Depois de um dia inteiro de compromissos com o presidente iraniano Mahmud Ahmadinejad e de quase uma hora de conversa com o líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou à noite deste domingo (16), em Teerã, sem poder anunciar o fim do impasse entre o Irã e a Agência Internacional de Energia Nuclear (Aiea), das Nações Unidas, que exige a abertura das instalações nucleares do Irã a inspetores internacionais. A tentativa de mediação de Lula é vista como última chance de o governo iraniano evitar novas sanções econômicas ao país.

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Lula e Ahmadinejad se encontraram de manhã no Palácio Presidencial, com a presença dos chanceleres dos dois países. A entrevista coletiva que dariam em seguida foi cancelada por decisão do presidente brasileiro, que não queria falar com a imprensa sem ter algo concreto para anunciar. Há dois dias, Lula disse em Moscou que avaliava em 99,9% as chances de sucesso de sua missão. Às 21h, ao sair do Hotel Steghlal para jantar com Ahmadinejad, Lula disse apenas que o nível de otimismo aumentou.

Após o encontro com Ahmadinejad, Lula almoçou com o aiatolá Khamenei. Segundo a agência de notícias Irna, do governo iraniano, o líder supremo elogiou o Brasil por ter adotado posturas independentes "ao negociar com as politicas arrogantes dos Estados Unidos nos últimos anos". Sobre as negociações em torno do programa nuclear iraniano, nenhuma palavra.

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Lula também visitou Ali Larijanio, presidente da Assembleia Consultiva Islâmica, onde, novamente evitou o contato com a imprensa. No fim da tarde, os presidentes dos dois países encerraram o 14º Encontro Empresarial Brasil-Irã. No principal centro de convenções de Teerã, trocaram promessas de cooperação econômica duradoura, com incentivo ao comércio exterior e à troca de tecnologia. O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, não participou do evento porque passou o dia inteiro envolvido nas negociações com autoridades iranianas em torno da questão nuclear.

No discurso aos empresários, o presidente do Irã se referiu a Lula como "amigo e irmão". Fez muitas críticas à ordem econômica mundial, aos países ricos, ao sistema financeiro e às bolsas de valores. "Nossa aproximação assegurará a segurança e a paz mundial", disse Ahmadinejad, para quem a economia capitalista está chegando ao fim do caminho. Lula, segundo Ahmadinejad, "tem credibilidade para corrigir a ordem prevalente no mundo". O presidente do Irã não fez qualquer menção ao principal motivo da visita de Lula ao Irã, a tentativa de acordo com a Aiea sobre a questão nuclear.

Lula preferiu centrar o discurso no potencial da parceria econômica entre os dois países. Ressaltou a necessidade de o Hemisfério Sul diversificar o comércio e reduzir a dependência das vendas para os países ricos. Disse que o Brasil está disposto a ajudar o Irã a aumentar sua independência alimentar com pesquisas na produção rural. Anunciou a abertura de uma linha de crédito de 1 bilhão para a exportação de alimentos do Brasil para o Irã. "Não faz sentido que os negócios de nossas empresas dependam apenas de bancos estrangeiros", disse Lula.

Lula participa nesta segunda-feira (17) da sessão de abertura da 14ª Cúpula do G15, grupo formado por países não alinhados. A expectativa é de que só então sejam anunciados os resultados de suas gestões junto ao presidente do Irã sobre a questão nuclear. As conversas tiveram como base a proposta da Aiea para que o Irã aceite trocar urânio enriquecido a 3,5% no país islâmico por combustível nuclear, o urânio enriquecido a 20%. A França surge como o mais provável fornecedor desse combustível. Com esse nível de enriquecimento, o urânio não teria condições de ser usado na fabricação de bombas atômicas.

No início da tarde, Lula embarca para a Espanha. O último compromisso do presidente brasileiro neste domingo em Teerã foi o jantar com Ahmadinejad. Lula deixou o Hotel Steghlal às 21h, sem se encontrar com o diretor-geral do Conselho de Segurança Nacional do Irã e principal negociador do programa nuclear, Said Jalili, como esperavam os jornalistas que acompanham a viagem do presidente brasileiro. O ministro da Defesa do Brasil, Nelson Jobim, que integra a comitiva, disse que Jalili esteve no encontro ampliado de Lula com Ahmadinejad pela manhã, mas evitou fazer comentários sobre as negociações. Ao ouvir dos repórteres que estavam todos "agoniados" com a falta de noticias, Nelson Jobim resumiu o ânimo da comitiva presidencial: "Eu também".

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