Um político colombiano que passou mais de sete anos se esquivando de bombas jogadas pelos militares contra seu cativeiro na selva disse na terça-feira (3), logo após ser libertado pelas Farc, que o presidente Álvaro Uribe em nada contribuiu com o fim do seu drama.
Alan Jara, ex-governador do Departamento do Meta, foi capturado pelas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) em 2001, depois de inaugurar uma ponte, e deixou o cativeiro na terça-feira, por iniciativa da guerrilha, numa operação humanitária que teve apoio logístico do Brasil.
"De todo coração sinto que o presidente Uribe não fez nada para garantir nossa liberdade", disse Jara, de 51 anos, logo depois de pousar no aeroporto de Villavicencio,após ser resgatado no meio da selva. Ele foi o quinto refém libertado pela guerrilha em menos de uma semana.
As Farc ainda mantêm consigo 22 reféns políticos, que o grupo pretende trocar por cerca de 500 guerrilheiros presos. "Um acordo humanitário é a única forma possível de salvar as vidas dos que ainda está lá", disse Jara.
Em quase sete anos de governo, Uribe recebeu bilhões de dólares dos EUA para combater a guerrilha e o narcotráfico. Bogotá recusa-se a desmilitarizar uma área onde seria negociada a troca de prisioneiros, conforme exigem as Farc.
Jara disse que temeu pela sua vida em pelo menos quatro ocasiões, quando o Exército colombiano bombardeou o acampamento onde ele estava.
"As bombas caíam muito perto de nós", disse ele, sentado ao lado da esposa, Claudia, e do filho de 15 anos. "Na selva, o mundo está de ponta-cabeça, os rebeldes me protegiam e o Exército me alvejava (...). O medo não era de que os rebeldes me matassem, e sim o Exército."
Jara disse ainda aos jornalistas que os sequestradores preferiam matar os reféns a vê-los resgatados pelo governo. Mas afirmou que não foi maltratado, embora sofresse com a umidade da floresta e com as longas caminhadas.
Para evitar fugas, Jara era acorrentado pelos tornozelos. Ele contou que dois companheiros de cativeiro passaram dois anos acorrentados um ao pescoço do outro, como punição.
O ex-governador contou ainda que conseguia acompanhar o calendário pelo cardápio do jantar. "Dá para dizer que dia é dependendo de ser macarrão ou lentilha. Se havia arroz e feijão, então no dia seguinte era arroz com ervilhas." Às vezes, contou ele, a refeição era incrementada por tatus, macacos ou gatos caçados pelos guerrilheiros.
Analistas dizem que as Farc ofereceram a libertação de seis reféns - um ex-deputado regional ainda deve ser solto - porque querem melhorar sua imagem internacional e criar condições para uma negociação, depois dos duros golpes sofridos no último ano, como a morte de dirigentes e a deserção de milhares de combatentes.
Jara disse, no entanto, que milhares de jovens continuam aderindo às Farc. "A única solução é política", disse ele. "As Farc não foram derrotadas por nenhum meio. Não sei que percepção há por aí, mas na selva há muitos (guerrilheiros), a maioria deles jovens, e para mim a única forma de sair disso tem de ser por meio de negociações."
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