeã olímpica em Sydney/2000, e a japonesa Aiko Sato, antes de bater a australiana Maria Pekli na disputa da medalha.

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