A página impressa anda em farrapos nos últimos tempos. Livros, revistas, jornais —todos tiveram de encarar questões existenciais na era digital. Ainda assim, as bibliotecas sobrevivem, às vezes nos lugares mais improváveis.
Jeff Lee e Ann Martin trabalharam por duas décadas em uma livraria no Colorado, enquanto planejavam o sonho que agora estão tornando realidade: uma biblioteca dedicada ao oeste dos EUA com acomodações para hóspedes. O local é uma casa de fazenda abandonada em uma cidade-fantasma a cerca de duas horas de Denver.
Ao longo de anos de planejamento, o casal gastou cerca de US$ 250 mil em uma coleção de 32 mil livros. Livros sobre mineração e comércio de peles, sobre indígenas e caubóis, sobre apicultura e mariposas. Eles estão começando agora a reforma das seis edificações da fazenda, mas concluir o projeto vai requerer tempo e alguns milhões de dólares.
O jornal “The New York Times” mostrou um vislumbre do que eles planejam para o retiro no meio das Montanhas Rochosas: uma biblioteca em um celeiro. Pessoas pintando aquarelas na varanda. Jantares compartilhados no refeitório. Cabanas iluminadas com lanternas, e leitores dentro delas, fazendo o que os leitores fazem.
Lee disse que teve de encarar questões sobre a relevância de um projeto como o seu na era digital. “Quando eu e Ann começamos, na metade dos anos 1990, não imaginamos que um dos possíveis problemas fosse a morte do livro.”
No entanto, eles concluíram que a biblioteca e o cenário que a abriga tornaram-se ainda mais importantes agora. “Este lugar oferecerá uma conexão com a natureza, mesmo que os visitantes decidam não ler um livro.”
Os leitores de Jiaojiehe, na China, encontram essa conexão de forma automática. O premiado arquiteto Li Xiaodong se voltou a um abundante recurso local na hora de projetar uma biblioteca para essa pequena aldeia perto de Pequim: revestiu as paredes e o teto com galhos de árvores frutíferas.
Na descrição do “New York Times”: “Os finos galhos são dispostos em fileiras verticais, e sua forma irregular permite que a luz se infiltre na sala de leitura da biblioteca ao mesmo tempo que mantém a edificação fria no verão e aconchegante no inverno”.
A serenidade atrai pessoas que buscam escapar de Pequim —um dos objetivos da biblioteca, já que restam apenas 50 casas habitadas na aldeia cada vez menos povoada. “O lugar é especial”, disse Li Wenli, vendedora de seguros em Pequim. “Na cidade, uma biblioteca parece ser artificialmente silenciosa. Você fica pensando que deve manter o silêncio porque todo mundo mais está quieto. Aqui, a paz é natural”.
A paz provavelmente não está na mente das pessoas que visitam uma das mais tradicionais salas de leitura de Nova York, a Community Bookstore, de Brooklyn. Caos seria um termo mais preciso.
Livros e mais livros, recolhidos durante décadas, empoeirados e mofados, empilhados sem ordem específica. Talvez 60 mil deles. Talvez 100 mil. O dono, John Scioli, sabe onde todos estão, mesmo que ninguém mais saiba. É um paraíso para as pessoas que gostam de folhear.
“Você nunca sabe o que vai encontrar aqui, e essa é a atração”, disse um frequentador, Gregory Ronan. “Não é um lugar a que você vá com um livro específico em mente, mas, sim, com os livros em geral”.
Porém, essa era está chegando ao fim. Scioli vendeu o imóvel. Ele tem um ano para transferir seu acervo. “Admito sem problemas que sou uma dessas pessoas que juntam coisas”, disse. “Eu tinha medo de morrer sob uma pilha de livros, qualquer dia desses, e que ninguém me encontrasse”.