As polêmicas do Charlie Hebdo
O semanário Charlie Hebdo sucedeu a revista Hara-Kiri Hebdo, fechada em 1970 pelo Ministério do Interior da França após uma manchete ser considerada ofensiva ao presidente Charles de Gaulle, que acabara de morrer. O slogan do Charlie Hebdo é "jornal irresponsável". A tiragem de cerca de 50 mil exemplares por semana.
CRONOLOGIA
Setembro 2005> Jornal dinamarquês "Jyllands-Posten" publica charges do profeta Maomé consideradas ofensivas. Ação provoca atos de violência contra embaixadas da Dinamarca
Fevereiro 2006> O Charlie Hebdo reproduz as charges do jornal dinamarquês como forma de protesto. Os 140 mil exemplares com as caricaturas se esgotam rapidamente e o semanário providencia tiragens extras de 400 mil exemplares
> O então presidente da França, Jacques Chirac, critica publicação, dizendo que ela é uma "provocação que pode perigosamente exacerbar as paixões. A polícia é mobilizada para proteger sede da redação
Março 2007> Tribunal parisiense determina arquivamento de processo que poderia ser aberto por iniciativa de entidades muçulmanas contra o Charlie-Hebdo
Fevereiro 2008> Polícia dinamarquesa anuncia prisão de três pessoas que planejavam assassinar o cartunista dinamarquês responsável por charges de Maomé no jornal "Jyllands-Posten". A publicação diz que alvo do ataque seria Kurt Westergaard, então com 73 anos
Novembro 2011> A sede do Charlie Hebdo é alvo de bomba incendiária depois que o semanário ironicamente nomeia Maomé "editor-chefe" de uma edição. O diretor da publicação é mantido sob proteção policial.
Setembro 2012> O Charlie Hebdo volta publicar charges do profeta. Na capa, desenho mostrava judeu ortodoxo carregando um muçulmano numa cadeira de rodas. Ambos diziam ao leitor: "Não ria!"
> Governo francês fecha escolas, representações diplomáticas e centros culturais em uma sexta-feira - dia tradicional de protestos em países islâmicos - em 20 países para evitar ataques
Janeiro 2013> O site do Charlie Hebdo fica fora do ar por algumas horas após ser atacado por hackers. No mesmo dia, publicação havia lançado uma história em quadrinhos sobre Maomé.
Janeiro 2015> A sede da publicação, no centro de Paris, é alvo de ataque terrorista; 12 pessoas são mortas por extremistas.
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- Dilma classifica ataque em Paris como "sangrento e intolerável"
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- Policial morto em ataque estava protegendo diretor de jornal
- Atiradores disseram ser da Al Qaeda, dizem testemunhas
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- Diretor de jornal dizia que "não abaixaria sua caneta"
- Frase em solidariedade a jornal se espalha pela internet
- Líderes muçulmanos condenam ataque a revista em Paris
- Economista membro do Banco da França está entre os mortos em ataque a revista
- Associação Nacional de Jornais se solidariza com o Charlie Hebdo
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A polícia francesa divulgou na noite desta quarta-feira (7) os nomes de três suspeitos de participarem do atentado à sede da revista Charlie Hebdo, em Paris, que causou a morte de 12 pessoas. Segundo os policiais, eles são os franceses Said Kouachi e Cherif Kouachi, de cerca de 30 anos, e o jovem Hamyd Mourad, de 18 anos, cuja nacionalidade não foi revelada. Eles ainda estão sendo procurados.
Chargistas fazem homenagem a mortos; veja
Veja como foi o ataque ao jornal francês
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Confira capas e charges polêmicas do Charlie Hebdo
Um policial que pediu para não ser identificado disse a repórteres franceses que os três tem ligação com uma rede terrorista do Iêmen. Os policiais falaram sob condição de anonimato porque não foram autorizados a discutir publicamente a investigação.
Cherif Kouachi foi condenado em 2008 a 18 meses de prisão sob acusações de terrorismo por ajudar combatentes da insurgência no Iraque. Não foi confirmada qualquer prisão na busca pelos atacantes.
De acordo com o site do jornal "Metronews", o terceiro suspeito seria francês da cidade de Reims, no nordeste do país. Ele estava matriculado no ano passado em uma escola de ensino médio em Reims. As informações não foram confirmadas oficialmente.
Já a revista "Le Point" indicou que os suspeitos puderam ser identificados graças a uma carteira de identidade encontrada no veículo no qual os três fugiram do local e com o qual colidiram com outro carro no nordeste de Paris.
Hollande pede união
Em pronunciamento na TV francesa, o presidente François Hollande pediu a "união" do país como reação ao atentado à sede do jornal satírico francês Charlie Hebdo, que deixou 12 mortos nesta quarta-feira (7), em Paris.
Hollande disse ainda que "todo o país foi atacado" com o atentado "covarde" desta quarta. Ele ainda ressaltou que seu governo "fará tudo" para encontrar os assassinos e proteger os franceses em lugares públicos.
"Nossa melhor arma é a união. Nada pode nos dividir e nada pode nos colocar uns contra os outros", disse Hollande, ao discursar brevemente.
Nenhum grupo assumiu a autoria do atentado. O Charlie Hebdo já havia sofrido ataques por publicar caricaturas de líderes muçulmanos e do profeta Maomé. Em 2011, a redação foi alvo de um incêndio criminoso após ter publicado uma série de caricaturas sobre Maomé.
Luto
O presidente francês determinou que esta quinta-feira (8) será um "dia de luto" no país e convocou um momento de silêncio em todo o serviço público francês ao meio-dia (hora local).
Caçada
Forças policiais e o Exército francês estão mobilizados em todo o país após o atentado a redação do Charlie Hebdo. Pelo menos três homens armados de fuzis AK-47 e encapuzados mataram a tiros 12 pessoas na manhã dessa quarta-feira no prédio do periódico, que publicava charges com piadas sobre líderes muçulmanos e o profeta Maomé. Desde 2011, quando a sede da revista foi alvo de ataque à bomba, o diretor do Charlie Hebdo, Stéphane Charbonnier, conhecido como Charb, andava com escolta de um policial. Ele foi um dos mortos no ataque. As outras dez vítimas são jornalistas, chargistas e um economista do Banco da França, Bernard Maris, que era colunista do jornal.
O ministro francês do Interior, Bernard Cazeneuve, assegurou nesta quarta que todas as forças policiais estão mobilizadas para "neutralizar" os três criminosos envolvidos no ataque. "Foram mobilizados todos os meios" para detê-los e queremos que eles "sejam castigados com a dureza que merecem após o ato bárbaro que cometeram", declarou o ministro à imprensa após uma reunião de emergência organizada no Palácio do Eliseu pelo presidente François Hollande.
Alerta
Bernard Cazaneuve confirmou que o ataque causou a morte de 12 pessoas, além deixar cerca de 20 feridos, "quatro em situação grave". O governo elevou o nível do Plano Vigipirate a seu máximo, o de "alerta de atentados", na região de Paris.
Cazeneuve enviou um telegrama a todos os governadores regionais (delegados do governo) da França para que aumentem a proteção em estações, locais religiosos e outras instituições sensíveis. Em Paris, foram iniciados dispositivos de proteção suplementares nos transportes públicos, nas galerias comerciais e nos centros escolares. Também há proteção na sede de alguns meios de comunicação.
"Esse é um ataque terrorista, não há dúvida disso", disse Hollande a repórteres ao visitar o local do crime. Testemunhas afirmam que os atiradores se identificaram como membros do braço da rede terrorista Al Qaeda no Iêmen. As autoridades francesas, no entanto, ainda não confirmaram a autoria do atentado. O presidente disse também que policiais estão entre as vítimas e declarou que vários ataques terroristas foram evitados no país nas últimas semanas.
O ataque
Os terroristas chegaram pouco depois das 11h local (7h, em Brasília) à sede da Charlie Hebdo e, em sua fuga, gritaram "Alá é grande" e "vingamos o profeta", o que é considerado uma alusão à publicação pela revista de caricaturas de Maomé.
Em um francês pouco fluente, chamaram pelo nome vários dos jornalistas da revista e dispararam contra eles. Ao sair do edifício, trocaram disparos com vários policiais e fugiram inicialmente em um Citroën C1 de cor preta, que abandonaram em seguida. O policial Rocco Contento descreveu o interior do prédio como uma "carnificina" após o ataque.
Testemunhas disseram ao canal de notícias francês iTELE terem visto o incidente a partir de um prédio próximo no coração da capital francesa. "Cerca de meia hora atrás dois homens com capuz preto entraram no prédio com (fuzis) Kalashnikovs", disse Benoit Bringer à emissora. "Poucos minutos depois, nós ouvimos vários tiros", disse, acrescentando que os homens depois foram vistos fugindo do prédio.
Mortos
Além de Charb, outros três dos principais chargistas do Charlie Hebdo, Cabu, Tignous e George Wolinski (um dos mais conceituados quadrinistas do mundo), estão entre os 12 mortos. O advogado da publicação confirmou à emissora "France Info" os nomes das quatro vítimas.
Ameaças
A publicação semanal é alvo de várias ameaças por causa da publicação de caricaturas do profeta Maomé e de outros desenhos controversos. Em 2011 houve um incêndio no escritório da revista horas antes de uma edição especial da publicação com o profeta Maomé ir às bancas. A representação de Maomé é inaceitável para os muçulmanos.
Repercussão e solidariedade
A chanceler alemã, Angela Merkel, expressou repúdio pelo atentado, incidente que classificou como "ataque contra a liberdade de imprensa e expressão", dois "pilares da sociedade democrática".
O atentado é absolutamente "injustificável", criticou a chanceler em mensagem enviada ao presidente francês, François Hollande, na qual expressa sua "comoção". "Quero expressar, ao senhor e a seus compatriotas, as condolências dos cidadãos alemães e as minhas pessoais", prossegue a mensagem, divulgada pela Chancelaria.
Nos Estados Unidos, a Casa Branca condenou "nos termos mais fortes" o ataque e se comprometeu a ajudar na caça aos terroristas. "Os EUA estão determinados a ajudar a França a prender e levar os responsáveis pelo ataque ao Charlie Hebdo à Justiça", afirmou o porta-voz da Casa Branca, Josh Earnest, em entrevista à rede CNN.
O primeiro-ministro do Reino Unido, David Cameron, também condenou o atentado. Cameron disse que os responsáveis pelo atentado contra a publicação são "doentes" e se solidarizou com o povo francês na luta contra o terrorismo. "Estamos com o povo francês na luta contra o terror e na defesa da liberdade de expressão", afirmou.
O vice-primeiro-ministro britânico, Nick Clegg, disse que a ação foi um ataque contra a liberdade de expressão e manifestou sua solidariedade com as vítimas, famílias e colegas.
A presidente Dilma Rousseff também lamentou o atentado. Para Dilma, além das perdas humanas, o atentado representa também um ataque à liberdade de imprensa.
UE
O presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, qualificou como "ato intolerável" o ataque contra o semanário. "É um ato intolerável, uma barbárie que nos preocupa a todos como seres humanos e como europeus", disse Juncker em um comunicado. Ele se declarou "profundamente consternado pelo ataque brutal e desumano". "Expresso em meu próprio nome e em nome da Comissão Europeia nossa máxima solidariedade com a França", acrescentou.
Já o presidente do parlamento Europeu, Martin Schulz, disse em sua conta do Twitter que estava "profundamente consternado" pelo ataque e que seus pensamentos estão com a equipe da revista, os policiais e familiares.
Egito
O ministro das Relações Exteriores egípcio, Sameh Shoukry, mostrou sua "enérgica" condenação ao atentado contra a sede da Charlie Hebdo. Segundo um comunicado oficial, Shoukry expressou a solidariedade do Egito à França e seu apoio na luta antiterrorista. Para o ministro das Relações Exteriores, "o terrorismo é um fenômeno internacional cujo alvo é a segurança e a estabilidade no mundo" e pediu que sejam unificados os esforços internacionais para acabar com ele. O texto também expressa as condolências do Egito às famílias das vítimas, ao povo e ao governo da França.
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