A Liga Árabe pediu na quarta-feira ao governo de Muamar Kadafi que detenha os ataques contra a população, e disse que cogitará a imposição de uma zona de exclusão aérea em toda a Líbia, que foi suspensa da organização.
Ministros árabes reunidos no Cairo rejeitaram, no entanto, qualquer intervenção militar estrangeira na Líbia, onde Kadafi tenta debelar a mais sangrenta revolta da atual onda de rebeliões no mundo árabe. Os ministros reiteraram sua condenação ao uso da força pelo governo líbio.
"Temos de salvar o povo da Líbia, e é por isso que apelamos às autoridades líbias para que cessem os ataques contra a população da Líbia", disse o secretário-geral Amr Moussa a jornalistas. "A Liga Árabe não vai ficar de mãos atadas enquanto o sangue do povo irmão da Líbia é derramado", acrescentou.
Uma das medidas cogitadas é a adoção de uma zona de exclusão aérea, implementada em conjunto com a União Africana, segundo resolução conjunta lida por Moussa.
Os países ocidentais parecem relutantes com a possibilidade de intervenção militar na Líbia. Os Estados Unidos estão enviando navios de guerra para o país, mas o secretário de Defesa, Robert Gates, advertiu que a imposição de uma zona de exclusão aérea implicaria ataques prévios à Líbia, para destruir suas defesas antiaéreas.
A resolução árabe pede que o governo líbio atenda às "reivindicações legítimas do povo líbio" e pare o derramamento de sangue. Solicita também que Trípoli suspenda as restrições à imprensa e à telefonia celular, e que permita a entrega de ajuda.
Repetindo termos usados na época da invasão norte-americana do Iraque, em 2003, a Liga Árabe pediu "a preservação da unidade territorial e da paz civil na Líbia". A resolução diz que o país ficará suspenso da entidade até que as exigências citadas no texto sejam cumpridas.
"A situação na Líbia é lamentável, e não é correto que a aceitemos ou que convivamos com ela", disse Moussa na sessão de abertura.
Moussa, um ex-chanceler egípcio, pretende se candidatar para a Presidência do seu país nas eleições provocadas pela renúncia do ditador Hosni Mubarak, em 11 de fevereiro, após 18 dias de intensos protestos populares. A revolução egípcia, como outros protestos em toda a região, foi desencadeada por uma revolta que expulsou o ditador tunisiano Zine al Abidine Ben Ali do poder, em janeiro.
"O povo árabe vai enfrentar a tirania porque ela é dolorosa, rejeitada e insultante", disse Moussa. "Esta é a primeira reunião de uma nova era, da era da revolução."
O chanceler iraquiano, Hoshiyar Zebari, afirmou no discurso de abertura que a liderança da Líbia deve tomar decisões corajosas para conter a violência e respeitar o "direito legítimo" do povo.
Zebari pediu um minuto de silêncio pela memória dos árabes mortos na atual onda de rebeliões, que depois de varrer a Tunísia e o Egito se disseminou também para Iêmen, Bahrein e Omã, além da Líbia.
"Esperamos que o povo líbio possa superar estas condições difíceis, e que os líderes da Líbia assumam posições corajosas para impedir derramamento de sangue e respeitar os legítimos anseios e direitos do seu povo a viver em uma nação livre e democrática", disse Zebari.
O representante líbio na Liga Árabe é um dos diplomatas líbios que têm abandonado o regime de Kadafi. A delegação líbia no Cairo afirmou representar a vontade popular, e condenou "os crimes hediondos contra cidadãos desarmados".
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