Neste sábado (28), o primeiro ministro Justin Trudeau reagiu ao decreto assinado por Donald Trump proibindo a entrada de pessoas vindas de sete países de maioria muçulmana com um post no Twitter: “Para aqueles que estão fugindo da perseguição, do terror e da guerra, os canadenses lhes receberão, independentemente de qual for a sua fé. Diversidade é nossa força. Bem-vindos aos Canadá!”. As reações acontecem no mundo todo, enquanto nos EUA vários aeroportos são alvo de protestos, o maior no aeroporto John F. Kennedy, em Nova York.
Alguns canadenses que comentaram o tweet de Trudeau chegaram a questionar, com uma certa dose de ironia e preocupação, se mesmo o ministro da Imigração do país, Ahmed Hussen, um refugiado somali naturalizado canadense, não terá problemas para entrar nos Estados Unidos a partir de agora.
A Somália faz parte da lista de países cujos cidadãos estão proibidos de entrar nos Estados Unidos. Além da Somália, Iraque, Síria, Irã, Sudão, Líbia e Iêmen também fazem parte do decreto assinado pelo presidente norte-americano na sexta-feira (27).
Veja fotos do protesto no JFK, em Nova York
Com a medida que impõe uma proibição de três meses à entrada de refugiados dos sete países de maioria muçulmana, residentes dos Estados Unidos que tenham o “green card” e que tenham deixado o país ficam impedidos de retornar pelo prazo de 90 dias.
Trump diz que medida está funcionando e ONGs entram na Justiça
O presidente americano afirmou neste sábado (28) que sua ofensiva "muito estrita" contra a imigração muçulmana está funcionando "muito bem", em meio a uma crescente resistência à medida, considerada discriminatória. "Está funcionando muito bem. Vê-se nos aeroportos, vê-se em todas as partes", disse Trump a jornalistas, depois que passageiros procedentes dos países citados terem sido impedidos de embarcar em voos com destino aos Estados Unidos, gerando protestos em terminais aéreos.
"Vamos ter uma proibição muito, muito estrita e vamos ter a análise extrema que devíamos ter tido neste país há muito anos", acrescentou. Os comentários do presidente ocorreram no momento em que ele enfrenta seu primeiro processo contra as medidas, antecipando o que será uma dura batalha nos tribunais americanos.
Trump não pode ”fechar” cidades pró-imigrantes só na caneta
Leia a matéria completaA ação foi interposta pela União Americana de Liberdades Civis e outros grupos, depois que dois iraquianos foram detidos na noite de sexta-feira no aeroporto John F. Kennedy, em Nova York.
Vários protestos e detenções ocorreram em aeroportos americanos após a assinatura do decreto. Por enquanto não está claro quantos viajantes foram afetados pelas medidas de Trump, as quais considera necessárias para evitar a entrada de "terroristas islâmicos radicais" aos Estados Unidos.
Centenas de pessoas que foram pegar passageiros tiveram dificuldades para encontrá-los, pois as autoridades haviam bloqueado as principais saídas habitualmente usadas pelos viajantes, comprovou um fotógrafo da AFP.
No estacionamento de um dos terminais do JFK, várias centenas de manifestantes protestavam contra o decreto, após uma convocação de várias associações de defesa dos direitos dos imigrantes e dos refugiados, entre elas a poderosa organizaçao de defesa dos direitos civis ACLU. "Deixem-nos entrar!, Deixem-nos entrar!", gritavam centenas de manifestantes, sob a vigilância de um forte dispositivo policial.
Cinco obstáculos para o muro de Trump
Leia a matéria completa"Àqueles que estão perto de Nova York: vão agora para o Terminal 4 do JFK", tuitou o diretor de documentários Michael Moore, que tem participado de várias manifestações contra Trump.
A atriz americana Cynthia Nixon, a Miranda da série Sex and the City, também estava entre os manifestantes. Dois representantes democratas de Nova York no Congresso, Jerry Nadler e Nydia Velasquez, também participaram do protesto.
O decreto também gerou forte reação política. "Aos meus colegas: nunca mais se atrevam a me dar lições sobre a liderança moral americana se hoje silenciam", disse o senador democrata por Connecticut, Chris Murphy, em um tuíte na última hora da sexta-feira.
Seu tuíte foi postado juntamente com a agora histórica foto de 2015 de um menino sírio de três anos, Aylan Kurdi, cujo corpo sem vida foi encontrado em uma praia da Turquia, após uma fracassada tentativa de reuni-lo com parentes no Canadá para fugir da sangrenta guerra na Síria.
Netanyahu elogia ideia do muro de Trump
Trump também tem recebido respostas positivas sobre suas últimas medidas. O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, saudou neste sábado (28), em um tweet, o anúncio do presidente americano, Donald Trump, sobre a construção de um muro na fronteira com o México.
O novo presidente republicano assinou na quarta-feira (25) um decreto que fixa como objetivo "garantir a segurança na fronteira sul dos Estados Unidos com a construção imediata de um muro".
Em entrevista à emissora americana Fox News, Trump justificou sua decisão, dando como exemplo Israel que, segundo ele, conseguiu "frear em 99,9%" a imigração ilegal construindo um muro. Trump se referia à barreira de mais de 240 km que Israel terminou de construir em 2014 em sua fronteira com o Egito, por onde muitos imigrantes ilegais africanos e traficantes costumavam cruzar.
Ameaças de Trump assombram jovens imigrantes em situação irregular
Leia a matéria completa"O presidente Trump tem razão. Construí um muro ao longo da fronteira sul de Israel. Isto freou a imigração ilegal. Grande sucesso. Ideia formidável", tuitou Netanyahu, no sábado, arrematando sua mensagem com duas bandeiras, uma americana e outra israelense.
Horas depois, o porta-voz do ministério israelense das Relações Exteriores, Emmanuel Nahshon, detalhou em um tuíte que Netanyahu "se referia à nossa experiência específica no campo da segurança, que estamos desejosos de compartilhar".
"Não nos posicionamos sobre as relações entre os Estados Unidos e o México", acrescentou.
Netanyahu, à frente de um dos governos mais à direita de Israel, não escondeu sua satisfação com a eleição de Trump. Seus aliados mais nacionalistas veem na chegada de Trump à Presidência uma oportunidade única para prosseguir com a colonização da Cisjordânia e Jerusalém oriental (territórios palestinos ocupados) e, inclusive, de anexar a maior parte da Cisjordânia.
Além disso, Israel começou em 2002 a construção de um muro de separação em torno da Cisjordânia ocupada para impedir atentados palestinos. Esta barreira, que em alguns trechos alcança os 9 metros de altura, tem sido denunciada por seus detratores como um meio de confiscar terras e estabelecer uma fronteira de fato.