Níveis detectados em alimentos além do perímetro de isolamento da usina| Foto: Toru Yamanaka/AFP

São Paulo - O Ministério da Saúde japonês informou ontem que foram encontrados níveis de radiação acima do permitido em amostras de espinafre e de leite produzidos fora do raio de 20 km de isolamento da usina nuclear de Fukushima 1, atingida há nove dias por um terremoto seguido de tsunami.

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Trata-se dos primeiros casos de contaminação de alimento por causa do acidente nuclear e reforça as preocupações sobre o alcance do vazamento em Fukushima, onde técnicos, bombeiros, policiais e eletricistas continuam trabalhando freneticamente para debelar a crise, sem maiores avanços até agora.

No caso do espinafre, as seis amostras contaminadas foram coletadas na província de Ibaraki, a até 120 km da usina. Foram encontrados na verdura concentrações de iodo-131 até 7,5 vezes maior do que o permitido pela norma japonesa, enquanto o índice de césio-137 ficou só um pouco maior do que o permitido.

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Já o leite apresentou problemas numa região a pouco mais de 30 km da usina, na própria província de Fukushima. A concentração de iodo-131 encontrada é quatro vezes maior que o permitido.

O governo afirmou que o nível de contaminação detectado não representa ameaça a saúde e que todos os outros alimentos analisados estão livres de radiação. A comercialização da produção contaminada está suspensa.

Em nota oficial, o Ministério da Saúde afirmou que, se o leite contaminado fosse consumido durante um ano, equivaleria a um exame de tomografia. O alface corresponderia a um quinto de uma tomografia.

Ainda assim, a contaminação deve ter um duro impacto na decadente indústria agropecuária do Japão, um dos maiores importadores de alimentos do mundo.

O nível de radioatividade da água potável de Fukushima também superou os níveis de segurança. Foram detectados traços de iodo na água em Tóquio e em cinco outras áreas, mas nesses casos a quantidade não excedeu os parâmetros oficiais.

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Controle na usina

Equipes de bombeiros retomaram ontem o lançamento de água a partir de canhões sobre o reator 3 da usina nuclear de Fukushima para tentar fazer a temperatura cair, em uma operação que deverá durar sete horas.

O processo de resfriamento da piscina do reator 3 é há dias a prioridade dos funcionários da central, já que ali se encontra uma grande quantidade de combustível utilizado que, com a queda do nível da água, pode se aquecer, entrar em ebulição e liberar radioatividade.

Segundo a "NHK", as autoridades enviaram para Fukushima outro tipo de canhão de água mais potente – similar ao utilizado na crise nuclear de Chernobyl –, que deverá chegar à central nas próximas horas.

Por outro lado, a Agência de Segurança Nuclear indicou que a temperatura das piscinas de combustível aumentou nos reatores 5 e 6, mas espera-se que registre queda nas próximas horas, já que as bombas de resfriamento funcionam nessas duas unidades.

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Os trabalhadores da Tokyo Electric Power Company (Tepco), a proprietária da usina, também tentam levar a eletricidade aos geradores 1 e 2, em uma crucial operação que permitiria reativar seu sistema de resfriamento.

O governo japonês admitiu que sua resposta ao terremoto e ao tsunami da semana passada poderia ter sido mais rápida. Segundo o porta-voz Yukio Edano, planos de contingência falharam em antecipar a escala do desastre.

No entanto, as condições humanitárias da costa nordeste do Japão têm sido ofuscadas pela operação que tenta evitar um vazamento de radiação em larga escala do complexo nuclear de Fukushima.

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