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Quatro cavalheiros envoltos em capas idiossincráticas espiam através do que parece ser uma escotilha aberta para a distante Terra —um planeta tão repleto de pináculos pontiagudos que parece feito por uma máquina.

O significado da cena —o Sol brilhante acima e uma pálida Lua crescente abaixo da esfera terrestre— sugere que esses são os grandes astrônomos da história, engajados em discussões sobre o Universo. Eles estão posicionados, porém, em um morro cheio de mato, o que leva à questão: onde estão exatamente?

A pintura consta em uma tradução francesa do século 15 da obra "De Proprietatibus Rerum" [sobre as propriedades das coisas], datada de 1240, de autoria de Bartholomeus Anglicus, um dos primeiros precursores da enciclopédia moderna.

A imagem, de autor desconhecido, é reveladora: ao mesmo tempo enigmática e precisa, trata-se de uma representação do Cosmos feita há 600 anos, numa espécie de protoficção científica. Essa é uma das cerca de 300 imagens do meu novo livro, "Cosmigraphics: Picturing Space Through Time" [cosmografia: retratando o Espaço através do tempo], uma pesquisa sobre os 4.000 anos de tentativas de representar o Universo em formas gráficas, seja em manuscritos, pinturas, gravuras ou livros, até chegar às simulações de supercomputadores do século 21.

No "Superaglomerado de Laniakea", por exemplo, o astrônomo R. Brent Tully utiliza um supercomputador para visualizar linhas de fluxo gravitacional em uma extensão de espaço-tempo com diâmetro superior a 500 milhões de anos-luz.

Talvez o mais extraordinário conjunto de imagens que retratam as origens do espaço-tempo seja de 1573. Descobertas em meados do século 20 em um caderno na Biblioteca Nacional da Espanha, foram pintadas pelo português Francisco de Holanda, aluno e amigo de Michelangelo.

Em uma imagem, uma série de triângulos alongados representa a santíssima trindade, com as letras gregas alfa e ômega no topo e a expressão "Fiat Lux" [faça-se luz] logo abaixo. Envoltos em chamas, eles se esticam para baixo para uma espécie de vaso de barro. As imagens são surpreendentemente modernas.

Em outra página, o Criador, rodeado de estrelas, assume uma forma material, centrando-se em um único planeta. Isso deu origem às múltiplas esferas cristalinas aninhadas que, durante mais de 15 séculos, foram consideradas o sustentáculo dos planetas, do Sol e da Lua em suas trajetórias, com a Terra como núcleo. Esse modelo cosmológico foi proposto pela primeira vez por Aristóteles e posteriormente modificado e ampliado por Ptolomeu no século 2° da nossa era.

No final, Holanda retrata a geometria de formas rotatórias movidas pelo comando luminescente de Deus. Um Sol gigante envolve a minúscula Terra em um raio que projeta uma sombra. Essa obra mostra uma perspicácia impressionante: apesar da crença na época de que o Sol girava em torno da Terra, ele na verdade domina a imagem, indicando que o artista teria compreendido que o Sol é o centro de nosso sistema planetário.

A imagem é um dos vários retratos renascentistas e medievais do modelo cósmico que parecem exibir um tipo de intuição pré-cognitiva do que Nicolau Copérnico propôs em 1543 —o conceito revolucionário do sistema planetário heliocêntrico. Apesar de Holanda ter pintado as imagens 30 anos depois da morte de Copérnico, o heliocentrismo ainda levaria pelo menos um século para ser aceito, e é improvável que o artista tivesse a intenção de defender essa teoria, mesmo se a conhecesse.

O livro também apresenta meditações visuais do século 18 sobre o possível traçado da Via Láctea —como o trabalho do astrônomo Thomas Wright, que em 1750 chegou a conclusões sobre a forma de disco achatado de nossa galáxia. Wright também descobriu outro conceito revolucionário: um Cosmos multigaláctico.

Em nossa compreensão contemporânea de espaço-tempo, espirais de estrelas em turbilhão brilham até os limites do visível. Embora o centro não se sustente nessa visão, tampouco a anarquia se mantém: ficamos com um Universo espongiforme de aglomerados de galáxias espumando ao longo dos filamentos de uma espécie de teia de matéria escura. Tudo se parece com a visualização da internet.

Então onde tudo isso termina? Talvez uma imagem do século 14 forneça a pista: um afresco no teto da igreja Chora, em Istambul, retrata uma figura humana (evidentemente usando um tipo de capacete espacial). Ficou conhecida como "O Anjo do Senhor Enrolando o Pergaminho Celestial no Final dos Tempos".

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