O francês Jean-Marie Gustave Le Clézio foi o vencedor da edição deste ano do prêmio Nobel de literatura. A Academia Sueca premiou nesta quinta-feira (9) uma obra caracterizada, segundo sua argumentação, "pela aventura poética e o êxtase sensual".
Le Clézio, de 68 anos, é o primeiro francês a obter a distinção desde 2000, quando foi apontado Gao Xingjian, nascido na China e naturalizado. Após o prêmio, o autor foi questionado sobre se acreditava em uma suposta decadência da cultura francesa. No ano passado, a revista Time publicou uma matéria com o título "A morte da cultura francesa".
"Eu nego isso", disse Le Clézio. "É uma cultura muito rica, muito diversificada. Não há risco de declínio." o próprio escritor é um símbolo dessa diversidade: o pai dele é britânico e o autor também tem nacionalidade das Ilhas Maurício. Em uma entrevista coletiva, afirmou que a ilha no Oceano Índico é o lugar onde ele mais se sente em casa. Ele alternou sem dificuldades o francês, o inglês e o espanhol durante a entrevista.
Quando informado sobre o prêmio, o escritor lia um livro do sueco Stig Dagerman. Le Clézio disse que sentiu "uma espécie de incredulidade, e então um certo pavor, e então uma certa alegria e um certo júbilo".
O francês qualificou a argumentação da academia como "muito laudatória". "Eu não sei se mereço isso", avaliou. "Mas, no fim, por que não?"
O autor receberá 10 milhões de coroas suecas (US$ 1,4 milhão). Além disso, ganhará uma medalha de ouro e será convidado a proferir um discurso no dia da premiação, 10 de dezembro, na sede da academia.
A entidade apontou que Le Clézio explora uma humanidade "para além e sob a civilização reinante". O secretário permanente da academia, Horace Engdahl, destacou que tratava-se de um escritor de grande diversidade.
"Passou por muitas fases distintas de seu desenvolvimento como escritor e chegou a incluir outras civilizações além da ocidental em seus escritos", afirmou Engdahl. Segundo ele, a premiação ocorreu pois Le Clézio é "um grande escritor e narrador em prosa".
Engdahl foi questionado sobre como seria recebida nos Estados Unidos a premiação do francês. Em entrevista recente, ele afirmou que os norte-americanos estão muito isolados para receber a distinção e competir com a Europa pela primazia nas letras. "Que eu saiba, não existem sentimentos contra os franceses nos Estados Unidos atualmente. E além disso Le Clézio é um cosmopolita, vive parte do ano no Novo México (Estado dos EUA)."
Desde a vitória do japonês Kenzaburo Oe, em 1994, os selecionados têm sido em geral europeus. Nove deles são do Velho Continente, incluindo a britânica Doris Lessing, no ano passado. Os outros eram nascidos na Turquia (Orhan Pamuk), África do Sul (J.M. Coetzee), China (Gao Xingjian, naturalizado francês) e Trinidad e Tobago (V.S. Naipaul, naturalizado britânico). O último norte-americano a vencer foi a escritora Toni Morrison, em 1993.
Le Clézio se destacou como romancista em 1980, com Deserto. A academia apontou que nessa obra há "imagens magníficas de uma cultura perdida no deserto norte-africano, contrastadas com a descrição de uma Europa vista através dos olhos de imigrantes não desejados". Esse trabalho também foi premiado pela Academia Francesa.
A Academia Sueca destacou ainda o trabalho "ecologicamente engajado" em algumas das obras de Le Clézio, entre elas Terra Amata e La Guerre (A Guerra).
Le Clézio nasceu em Nice em 1940, e aos oito anos se mudou com a família para a Nigéria. Nesse país africano seu pai havia atuado como médico, durante a Segunda Guerra (1939-45).
O último livro de Le Clézio, de 2007, se intitula Ballaciner. A academia qualificou-o como "um ensaio profundamente pessoal sobre a história da arte do cinema e a importância do filme". O autor escreveu também obras para crianças. As informações são da Associated Press.
O minério brasileiro que atraiu investimentos dos chineses e de Elon Musk
Desmonte da Lava Jato no STF favorece anulação de denúncia contra Bolsonaro
Fugiu da aula? Ao contrário do que disse Moraes, Brasil não foi colônia até 1822
Sem tempo e sem popularidade, governo Lula foca em ações visando as eleições de 2026