A França e a Grã-Bretanha, primeiras a lançar ataques aéreos contra a Líbia em coalizão com os Estados Unidos, disseram na terça-feira que a Otan precisa intensificar os bombardeios ao armamento pesado de Muamar Kadafi para proteger os civis.
A Otan assumiu as operações em 31 de março, mas o intenso ataque governamental sobre a cidade sitiada de Misrata, no oeste líbio, prosseguiu, e relatos dão conta de centenas de civis mortos.
A crítica de Londres e Paris se seguiu a um novo bombardeio em Misrata na segunda-feira e ao fracasso de uma iniciativa de paz da União Africana.
Ecoando queixas dos rebeldes, o ministro francês das Relações Exteriores, Allain Juppé, declarou à rádio France Info sobre os ataques da Otan: 'Não é o bastante'.
Ele afirmou que a aliança deve impedir kadafi de bombardear civis e eliminar o armamento pesado usado contra Misrata.
O ministro britânico das Relações Exteriores, William Hague, também disse que a Otan precisa intensificar os ataques, pedindo que outros países da aliança igualem o poder de fogo aéreo de Londres na Líbia.
A Otan, que aumentou no fim de semana os ataques aéreos -- que realiza com aval da Organização das Nações Unidas (ONU) para proteger civis -- no entorno de Misrata e da cidade de Ajdabiyah, front de batalha no leste, rejeitou as críticas.
'A Otan está conduzindo suas operações militares na Líbia com vigor dentro do mandato atual. O ritmo das operações é determinado pela necessidade de proteger a população', declarou.
A televisão estatal líbia disse na terça-feira que um ataque da Otan à cidade de Kikla, ao sul de Trípoli, matou civis e membros da força policial.
Falando a jornalistas em Bruxelas, o brigadeiro-general Mark van Uhm, do corpo militar da Otan, disse que houve um ataque aéreo na segunda-feira na região de Kikla, mas que foi a 21 quilômetros da cidade e os alvos eram dois tanques.
'Isso difere significativamente do que a televisão estatal da Líbia reportou, porque eles relataram um ataque armado na cidade. Portanto, é razoável avaliar que esta notícia é uma desinformação', disse van Uhm.
A desavença dentro da aliança aconteceu depois do forte bombardeio e dos combates de rua na cidade costeira de Misrata na segunda-feira, onde a entidade Human Rights Watch afirma que pelo menos 250 pessoas, a maioria civis, foram mortas.
Os rebeldes líbios rejeitaram um plano de paz da União Africana na segunda-feira porque não incluía a remoção de Kadafi, a quem acusam de ataques indiscriminados contra seu próprio povo.
Papel pleno
O presidente francês, Nicolas Sarkozy, exaltado como herói pelos rebeldes, liderou a iniciativa de intervenção militar na Líbia e seus aviões de guerra foram os primeiros a atacar as forças de Kadafi.
Em um comentário contundente sobre o comando da Otan, Juppé acrescentou: 'A Otan precisa desempenhar seu papel plenamente. Ela queria assumir as operações, aceitamos isso'.
A Otan é impopular entre muitos insurgentes, tanto por estes acreditarem que a entidade reagiu inicialmente com lentidão aos ataques do governo quanto por ter matado quase 20 rebeldes em dois bombardeios equivocados.
Embora tenham elogiado a aliança recentemente por seus ataques terem ajudado a frustrar um grande ataque governamental contra Ajdabiyah, muitos dos rebeldes em campo ainda saúdam Sarkozy.
Os insurgentes assumiram posições cerca de 40 quilômetros a oeste de Ajdabiyah na terça-feira depois de embates na segunda que mataram pelo menos três de seus combatentes em um ataque com foguete.
Não havia sinais de luta nesta terça-feira entre Ajdabiyah e o pólo petrolífero de Brega, fronte leste onde os dois lados avançaram e recuaram durante semanas.
A Cruz Vermelha disse que enviará uma equipe a Misrata para ajudar os civis aprisionados pelos combates.
O líder rebelde Mustafa Abdel Jalil disse, após as conversas com a missão de paz africana no encrave insurgente de Benghazi:
'A iniciativa da União Africana não inclui a saída de Kadafi e seus filhos do cenário político líbio, portanto está ultrapassada.'
A União Africana declarou em um comunicado que prosseguirá com a missão.
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