O primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, disse que Eluana Englaro, pivô de uma polêmica sobre a eutanásia e morta na segunda-feira após passar 17 anos em coma, foi assassinada, e que o presidente Giorgio Napolitano é um dos culpados.
"Eluana não morreu de morte natural, foi assassinada", disse o premiê conservador ao jornal Libero.
Na sexta-feira, Berlusconi assinou um decreto que proibiria os médicos de retirarem o tubo de alimentação de Eluana, conforme vontade da família e autorização judicial. Napolitano, entretanto, recusou-se a aprovar o decreto, por considerá-lo inconstitucional. "Napolitano cometeu um erro grave", disse Berlusconi, segundo outro jornal.
Depois da rejeição do decreto, o governo tentou aprovar um projeto semelhante no Parlamento, mas Berlusconi lamentou que a lei "não tenha chegado a tempo".
O político direitista afirmou ainda que Eluana, vítima de um acidente de carro que a deixou em estado vegetativo desde 1992, era "a única cidadã condenada à morte" na Itália.
Antepondo-se à posição do governo e do Vaticano nessa questão, o jornal esquerdista L'Unità publicou uma capa toda preta com as palavras "In Pace" ("em paz").
No Senado, que estava discutindo o projeto de lei enviado por Berlusconi, as bandeiras foram hasteadas a meio mastro quando chegou a notícia da morte da mulher.
A alimentação de Eluana foi suspensa na sexta-feira, e os médicos dizem que ela morreu, na segunda-feira, após uma complicação repentina. O governo considera que ela sofreu uma forma de eutanásia, o que é ilegal na Itália.
"Espero que Deus nos ajude a curar esta ferida", disse a uma TV o cardeal Angelo Bagnasco, presidente da conferência episcopal italiana, acrescentando que o país "precisa de uma lei justa, para o bem da nossa sociedade, a fim de evitar que fatos assim se repitam".
O político direitista Umberto Bossi, aliado de Berlusconi, disse que "não se pode deixar alguém morrer de fome e sede". "É algo primitivo, desumano e inaceitável", declarou.
O caso de Eluana despertou muitas comparações com o da norte-americana Terry Schiavo, que morreu em circunstâncias semelhantes em 2005, também após uma longa batalha judicial.
Ativistas católicos defenderam que a morte de Eluana seja investigada, já que a previsão era de que ela sobrevivesse durante várias semanas após a retirada do tubo de alimentação.
"Algo muito estranho aconteceu", disse Gianluigi Gigli, diretor do grupo antieutanásia "Por Eluana", na noite de segunda-feira.
Em frente à clínica de Udine onde ela morreu, pessoas passaram a noite rezando, cantando e segurando velas.
O pai dela, que passou dez anos buscando autorização judicial de diversas instâncias para permitir que a filha morresse, declarou apenas que gostaria de ficar sozinho.
Alguns italianos comuns, que passaram anos acompanhando o caso pela imprensa, manifestaram alívio com a morte dela, mesmo que fossem contrários à eutanásia.
"Estou feliz pelo sofrimento dela ter acabado, depois de chegar a um ponto onde simplesmente não havia nada a fazer", disse a romana Laura Lichieri. "Ela merecia uma morte pacífica."
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