Imagem de satélite mostra a usina de Fukushima danificada depois do terremoto seguido de tsunami do último dia 11| Foto: Vasily Fedosenko/Reuters

Exclusão

Isolamento pode durar centenas de anos

As zonas de exclusão no entorno de usinas nucleares danificadas podem permanecer isoladas durante centenas de anos. Elementos radioativos liberados no meio-ambiente, como o césio, contaminam solo, água, animais e vegetais. O espaço só pode ser reaproveitado no caso de instalação de uma nova usina nuclear.

"Os elementos radioativos têm uma vida muito longa. O césio, por exemplo, só desaparece totalmente da atmosfera em cerca de 300 anos", calcula Ricardo Goulart, físico-médico do Hospital Angelina Caron. "Se chove, essa água contaminada vai para o solo. Tem ainda o animal que pode comer vegetal contaminado. E a gente pode consumir essa carne, o leite."

Bianca Maciel, supervisora do Hospital São Paulo, lembra do acidente de Chernobyl, em 1986. "Passados 25 anos, a cidade foi reaberta para visitação. Mas perto da usina você só pode ficar durante 13 minutos, e isso porque existe um enorme aparato de contenção."

O acidente de Chernobyl, considerado o pior até hoje, foi enquadrado como nível 7 de gravidade. O de Fukushima foi elevado a nível 5 na última sexta-feira.

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Casa abandonada na zona de exclusão no entorno da usina de Chernobyl
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Eles já foram alçados à condição de heróis nacionais no Japão. São cientistas, engenheiros, físicos, bombeiros e militares que, enclausurados num ambiente completamente comprometido, tentam evitar o desastre total na usina nuclear de Fukushima, a mais afetada pelo terremoto seguido de tsunami do último dia 11. Todo o sacrifício pode ter um preço alto: a própria vida.

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"Eu acredito que esses trabalhadores estão condenados. Se viverem alguns anos, vai ser muito", avalia Ricardo Goulart, físico-médico especialista em radioterapia do Hospital Angelina Caron. "Eles certamente vão sofrer da chamada síndrome aguda da radiação, quando uma pessoa fica exposta a um nível muito alto mesmo num intervalo de tempo pequeno. De imediato, é bem provável que sofram náuseas e tenham diminuição de leucócitos no sangue. Às vezes, chegam à morte em semanas."

O pessimismo é compartilhado por Bianca Maciel, supervisora de radioproteção em medicina nuclear do Hospital São Paulo. "Com certeza eles estão muito sujeitos aos efeitos biológicos da radiação, como o câncer por exemplo", afirma. "Na minha área, a gente já considera que eles vão ter esses efeitos."

Para o especialista em física nuclear e professor da Universida­­­de Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) Sergei Paschuk, ainda não é possível fazer qualquer avaliação nesse sentido (leia no texto abaixo).

Até pelo próprio isolamento da área, são escassas quaisquer informações precisas sobre a operação na usina. A princípio, 50 homens foram designados para impedir o vazamento de material radioativo à atmosfera, o que causaria uma catástrofe de proporções incalculáveis. Dias depois, o número passou a 180. O real esquema de revezamento a que são submetidos também não é claro.

De concreto, o governo japonês informou que os níveis de radiação a que os técnicos estavam expostos chegava ao equivalente a 16.000 radiografias de tórax – ou 8 sieverts por hora, que é a unidade de medida para a quantidade de radiação absorvida. Com a absorção de 0,05 sievert, por exemplo, já ocorrem mudanças nas células sanguíneas. Com 0,75, o cabelo pode cair. A partir de 4 sieverts, o risco é de morte.

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"Não tem como falar que os trabalhadores de Fukushima não estão sujeitos à radiação. As roupas de chumbo que usam atenuam os efeitos, mas não blindam totalmente. Imagine uma lâmpada muito forte. Se você colocar um tecido na frente dela, a luz pode enfraquecer um pouco, mas ainda vai passar ", compara Bianca Maciel. "Se os técnicos fossem usar uma roupa que os deixasse 100% seguros, eles sequer conseguiriam sair do lugar por causa do peso, de tanto chumbo."

O físico-médico Ricardo Goulart lembra ainda que mesmo quem fica exposto a níveis baixos de radiação pode desenvolver doenças. "Nesse caso, a gente fala em probabilidade de ocorrer uma mutação das células e o consequente aparecimento de tumores." Em Hiroshima e Nagasaki, as cidades devastadas por bombas atômicas lançadas pelos EUA, pessoas desenvolveram câncer muitos anos depois dos ataques, recorda.