As tropas sírias lançaram nesta sexta-feira uma contraofensiva nos bairros de Damasco que se encontram em mãos dos rebeldes, que, por sua vez, convocaram os sírios a desferir um golpe decisivo contra o regime de Bashar al-Assad no primeiro dia do Ramadã.
"O exército lançou uma contraofensiva para recuperar o controle dos bairros nos quais terroristas se infiltraram", disse à AFP uma fonte dos serviços de segurança sírios, contactada de Beirute.
A televisão estatal informou que as tropas sírias, apoiadas por tanques, "limparam" o bairro de Midan, perto do centro da capital, e apreenderam um enorme arsenal após fortes combates.
Com fundo de música marcial, as imagens mostravam prisioneiros algemados, de joelhos e olhando para a parede, assim como arsenais de fuzis Kalashnikov, metralhadoras pesadas e lança-foguetes.
O Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH), uma ONG com sede em Londres, também informou sobre a queda de Khobar (leste), onde as forças de Assad realizavam varreduras, e sobre operações contrainsurgentes em andamento nos bairros de Kafar Sousse (sudoeste) e Barze (nordeste).
Também informou sobre violentos confrontos na cidade de Aleppo, a segunda maior do país.
A Síria viveu nesta quinta-feira o dia mais sangrento desde a explosão da rebelião, há mais de 16 meses, com pelo menos 300 mortos (139 civis, 98 soldados e 65 insurgentes), segundo esta ONG.
Os confrontos e a repressão aceleraram o êxodo da população. Segundo o Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (ACNUR), cerca de 30 mil sírios fugiram apenas para o Líbano nas últimas 48 horas.
O Exército Sírio Livre (ESL), formado principalmente por militares desertores, se apoderou na quinta-feira de todas as passagens fronteiriças com o Iraque (segundo as autoridades deste país) e de um posto fronteiriço com a Turquia, o de Bab al-Hawa, após violentos combates, de acordo com um fotógrafo da AFP.
Cerca de 150 combatentes fortemente armados controlam agora esta passagem, situada em frente ao posto turco de Cilvegözü, na província de Hatay, onde estão instalados muitos campos de refugiados sírios.
Um funcionário dos serviços sírios assegurou na quinta-feira à AFP que o exército havia demonstrado "moderação em suas operações", mas, desde o atentado a bomba de quarta-feira contra o edifício da Segurança Nacional, estava decidido a "empregar todas as armas em sua posse para terminar com os terroristas".
Sexta-feira sob tensão: funerais oficiais e Ramadã rebelde
Morreram no atentado de quarta-feira o ministro da Defesa, Daoud Rajha, seu vice-ministro e cunhado de Assad, Assef Shawkat, e o chefe da célula de crise criada para sufocar a revolta, Hassan Turkmeni. E nesta sexta-feira foi informado o falecimento do chefe da Segurança Nacional, Hisham Ikhtiyar, que havia ficado gravemente ferido no incidente.
Os funerais dos três primeiros estão previstos para esta sexta-feira, enquanto os rebeldes convocaram um "Ramadã da vitória", com protestos em todo o país após a oração semanal nas mesquitas.
O regime, dominado pelos alauitas, decretou que o Ramadã (mês sagrado de jejum diurno dos muçulmanos) começará no sábado, mas a oposição, majoritariamente sunita, decidiu iniciá-lo nesta sexta-feira, a exemplo da Arábia Saudita.
Na batalha diplomática, a Síria voltou a evitar na quinta-feira as sanções do Conselho de segurança da ONU, graças à Rússia e à China, que pela terceira vez vetaram estas medidas propostas pelas potências ocidentais.
A Rússia também se declarou a favor de prolongar por 45 dias e de forma incondicional a missão de observadores da ONU na Síria. Este projeto de resolução se opõe ao apresentado pela Grã-Bretanha, partidária de uma prolongação de 30 dias tendo como condição que Damasco retire suas armas pesadas das cidades.
A Rússia também indicou que havia decidido adiar a entrega de três helicópteros de combate e de um sistema de defesa antiaérea ao governo sírio até que a situação no país esteja normalizada, informou a agência russa Interfax, citando uma fonte militar-diplomática.
O embaixador russo em Paris, Alexandre Orlov, disse nesta sexta-feira que Assad estaria disposto a "partir", mas "de uma maneira civilizada". No entanto, depois de ser desmentido de forma taxativa pela televisão síria, corrigiu a declaração e a atribuiu ao pressuposto de que o presidente tivesse aceitado um acordo para a transição democrática.
Segundo o OSDH, cerca de 17.000 sírios morreram nos confrontos ou devido à repressão dos protestos desde o início da revolta contra Assad, em março de 2011.
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