A família do menino sírio de 3 anos de idade, cujo corpo foi encontrado em uma praia na Turquia, estava em uma última e desesperada tentativa de fugir, mostra reportagem publicada pelo jornal britânico The Guardian nesta quinta-feira (3). Sua intenção era encontrar parentes no Canadá, apesar de o pedido de asilo à eles ter sido rejeitado.
A Síria já estava em guerra quando Aylan Kurdi nasceu. Ele morreu com o seu irmão Galip, de 5 anos de idade, e com a sua mãe, Rehan. Seu pai, Abdullah, sobreviveu.
Artigo: A imagem que não se pode esquecer
Leia a matéria completaEm declaração à imprensa canadense na noite desta quarta-feira (2), parentes disseram que Abdullah Kurdi telefonou para lhes dizer que a mulher e os filhos estavam mortos. Também disse que agora só queria voltar para a cidade curda natal deles, Kobani, para enterrar sua família. A cidade foi bombardeada em confrontos intensos entre o Estado Islâmico (EI, ISIS ou Daesh) e combatentes curdos, no início deste ano.
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Segundo o The Guardian, fotos dos dois irmãos foram publicadas em redes sociais. Em uma delas, Aylan e Galip, risonhos, seguram um ursinho de pelúcia; em outra, a dupla está em pé em um sofá, com o braço de Galip em torno de seu irmão mais novo.
A tia dos meninos, Teema Kurdi, é cabeleireira em Vancouver, e soube notícia por Ghuson, esposa de seu irmão Mohammad. “Ela recebeu um telefonema de Abdullah, e tudo que ele disse foi ‘minha esposa e meus dois meninos estão mortos’”, disse ao ‘National Post’.
“Eu estava tentando financiá-los. Eu tenho os meus amigos e os meus vizinhos que me ajudaram com os depósitos bancários, mas não conseguimos tirá-los [propriamente de lá], e é por isso que eles foram no barco”, disse Teema.
“Eu estava até mesmo pagando aluguel para eles na Turquia, mas é horrível a maneira como eles tratam os sírios lá”, contou.
Teema, que emigrou para o Canadá há mais de duas décadas, disse ter feito uma solicitação de refúgio para a família se juntar a ela no Canadá, mas que o pedido teria sido negado.
Seu relato foi confirmado pelo parlamentar Fin Donnelly, que afirmou ter entregue a solicitação de Teema pessoalmente ao ministro da Imigração, Chris Alexander.
Nas capas dos jornais
A imagem foi amplamente compartilhada nas redes sociais e ganhou as capas dos principais jornais de todo o mundo. A hashtag #KiyiyaVuranInsanlik (Humanidade levada pelas águas, em tradução livre), em referência à foto, foi para o topo dos “trending topics” no Twitter.
“Se essa imagem extraordinariamente poderosa de uma criança síria morta em uma praia não mudar a atitude da Europa com os refugiados, o que irá?”, questionava o título do britânico The Independent. Já o português Público justificou a publicação: “Vamos de forma paternalista proteger o leitor de quê? De ver uma criança morta à borda da água, com a cara na areia? Não sabemos se esta fotografia vai mudar mentalidades e ajudar a encontrar soluções. Mas hoje, no momento de decidir, acreditamos que sim.”
Pedidos como o feito pela cabelereira, quando bem sucedidos, permitem que refugiados se mudem para o Canadá. No entanto, eles exigem o patrocínio de pelo menos cinco cidadãos canadenses. Isso com a condição de os cidadãos fornecerem apoio financeiro e emocional aos recém-chegados.
Apenas os candidatos que tenham sido formalmente classificados como refugiados podem realizar a solicitação, e muitos curdos-sírios têm relatado dificuldades em conseguir dar andamento em seus pedidos nos campos da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) da Turquia. Este país também não emite vistos de saída aos refugiados que não possuem situação jurídica oficial.
Os dois jovens irmãos e sua mãe estavam entre pelo menos 12 sírios que morreram no barco que ia para a Grécia. A embarcação fazia parte de uma frota que saiu de Akyarlar, o ponto mais próximo à ilha grega de Kos.
Ele capotou em águas calmas, sobrecarregado pelos 17 passageiros. Corpos foram levados pelo mar até a costa da praia de Ali Hoca Point, em Bodrum. Outro bote, que transportava 16 pessoas, também virou.
A guarda costeira turca disse que cinco crianças e uma mulher tinham morrido quando o barco virou, e mais três pessoas ainda estão desaparecidas. Helicópteros ajudaram a resgatar mais 15 pessoas.
Esta semana, a guarda costeira turca relatou ter resgatado mais de 42 mil pessoas no Mar Egeu nos primeiros cinco meses de 2015. Só na semana passada, foram 2.160 pessoas. Dessas, mais de 100 foram retiradas do mar sozinhas na quarta à noite, enquanto tentavam chegar à Kos, disse a guarda costeira à AFP.
*Tradução e adaptação: Cecília Tümler