Genebra - A Europa já trata Muamar Kadafi como ex-líder. Ontem, a Suíça não esperou nem ao menos a queda do ditador para bloquear contas dele nos bancos do país; a França deixou claro que quer uma mudança de regime na Líbia e indica que pode levar Kadafi ao Tribunal Penal Internacional; o Reino Unido alertou que prepara sanções políticas, financeiras e comerciais a Trípoli.
"Espero, de todo o coração, que Kadafi esteja vivendo seus últimos momentos como chefe de Estado", afirmou o ministro de Defesa da França, Alain Juppé, abandonando qualquer protocolo diplomático. Para ele, os ataques contra a população podem ser considerados "crimes contra a humanidade", o que implicaria um processo contra Kadafi. Tanto a França como o Reino Unido já falam em uma ação legal contra o ditador.
Juppé descartou ontem a possibilidade de intervenção militar por parte da Europa, mas defendeu o estabelecimento de uma zona de exclusão aérea sobre a Líbia. A ideia dos Estados Unidos é de que França e Itália, pela proximidade com a Líbia, coordenem e apliquem a zona de exclusão.
Para a França, o princípio da não ingerência em assuntos de outro Estado não deve ser aplicado no caso da Líbia. "Quando um governo não é capaz de proteger sua população, quando a agride, a comunidade internacional tem o dever intervir. Segundo ele, pelo menos mil mortos já teriam sido contabilizados na Líbia, mas já circulam relatos de números ainda maiores.
William Hague, ministro de Relações Exteriores do Reino Unido, também apontou que Kadafi está com seus dias contados. "As probabilidades estão muito contra ele", disse.
"A pressão aumentará muito nos próximos dias", indicou. Parte das sanções poderá ser anunciada já na segunda-feira, em um encontro em Genebra.
Contas bloqueadas
Um sinal claro da reação da Europa foi a atitude tomada ontem pela Suíça, que optou por congelar todas as contas do ditador e de sua família, alegando que o bloqueio era uma forma de evitar que o dinheiro fosse desviado para atividades suspeitas, como a compra de armas O dinheiro ficará bloqueado por três anos.
Em casos parecidos na Tunísia e no Egito, as autoridades suíças esperaram até a queda dos respectivos ditadores desses países para iniciar o processo de congelamento das contas, o que gerou críticas por parte de vítimas e de organizações não governamentais (ONGs).
Desta vez, a decisão toca pela primeira vez teoricamente um chefe de Estado no poder. Os suíços não revelaram o valor do congelamento e poucos sabem o real valor da fortuna de Kadafi. Mas o líder criou em 2006 um fundo de investimentos com US$ 70 bilhões e passou a usá-lo para comprar ações pelo planeta.
Na Suíça, banqueiros e agentes do setor financeiro estimam que o fundo seja pessoalmente controlado por Kadafi e sua família, ainda que haja a imagem de uma iniciativa de Estado. Entre as várias empresas com capital de Kadafi estão o jornal britânico Financial Times e a Juventus de Turim, um dos principais clubes de futebol da Itália.
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