A News Corp, conglomerado de mídia do magnata australiano Rupert Murdoch, perdeu ontem dois de seus altos executivos devido ao escândalo das escutas telefônicas ilegais feitas pelo recém-extinto tabloide britânico News of the World.
Caíram Rebekah Brooks, diretora-executiva da News International (braço britânico da News Corp.) e amiga próxima de Murdoch, e Les Hinton, executivo-chefe da Dow Jones e publisher do jornal Wall Street Journal. O pedido de demissão de Hinton marca a chegada da crise aos negócios do empresário nos Estados Unidos.
Os dois executivos, que apresentaram suas demissões por meio de cartas, estiveram ligados ao News of the World na época em que ocorreram as escutas ilegais.
Rebekah foi editora do jornal entre 2000 e 2003 e ocupava até hoje o posto de diretora da filial britânica da News Corp, a News International. Hinton atuou no mesmo posto, no Reino Unido, entre 1997 e 2005.
Quem assumirá o lugar deixado pela "queridinha" de Murdoch é o braço direito do magnata na Itália, Tom Mockridge, atual diretor-executivo da Sky Itália.
A renúncia de Brooks veio menos de 12 horas de pois que um príncipe saudita, que seria o segundo maior investidor da News Corp, disse em entrevista à rede de TV BBC que, se Brooks soubesse das más condutas que ocorriam no News of the World, ela deveria pedir demissão. O premiê britânico, David Cameron comentou o caso afirmando que Brooks "fez a coisa certa" ao se demitir.
Escândalo
Há anos circulam denúncias de que repórteres usavam arapongas para grampear ilegalmente telefones e caixas de recados para levantar informações exclusivas.
As proporções do escândalo cresceram quando um araponga apagou mensagens da caixa de postal do telefone da estudante Milly Dowler, 13 anos, após ela ter sido sequestrada e assassinada em 2002. Ontem, o ator Jude Law anunciou que processará o The Sun, outro tabloide britânico de Murdoch, também por causa de grampos ilegais.
Na lista de pessoas espionadas por jornalistas e detetives particulares do tabloide estão o ex-premiê trabalhista Gordon Brown e familiares do brasileiro Jean Charles, assassinado por engano pela polícia de Londres.
Brown acusou o jornal de Murdoch de usar criminosos e práticas ilegais para obter informações. Parentes do brasileiro Jean Charles chegaram a cogitar a possibilidade de processar as empresas do magnata da comunicação.
Membros da família real também tiveram seus telefones grampeados por arapongas do News of the World, incluindo o príncipe William e sua esposa, Kate.
Empresário pede desculpas e lamenta "não ter agido antes"
O magnata da mídia Rupert Murdoch pediu ontem desculpas pelo "dano causado às pessoas afetadas" no escândalo dos grampos ilegais supostamente feitos pelo tabloide The News os the World, parte de seu conglomerado da imprensa britânica.O pedido de desculpas estará em um anúncio publicado neste fim de semana pela imprensa britânica, mas que já teve seu conteúdo antecipado ontem.
Nele, o dono do conglomerado News Corporation afirma que o tabloide News of the World falhou ao não ter fiscalizado a si próprio quando sua função era justamente vigiar os demais. "Sentimos muito. O News of the World se dedicava a pedir contas dos outros e falhou quando se tratava de si mesmo", assinala a mensagem, que aparecerá hoje nos jornais britânicos The Guardian, Daily Mail, Daily Telegraph, Financial Times, The Independent, The Sun e The Times, estes dois últimos de sua propriedade.
Segundo a empresa News International, divisão britânica do conglomerado News Corporation, outros anúncios sobre o assunto serão publicados amanhã e na segunda-feira em vários jornais, entre eles Evening Standard, Independent on Sunday, Financial Times, Mail on Sunday e Wall Street Journal.
Murdoch reconhece que "desculpar-se não é suficiente" e afirma que seu conglomerado foi fundado com a ideia de que "uma imprensa livre e aberta deveria ser uma força do bem na sociedade".
Na mensagem, o magnata antecipa também que, nos próximos dias, a empresa tomará medidas concretas para resolver os assuntos pendentes neste caso.
O magnata se reuniu ontem com a família da menina assassinada Milly Dowler, cujo celular foi grampeado por um detetive contratado por jornalistas do News of the World. O detetive chegou a ouvir mensagens do celular da menina, dando falsas esperanças à família de que ela ainda estava viva.
O caso revoltou a opinião pública britânica e tornou-se o estopim da eclosão da crise, que já se arrastava desde 2006.