Presidentes de países sul-americanos se reunirão em caráter emergencial na segunda-feira em Santiago, no Chile, para evitar uma profunda crise política na Bolívia, onde o presidente Evo Morales enfrenta violentos protestos da oposição que já deixaram cerca de 30 mortos.

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A convocação feita pela presidente do Chile, Michelle Bachelet, na condição de dirigente pró-tempore da União das Nações Sul-Americanas (Unasul) obteve ampla acolhida. Já confirmaram participação os líderes do Brasil, Argentina, Colômbia, Equador e Venezuela, entre outros.

O jornal chileno "El Mercurio" informou neste domingo que Bachelet convocou a cúpula extraordinária da Unasul depois que o próprio Morales lhe revelou na noite de sexta-feira a existência de um boletim de inteligência de seu país que garantia ser "iminente uma tentativa de derrubada de seu governo".

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A oposição boliviana está resistindo por meio da força ao plano do governo de dar impulso a uma Constituição socialista que garanta um marco legal à nacionalização da economia e outorgue mais poder à maioria indígena.

Enfrentamentos entre opositores e governistas no departamento de Pando, na Amazônia boliviana, deixaram um saldo de pelo menos 25 mortos e dezenas de feridos, enquanto no restante do país se sucedem bloqueios de estradas e ocupações de edifícios públicos.

O presidente venezuelano, Hugo Chávez, foi o primeiro a aceitar o convite de Bachelet. Segundo Chávez - principal aliado de Morales na região - o encontro buscará frear o suposto golpe de Estado "fascista" que a oposição pôs em marcha para derrubar o presidente, de origem indígena.

Mas os analistas prevêem que na reunião de cúpula surgirão mais expressões de apoio do que ações concretas. "A única coisa que esses presidentes poderiam conseguir é incentivar uma negociação interna, mas não sei se isso será aceito pelas partes, por isso não tenho grandes expectativas sobre o que se vai obter de concreto, a não se lindas declarações e belas palavras", disse à Reuters o analista chileno de política internacional Ricardo Israel.

Diante da verborragia de Chávez, presidentes moderados, com os da Colômbia e do Peru, têm se mostrado mais comedidos na hora de opinar sobre a situação na Bolívia, embora tenham expressado abertamente seu apoio a Morales.

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Em maio deste ano, 12 países sul-americanos ratificaram a criação da Unasul, em mais uma tentativa de impulsionar a integração da região, que atualmente está dividida entre os mais próximos dos Estados Unidos, como a Colômbia e o Peru, e seus críticos, como Venezuela, Equador e Bolívia.

O ex-presidente equatoriano Rodrigo Borja renunciou ao cargo de secretário-executivo poucas semanas depois da criação da Unasul e até o momento não se chegou a um consenso para eleger um substituto.

A Unasul terá de buscar uma aproximação entre as posições dos países membros para definir um documento equilibrado de apoio à Bolívia e se manter à margem do conflito entre Chávez e os EUA.

"Isso não será fácil", disse à Reuters o analista de assuntos internacionais Patricio Navia.

"A situação é muito complicada. Os líderes da Unasul estão numa espécie de armadilha. Por um lado, querem mostrar seu apoio à democracia e estabilidade na Bolívia, por outro precisam distanciar-se da disputa pessoal de Chávez com os EUA", acrescentou.

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Chávez expulsou dias atrás o embaixador dos EUA na Venezuela em solidariedade à Bolívia, que havia feito o mesmo, acusando o representante da Casa Branca de conspirar contra seu governo.

"O Brasil já ofereceu ajuda, mas Evo Morales rejeitou. A Venezuela ofereceu apoio militar, que a Bolívia rechaçou. A única coisa a fazer agora é incentivar um diálogo para solucionar a crise", disse David Fleischer, professor de Ciências Políticas da Universidade de Brasília.

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