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África

Flagelados da seca

Criança queniana aguarda, em campo de refugiado, para receber alimento. Mais de 12 milhões de pessoas passam fome nas regiões atingidas pela seca na África | Reuters
Criança queniana aguarda, em campo de refugiado, para receber alimento. Mais de 12 milhões de pessoas passam fome nas regiões atingidas pela seca na África (Foto: Reuters)

Mogadíscio - Kaltum Mohamed senta-se ao lado de um pequeno montinho de terra, perdida em seus pensamentos. Ali está enterrado o corpo de um de seus filhos. Mas este não foi o único que ela perdeu. Há menos de um mês, Kaltum era mãe de cinco crianças pequenas. Mas a fome que devasta a Somália levou quatro delas em apenas três semanas. Dos cinco filhos de Kal­­tum, somente uma menina restou. Os outros morreram de desnutrição crônica bem na sua frente, sem que nada pudesse ser feito, enquanto ela e o marido fugiam para Mogadiscio levando as crianças em uma desesperada tentativa de encontrar ajuda.

Como Kaltum, milhares de pais e mães choram a morte dos filhos perdidos para a fome na Somália e nos campos de refugiados estabelecidos em países vizinhos em meio à pior seca na re­­gião em 60 anos.

Mortes

A seca e a fome na Somália mataram, em apenas 90 dias, mais de 29 mil crianças com idades inferiores a 5 anos, de acordo com estimativas do governo dos EUA, no primeiro levantamento co­­nhecido sobre o número de mortes provocadas pela crise alimentar na região do Chifre da África, lançado nesta semana.

A Organização das Nações Uni­­das (ONU) calcula que dezenas de milhares de pessoas tenham morrido em decorrência do atual período de seca. Além disso, 640 mil crianças somalis sofrem de desnutrição aguda, o que indica que o número de óbitos entre crianças pequenas aumentará ainda mais.

Kaltum e o marido tentaram deixar a área onde viviam, ao sul de Mogadiscio, a tempo de obter ajuda emergencial de alguma das poucas organizações humanitárias que operam na Somália. Eles iniciaram a jornada na região do Baixo Shabelle, declarada em es­­tado de fome pela ONU em 20 de julho.

A família de Kaltum pertence a uma tribo de nômades pastores que perdeu todos os animais que criavam por causa da seca. Quan­­do os filhos de Kaltum adoeceram, ela os levou a um hospital no Bai­­xo Shabelle, mas não tinha di­­nhei­­ro para pagar pelo tratamento.

Bloqueio

A situação na região atingida pe­­la seca e a fome na África é gravada pelo fato que a maior parte da ajuda humanitária não chega aonde mais é necessária. O grupo extremista islâmico Al-Shabab controla a maior parte do sul da Somália, nega que haja fome na região e impede o acesso de quase todos as organizações humanitárias. Somente a Cruz Verme­­lha Internacional conseguiu autorização da milícia para operar no sul da Somália.

Nesta semana, o Comitê Inter­­nacional da Cruz Vermelha (CICV) anunciou planos de mais do que dobrar seu orçamento para alimentar a população da Somália, especialmente dezenas de milhares de crianças afetadas por uma mortífera combinação de seca, violência e instabilidade política interna. A Cruz Vermelha Inter­­nacional adverte que a taxa de desnutrição entre crianças com menos de 5 anos de idade encontra-se atualmente acima de 20% e não para de aumentar.

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