Lula e Kadafi -Ao longo dos oito anos de mandato o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva teve pelo menos quatro encontros com Muamar Kadafi, presidente da Líbia e principal alvo dos protestos no país. O primeiro desses encontros ocorreu em dezembro de 2003, em Trípoli. Depois disso, os dois presidentes se reuniram novamente em 2006 e por outras duas vezes em 2009. Em todos os encontros realizados, ambos criticaram os países ricos e pediram mais aproximação entre a América do Sul e a África| Foto: Mahmud Turkia/AFP

Perfil

Terrorista ontem, tolerado hoje

O excêntrico ditador líbio Muamar Kadafi, 68 anos, integra o rol de ex-inimigos do Ocidente que, de acordo com a conveniência geopolítica, de uma hora para outra se tornam aliados ou tolerados (o inverso também ocorre: vide Saddam Hussein, Osama bin Laden e talebans).

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Isolar a Arábia Saudita do incêndio político nos países árabes é a estratégia mais plausível para os Estados Unidos manterem a in­­fluência que ainda têm na região. Segundo especialistas, com a derrubada dos regimes na Tunísia e no Egito, a iminente queda do di­­tador Muamar Kadafi na Líbia e o alastramento das revoltas políticas às nações vizinhas, o regime saudita se tornou um dos últimos bastiões para garantir os interesses de Washington no Oriente Médio e norte da África.

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Na avaliação do professor de Relações Internacionais Regi­­nal­­do Nasser, da Pontifícia Universi­­dade Católica de São Paulo, a Casa Branca até agora tem se mostrado "completamente perdida".

"Resta a ela preservar a Arábia Saudita. É o grande aliado dos Estados Unidos na região, um país extenso, com enormes reservas de petróleo, considerado o mais estável por lá", observa Nasser. "A Casa Branca deve se preocupar com os sauditas, porque com os outros paí­­ses já não tem mais jeito."

Para Andrew Traumann, professor de Relações Internacionais da Unicuritiba e doutorando em História pela Universidade Fede­­ral do Paraná (UFPR), os Estados Unidos interveriam diretamente caso a revolta se espalhasse entre os sauditas. "A Casa Branca não ficaria apenas assistindo, como fez em relação a Egito e Tunísia. Uma mudança de poder ali causaria uma instabilidade sem precedentes, o preço do barril do petróleo iria disparar".

Alexsandro Pereira, coordenador do Núcleo de Pesquisa em Re­­lações Internacionais da UFPR, diz acreditar que, como existe um "efeito dominó" na região, a Ará­­bia Saudita está suscetível às re­­voltas. Entretanto, os Estados Uni­­dos, aponta, ainda "avaliam os acontecimentos para definir a me­­­­lhor estratégia".

Quanto à Líbia, os especialistas apontam diferenças significativas com relação às revoltas na Tu­­nísia e Egito. Uma delas é o fato de a ditadura de Trípoli ser extremamente fechada. "No Egito, há um fluxo grande de turistas, havia uma preocupação com a opinião pública internacional e um espaço para manifestação muito ma­­ior", comenta Traumann. "Na Lí­­bia, não: é um governo com mão-de-ferro, não há internet e a tevê estatal, a única, tem noticiado ape­­nas que os manifestantes são to­­dos ‘terroristas’."

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A iminência de uma guerra ci­­vil é vislumbrada por Nasser, principalmente pelas características dos militares líbios: "Não há entre eles uma unidade profissional cen­­tralizada, como no Egito e mes­­mo nos países ocidentais. O Kadafi fez um pacto com as tribos, que são muito importantes na Líbia, e isso também se reflete en­­tre os militares. Se houver um ra­­cha en­­tre eles, ocorre uma guerra civil".

Pereira, por sua vez, diz que é necessário aguardar os próximos acontecimentos. "É preciso identificar qual será o provável su­­ces­­sor de Kadafi, caso se confirme a sua queda. Esse sucessor po­­de ou não contribuir para as relações dos EUA com o mundo árabe."