Sem licitação, a Bolívia contratou o consórcio canadense Tecsul para projetar e construir a usina hidrelétrica de Cachuela Esperanza, no Rio Beni, um dos afluentes do Rio Madeira, próxima à divisa com o Brasil. Conforme o acordo entre o governo de Evo Morales e a Tecsul, o projeto deve ser entregue até julho de 2009, e a usina deve ser concluída em meados de 2015.
A iniciativa da gestão Evo Morales eliminou a possibilidade de o governo brasileiro levantar essa hidrelétrica como um projeto binacional e de apresentá-lo como contrapartida aos supostos prejuízos gerados pelas futuras usinas de Jirau e Santo Antonio, que serão construídas no Rio Madeira, em Rondônia.
O consórcio Tecsul também terá outra missão, encomendada pela Empresa Boliviana de Eletricidade (Ende), a estatal de energia elétrica do país. Será encarregada de elaborar estudos sobre o impacto ambiental das represas de Jirau e de Santo Antonio em território boliviano. Esses estudos custarão aos cofres públicos bolivianos US$ 8 milhões. Os contratos foram assinados no último dia 27 de agosto, em La Paz.
A decisão da Bolívia foi interpretada, no Itamaraty, como uma clara aversão a qualquer cooperação do Brasil no setor de energia elétrica - ainda mais quando se trata do aproveitamento hídrico do Rio Madeira. Nos últimos anos, o governo Evo Morales levantou uma série de obstáculos, especialmente na área ambiental, à construção das duas usinas brasileiras. O Palácio do Planalto comprometeu-se a repassar a La Paz todos os estudos sobre os impactos do lado brasileiro e assegurou que, do lado boliviano, seguramente os riscos seriam mínimos.
Entretanto, uma reunião marcada para agosto para tratar do tema foi adiada, a pedido da Bolívia, para os dias 2 e 3 de outubro. No final de agosto, o chanceler boliviano, David Choquehuanca, enviou uma queixa ao ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, de suposta invasão do território da Bolívia por técnicos brasileiros. Esses técnicos estariam realizando monitoramento ambiental relativos à construção da usina de Santo Antonio. Por fim, a Bolívia entregou à Tecsul o projeto com o qual o Brasil esperava apaziguar os ânimos do governo boliviano. A hidrelétrica de Cachuela Esperanza deverá gerar 800 megawatts, o equivalente a 12,4% da capacidade máxima das duas usinas brasileiras no Madeira.