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Líbios que moram na Bélgica protestam contra o que consideraram uma “passividade” europeia em relação à crise | Georges Gobet/AFP
Líbios que moram na Bélgica protestam contra o que consideraram uma “passividade” europeia em relação à crise| Foto: Georges Gobet/AFP

Genebra - A Europa já trata Muamar Kadafi como ex-líder. Ontem, a Suíça não esperou nem ao menos a queda do ditador para bloquear contas dele nos bancos do país; a França deixou claro que quer uma mu­­dança de regime na Líbia e indica que pode levar Kadafi ao Tribunal Penal Internacional; o Reino Uni­­do alertou que prepara sanções políticas, financeiras e co­­merciais a Trípoli.

"Espero, de todo o coração, que Kadafi esteja vivendo seus últimos momentos como chefe de Estado", afirmou o ministro de Defesa da França, Alain Juppé, abandonando qualquer protocolo diplomático. Para ele, os ataques contra a população podem ser considerados "crimes contra a humanidade", o que implicaria um processo contra Kadafi. Tanto a França como o Reino Uni­­do já falam em uma ação legal con­­tra o ditador.

Juppé descartou ontem a possibilidade de intervenção militar por parte da Europa, mas defendeu o estabelecimento de uma zona de exclusão aérea sobre a Líbia. A ideia – dos Estados Uni­­dos – é de que França e Itália, pela proximidade com a Líbia, coordenem e apliquem a zona de exclusão.

Para a França, o princípio da não ingerência em assuntos de outro Estado não deve ser aplicado no caso da Líbia. "Quando um governo não é capaz de proteger sua população, quando a agride, a comunidade internacional tem o dever intervir. Segundo ele, pelo menos mil mortos já teriam sido contabilizados na Líbia, mas já circulam relatos de números ainda maiores.

William Hague, ministro de Relações Exteriores do Reino Uni­do, também apontou que Kadafi está com seus dias contados. "As probabilidades estão muito contra ele", disse.

"A pressão aumentará muito nos próximos dias", indicou. Par­­te das sanções poderá ser anunciada já na segunda-feira, em um encontro em Genebra.

Contas bloqueadas

Um sinal claro da reação da Eu­­ropa foi a atitude tomada ontem pela Suíça, que optou por congelar todas as contas do ditador e de sua família, alegando que o bloqueio era uma forma de evitar que o dinheiro fosse desviado para atividades suspeitas, como a compra de armas O dinheiro ficará bloqueado por três anos.

Em casos parecidos na Tunísia e no Egito, as autoridades suíças esperaram até a queda dos respectivos ditadores desses países para iniciar o processo de congelamento das contas, o que gerou críticas por parte de vítimas e de organizações não governamentais (ONGs).

Desta vez, a decisão toca pela primeira vez teoricamente um chefe de Estado no poder. Os suíços não revelaram o valor do congelamento e poucos sabem o real valor da fortuna de Kadafi. Mas o líder criou em 2006 um fundo de investimentos com US$ 70 bi­­lhões e passou a usá-lo para comprar ações pelo planeta.

Na Suíça, banqueiros e agentes do setor financeiro estimam que o fundo seja pessoalmente controlado por Kadafi e sua família, ainda que haja a imagem de uma iniciativa de Estado. Entre as vá­­rias empresas com capital de Ka­­dafi estão o jornal britânico Fi­­nancial Times e a Juventus de Tu­­rim, um dos principais clubes de futebol da Itália.

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