Os macacos-pregos (Cebus apella) provavelmente não iriam tão longe a ponto de endossar a máxima segundo a qual é melhor dar que receber, mas eles parecem gostar tanto de fazer o bem ao próximo quanto os seres humanos, sugere uma nova pesquisa. Pesquisadores da Universidade Emory, nos Estados Unidos, verificaram que os símios deixam de lado o egoísmo quando o assunto é comida, ao menos na maior parte das vezes. Confrontados com a escolha entre receberem sozinhos uma guloseima ou fazer com que um parceiro também a ganhe, os bichos normalmente preferem a segunda opção.
O experimento, cuidadosamente bolado, é obra do primatólogo Frans de Waal e seus colegas da Emory e está descrito na edição desta semana da revista científica "PNAS". Waal, de origem holandesa, é um dos principais pesquisadores a estudar a origem evolutiva das chamadas emoções morais - empatia, compaixão, senso de justiça e sentimentos assemelhados - nos parentes mais próximos da humanidade. Waal normalmente trabalha com chimpanzés e bonobos (ou chimpanzés-pigmeus, como também são conhecidos), mas os macacos-pregos, comparativamente mais distantes da nossa linhagem, também têm cérebro avantajado e estrutura social complexa, o que favorece esse tipo de pesquisa.
Transações comerciais
Na pesquisa que acaba de ser publicada, Waal e seus colegas trabalharam com oito fêmeas de macaco-prego criadas em cativeiro há anos e já habituadas a lidar com "dinheiro". Explica-se: um dos modelos experimentais mais bem-sucedidos da primatologia envolve o treinamento dos bichinhos para que eles troquem objetos simbólicos, vagamente parecidos com fichas de pôquer, por coisas que são do interesse deles - comida, por exemplo.
Mais especificamente, os pesquisadores do centro de primatologia da universidade americana treinaram os bichos a usar dois tipos de ficha. Trocando uma delas, o "comprador" ficava com a comida (pedaços de fruta) apenas para si, enquanto outro animal, ali ao lado, não recebia nada. Usando a outra, tanto o dono do "dinheiro" quanto o outro macaco (aliás, macaca, já que estamos falando de fêmeas) eram igualmente recompensados.
O resultado foi inequívoco: na maioria dos casos, as símias preferiam a opção que lhes permitia dar uma mãozinha para os colegas. O efeito aumentava se a companheira em questão era membro do mesmo bando, e ficava ainda mais gritante se era aparentada à "compradora". Por outro lado, curiosamente, desaparecia se as macacas não conseguiam se ver, e era menos pronunciado se um bicho não conhecia o outro.
Para os pesquisadores, a explicação mais provável do fenômeno é que os primatas têm algum grau de empatia com o próximo, o que os leva a desejar beneficiá-lo se ele está visível - um dos indícios disso é que os macacos generosos se viravam para o colega no experimento, enquanto os egoístas davam as costas para ele. O achado é mais uma indicação de que o interesse pelos outros não é uma característica exclusiva dos seres humanos.
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