Pelo fato de o Japão ser a terceira maior economia do mundo (atrás de Estados Unidos e China), parece estranho que o país precise de ajuda internacional para superar o desastre causado pelo quinto maior terremoto de sua história. Mas esse auxílio é necessário, de acordo com o professor do Observatório Sismológico da Universidade de Brasília, Jorge Sand França, principalmente na questão nuclear.
A usina de Fukushima representava até ontem a maior crise decorrente do terremoto, com um grau de radiação mil vezes maior que o normal e temor de vazamentos. Moradores num raio de 20 km da usina precisaram evacuar a área.
"O suporte nuclear é necessário para evitar um desastre. O país pode necessitar de placas metálicas para a contenção da radiação, roupas especiais de proteção e especialistas que possam orientar a situação para evitar a propagação da radiação", conta França, que passou dois meses colaborando com o Centro Universitário de Tsukuba, perto de Tóquio.
Além disso, por mais que o Japão seja um país rico, a região mais atingida, a Nordeste (formada por seis províncias: Aomori, Akita, Iwate, Fukushima, Yamagata e Miyagi, cuja capital é Sen dai, o local mais próximo do epicentro do tremor), é das menos prósperas no país.
A região é conhecida como o "celeiro do Japão por produzir boa parte dos alimentos que são consumidos no país. De Tohoku saem 20% de todo o arroz colhido no Japão, além de frutas, legumes e pescados.
Pedido contido
Até este sábado, o país havia pedido equipes internacionais de busca e resgate "mas somente algumas", frisou Elisabeth Byrs, porta-voz da agência da ONU para a coordenação de assuntos humanitários, em Genebra.
O pedido de ajuda modesto, que poderia soar como fruto de orgulho, é entendido como uma demonstração da seriedade japonesa. "Eles pedem na medida necessária, nunca a mais, como o brasileiro costuma fazer: pede 2x e espera receber só x", diz França.
A ONU anunciou no sábado o envio de uma equipe para coordenar os trabalhos de busca no norte do país, para fornecer abrigos e iniciar a limpeza e reconstrução.
Condições
Os trens-bala que ligam a capital até a zona atingida continuavam fora de serviço ontem. Segundo o estudante brasileiro Pedro Burjack, que vive na cidade de Sendai, o centro teve a energia religada à tarde.
A população fez uma corrida aos mercados em busca de água e alimentos não perecíveis. "Hoje de manhã fui ao supermercado para tentar comprar leite e comida, mas as prateleiras já estavam vazias", disse o brasileiro Sérgio Hirakava, 34, que mora há quatro anos em Shizuoka.
Comunidades de brasileiras no Japão estão montando por conta própria uma lista com nomes de brasileiros supostamente desaparecidos. Na relação constam pelo menos sete pessoas das regiões de Sendai e Fukushima, atingidas pelo tremor.
Até ontem, o Itamaraty não tinha notícias oficiais de brasileiros desaparecidos ou mortos pelo terremoto.
Uma providência política que poderá ser tomada pelo Japão é adiar as eleições locais marcadas para abril.
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