O chanceler iraquiano, Hoshyar Zebari, acusou nesta segunda-feira a Síria e outros países vizinhos do Iraque de não fazerem o suficiente para impedir a ação de extremistas em suas fronteiras. A declaração foi feita no dia seguinte a dois atentados simultâneos que deixaram pelo menos 155 mortos e mais de 500 feridos em Bagdá, na ação mais violenta no país nos últimos dois anos.
Nesta segunda-feira, equipes de resgate encontraram os corpos de 24 crianças mortas num ônibus que deixava as instalações de uma creche atingida por uma das explosões que devastaram o centro de Bagdá no domingo.
Enquanto isso, os iraquianos sepultavam os mortos no duplo atentado suicida. Funerais ocorreram em vários pontos de Bagdá, que está com a segurança reforçada, o que piorou o trânsito na hora do pico matinal.
Zebari comparou os atentados de domingo com outro ataque similar, ocorrido em 19 de agosto, em Bagdá, que deixou 87 mortos. As duas ações ocorreram na mesma região, próxima à Zona Verde, considerado o ponto mais seguro da capital, onde ficam edifícios governamentais e embaixadas.
Os atentados de agosto marcaram o início da crise entre a Síria e o Iraque. Na época, Damasco negou-se a extraditar dois membros do antigo partido governista iraquiano, o Baath, acusados de envolvimento na ação. O governo sírio disse que o Iraque não tem provas que respaldem as acusações, qualificadas de "imorais" e "políticas".
"Nós não acusamos a Síria, acusamos os membros do Baath, assim como a proteção que é dada a eles e as instalações que lhes são fornecidas, porque todas essas coisas são responsabilidade dos países vizinhos", disse Zebari.
Até agora, nenhum grupo reivindicou a autoria dos ataques de domingo. Como os veículos utilizados na ação passaram por várias barreiras policiais, o governo disse que abrirá uma investigação interna na polícia.
"Os países vizinhos estão obrigados a respaldar a estabilidade no Iraque e isso não está ocorrendo", acusou Zebari. Ele também criticou os resultados da última reunião de ministros de Interior dos países que fazem fronteira com o Iraque, realizada no início do mês, no Egito.
Para Zebari, os resultados "não estiveram no nível requerido". O chanceler reconheceu que continuam existindo divergências com a Síria, apesar das quatro rodadas de diálogo já ocorridas e da mediação feita pelo governo da Turquia.
O primeiro-ministro iraquiano, Nouri al-Maliki, culpou a rede extremista Al-Qaeda e também partidários do regime do ex-ditador Saddam Hussein pela violência. Ele afirmou que os responsáveis serão punidos. Para Maliki, esses insurgentes desejam impedir as eleições em janeiro.
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, telefonou para Maliki para manifestar seu pesar pela violência. Os ataques coordenados foram os mais mortíferos desde que uma série de atentados com caminhões no norte do Iraque matou quase 500 pessoas em agosto de 2007. Em Bagdá, o caso foi o pior desde uma série de atentados contra bairros xiitas em abril de 2007 que matou 183 pessoas.