A inflação pesa no bolso e preocupa os argentinos. Mas, apesar disso, a economia deve definir a eleição presidencial de maneira favorável à família do presidente Néstor Kirchner.

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Analistas políticos entrevistados pelo G1 nesta semana afirmam que as vitórias conquistadas na área econômica pelo governo nesses quatro anos são superiores aos problemas gerados. E quem se beneficia com isso é a primeira-dama, Cristina Kirchner, que fatura em votos a popularidade que o marido conquistou. Ela lidera as pesquisas e pode vencer já neste domingo (28), no primeiro turno.

Entre os dados positivos destacados pelos analistas, o principal é a recuperação do nível de emprego na Argentina. Em comparação com o auge da crise econômica de 2001, o desemprego foi de 17,8% para 7,7%, nesses quatro anos. Os salários também cresceram (89,4%) e o índice de pobreza caiu (de 54% para 23,4% da população).

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"O governo Kirchner melhorou a qualidade de vida dos argentinos", afirmou ao G1 o analista Dante Sica, da consultoria ABC. "O consumo aumentou e houve uma grande recuperação salarial, principalmente nos setores formais da economia."

Segundo ele, os salários do setor informal também melhoraram. E muitos empregos migraram de volta ao setor formal da economia. "Em 2001, no auge da crise, 45% dos empregos eram informais. Hoje, o índice baixou para cerca de 35%. Isto quer dizer que mais gente está com empregos de melhor qualidade e com mais segurança", diz Sica.

Para ele, o voto em Cristina Krichner está apenas referendando a administração do marido -e pedindo a continuidade desta política. "A maioria vota pelo que ele fez, e não pelo que ela promete fazer."

O comerciante Carlos López, que ficou desempregado por dois anos após a crise de 2001, diz a mesma coisa, mas com outras palavras. "Eu votarei na Cristina porque o governo atual me deu novamente a oportunidade de trabalhar."

Reflexo eleitoralA política econômica de Néstor Kircher, incluindo o programa de distribuição de renda (semelhante ao brasileiro Bolsa Família), beneficiou principalmente as camadas mais pobres da população. E, de acordo com as pesquisas eleitorais, são justamente esses argentinos que estão dando a vitória para Cristina Kirchner logo no primeiro turno.

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Mas é preciso levar em conta outros fatores, diz Sica, como a falta de organização da oposição em tirar proveito eleitoral da inflação -que levou à estratosfera o preço do tomate e de outros alimentos- e da manipulação dos índices oficiais. O governo nega interferência, mas economistas independentes e até mesmo aliados dos Kirchner no interior do país acreditam que os números da inflação foram reduzidos à metade pelo governo.

As campanhas de Elisa Carrió, a segunda colocada nas pesquisas, e de Roberto Lavagna, terceiro colocado nas pesquisas realizadas nas últimas semanas, até exploraram o tema. Mas as críticas não surtiram o efeito desejado, e Cristina manteve uma dianteira suficiente para vencer no primeiro turno.

Pedras no caminhoMas a administração Kirchner não colhe apenas elogios na área econômica. Além da inflação, houve muitas críticas por causa do aumento dos gastos públicos (que já equivalem a cerca de 24% do PIB, o Produto Interno Bruto).

Há até quem diga que a política do governo federal deixará o próximo presidente numa situação difícil, com uma dívida enorme e sem dinheiro em caixa para pagar. Outros ainda reclamam do congelamento das tarifas públicas (de gás e de transporte, principalmente), alegando que a situação é financeiramente insustentável e que o governo só está esperando a eleição passar para aumentar os preços.

"Essas críticas são pertinentes e importantes para se entender a eleição na Argentina", disse ao G1 a analista política Graciela Romer. "Mas as ações de Néstor Kirchner não foram tomadas apenas com fins eleitoreiros: foi uma necessidade de sobrevivência política."

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Romer lembra que, em 2003, quando Kirchner foi eleito, ele teve apenas 22% dos votos no país (foi a eleição em que Carlos Menem desistiu da candidatura no segundo turno, o que levou Néstor automaticamente à Presidência). "Ele precisava fazer essa política econômica, com o congelamento das tarifas, para ter governabilidade", explica a analista.

Desafios para o futuroPara ela, Kirchner deixa o governo com algumas questões pendentes. "O emprego informal caiu, mas ainda é muito alto. E os economistas já ligaram o sinal amarelo por causa do aumento dos gastos públicos. O próximo presidente vai ter de fazer mudanças no rumo econômico do país."

Outra questão importante a ser enfrentada pelo próximo presidente é a energética. A falta de investimentos durante a atual administração pode ser notada no último inverno, quando o governo se viu obrigado a racionar energia a empresas.

O problema é de simples entendimento: há mais demanda que oferta. Mas a solução, bastante complexa. No governo, há quem discuta a utilização da energia nuclear. Outro grupo insiste na construção de um gigantesco gasoduto na América do Sul, interligando a Venezuela e a Bolívia ao Brasil e a Argentina -projeto que esbarra nas delicadas relações com os radicais Evo Morales e Hugo Chávez.

E por fim há ainda uma outra questão que tirará noites de sono do próximo presidente: o que fazer com os 20% dos credores da dívida argentina que ficaram de fora das negociações já realizadas? Com a palavra, o próximo presidente.

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