Murdoch conversa com jornalistas após um encontro com familiares de uma das vítimas dos grampos de seus jornais, em Londres| Foto: Paul Hackett/Reuters

Ligações

Cameron recebeu ex-editor após tê-lo demitido

O primeiro-ministro britânico, David Cameron, viu frustradas mais uma vez suas tentativas de se descolar do escândalo de grampos no hoje extinto News of the World. Segundo dados divulgados pelo próprio governo, o político recebeu em Chequers – residência oficial de campo – o ex-editor do tabloide Andy Coulson em março, apenas dois meses após a demissão do jornalista como chefe das comunicações de seu Gabinete.

A informação veio à tona depois que o governo divulgou documentos detalhando todos os encontros de Cameron com proprietários de jornais e executivos.

O encontro evidencia a disposição do premiê em manter os laços com Coulson. Cameron aceitou a contragosto a demissão do jornalista após semanas de denúncias sobre uso de grampos ilegais no tabloide na época em que Coulson era editor.

" É mais uma demonstração da incrível falta de julgamento de David Cameron. Ele recebeu Andy Coulson em Chequers depois da segunda-chance dada a Coulson, nas palavras do primeiro-ministro, não ter funcionado", afirmou o porta-voz do opositor Partido Trabalhista, Ivan Lewis .

"David Cameron pode achar que é um bom dia para enterrar as más notícias mas agora ele tem um número ainda maior de questões para resolver", completou.

Ainda de acordo com os documentos, o magnata Rupert Murdoch foi o primeiro executivo a conseguir uma audiência com o recém-empossando premiê em maio de 2010, o primeiro dos mais de 20 encontros entre os dois.

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A News Corp, conglomerado de mídia do magnata australiano Rupert Murdoch, perdeu ontem dois de seus altos executivos devido ao escândalo das escutas telefônicas ilegais feitas pelo recém-extinto tabloide britânico News of the World.

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Caíram Rebekah Brooks, diretora-executiva da News Interna­­tio­­nal (braço britânico da News Corp.) e amiga próxima de Mur­­doch, e Les Hinton, executivo-che­­fe da Dow Jones e publisher do jornal Wall Street Journal. O pedido de demissão de Hin­­ton marca a chegada da crise aos negócios do empresário nos Esta­­dos Unidos.

Os dois executivos, que apresentaram suas demissões por meio de cartas, estiveram ligados ao News of the World na época em que ocorreram as escutas ilegais.

Rebekah foi editora do jornal entre 2000 e 2003 e ocupava até hoje o posto de diretora da filial britânica da News Corp, a News In­­ternational. Hinton atuou no mesmo posto, no Reino Unido, en­­tre 1997 e 2005.

Quem assumirá o lugar deixado pela "queridinha" de Murdoch é o braço direito do magnata na Itália, Tom Mockridge, atual diretor-executivo da Sky Itália.

A renúncia de Brooks veio me­­nos de 12 horas de pois que um príncipe saudita, que seria o se­­gundo maior investidor da News Corp, disse em entrevista à rede de TV BBC que, se Brooks soubesse das más condutas que ocorriam no News of the World, ela deveria pedir demissão. O premiê britânico, David Ca­­meron comentou o caso afirmando que Brooks "fez a coisa certa" ao se demitir.

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Escândalo

Há anos circulam denúncias de que repórteres usavam arapongas para grampear ilegalmente telefones e caixas de recados para levantar informações exclusivas.

As proporções do escândalo cresceram quando um araponga apagou mensagens da caixa de pos­­tal do telefone da estudante Milly Dowler, 13 anos, após ela ter sido sequestrada e assassinada em 2002. Ontem, o ator Jude Law anun­­ciou que processará o The Sun, ou­­tro ta­­bloide britânico de Murdoch, tam­­bém por causa de grampos ilegais.

Na lista de pessoas espionadas por jornalistas e detetives particulares do tabloide estão o ex-premiê trabalhista Gordon Brown e familiares do brasileiro Jean Char­­les, assassinado por engano pela polícia de Londres.

Brown acusou o jornal de Mur­­doch de usar criminosos e práticas ilegais para obter informações. Pa­­rentes do brasileiro Jean Char­­les chegaram a cogitar a possibilidade de processar as empresas do magnata da comunicação.

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Membros da família real também tiveram seus telefones grampeados por arapongas do News of the World, incluindo o príncipe Wil­­liam e sua esposa, Kate.

Empresário pede desculpas e lamenta "não ter agido antes"

O magnata da mídia Rupert Murdoch pediu ontem desculpas pelo "dano causado às pessoas afetadas" no escândalo dos grampos ilegais supostamente feitos pelo tabloide The News os the World, parte de seu conglomerado da imprensa britânica.O pedido de desculpas estará em um anúncio publicado neste fim de semana pela imprensa britânica, mas que já teve seu conteúdo antecipado ontem.

Nele, o dono do conglomerado News Corporation afirma que o tabloide News of the World fa­­lhou ao não ter fiscalizado a si próprio quando sua função era justamente vigiar os demais. "Sentimos muito. O News of the World se dedicava a pedir contas dos outros e falhou quando se tratava de si mesmo", assinala a mensagem, que aparecerá hoje nos jornais britânicos The Guardian, Daily Mail, Daily Telegraph, Financial Times, The Independent, The Sun e The Times, estes dois últimos de sua propriedade.

Segundo a empresa News In­­ternational, divisão britânica do conglomerado News Corpora­­tion, outros anúncios sobre o as­­sunto serão publicados amanhã e na segunda-feira em vários jornais, entre eles Evening Stan­­dard, Independent on Sunday, Fi­­nancial Times, Mail on Sunday e Wall Street Journal.

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Murdoch reconhece que "desculpar-se não é suficiente" e afirma que seu conglomerado foi fun­­dado com a ideia de que "uma im­­­­prensa livre e aberta deveria ser uma força do bem na sociedade".

Na mensagem, o magnata an­­tecipa também que, nos próximos dias, a empresa tomará medidas concretas para resolver os assuntos pendentes neste caso.

O magnata se reuniu on­­tem com a família da menina assassinada Milly Dowler, cujo celular foi grampeado por um detetive contratado por jornalistas do News of the World. O detetive chegou a ouvir mensagens do celular da menina, dando falsas esperanças à fa­­mília de que ela ainda estava viva.

O caso revoltou a opinião pública britânica e tornou-se o estopim da eclosão da crise, que já se arrastava desde 2006.

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