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Clima

Protesto africano marca última semana de Copenhague

Um protesto dos países africanos acusando as nações ricas de se empenharem pouco na redução das emissões de gases-estufa quase parou as negociações na segunda-feira em Copenhague, a apenas quatro dias para a reunião de chefes de governo que discutirá a adoção de novas diretrizes no combate ao aquecimento global.

Após cinco horas de impasse, as delegações africanas permitiram a retomada das negociações ao receberem garantias de que suas objeções seriam ouvidas. Elas acusaram os países ricos de tentar sepultar o Protocolo de Kyoto, que obriga as nações industrializadas a reduzirem suas emissões de gases-estufa até 2012.

As negociações sobre um tratado que substitua Kyoto se arrastam desde que foram lançadas, há dois anos, em Bali, na Indonésia. Na sexta-feira, pelo menos 110 governantes devem estar em Copenhague para a conclusão da conferência, da qual se espera apenas um tratado de caráter político, mas ainda sem medidas técnicas, que devem ficar para 2010.

O principal entrave à adoção do novo tratado é a relutância dos países ricos em adotarem metas ambiciosas de redução das suas emissões, e a discordância sobre as verbas que devem ser oferecidas aos países mais pobres para que estes se adaptem às mudanças climáticas e reduzam suas próprias emissões de gases-estufa.

Na segunda-feira, o porta-voz da Casa Branca, Robert Gibbs, disse que países em desenvolvimento como China e Índia terão de fazer sua parte para que haja acordo. Mas o chefe da delegação norte-americana, Todd Stern, afirmou que o presidente Barack Obama e outros líderes chegarão a Copenhague com "o desejo de que nada seja chutado para cima".

Após contornarem as objeções africanas em Copenhague, os negociadores nomearam na segunda-feira duplas de ministros, misturando países ricos e pobres, para que busquem soluções a respeito das questões mais polêmicas da conferência.

Gana e Grã-Bretanha, por exemplo, buscarão formas de arrecadar bilhões de dólares para o fundo climático. Granada e Espanha examinarão as disputas sobre quem deve arcar com o maior ônus das emissões numa primeira fase, até 2020. Cingapura e Noruega discutirão um possível imposto sobre combustíveis de navegação.

Antes, os delegados africanos disseram que os países ricos estavam tentando acabar com o Protocolo de Kyoto, que obriga quase 40 nações industrializadas a cortarem suas emissões de gases-estufa em pelo menos 5,2 por cento em relação aos níveis de 1990, num prazo que variava de 2008 a 2012.

A ministra australiana do Clima, Penny Wong, criticou a ameaça de abandono dos países africanos e disse que "não é hora de jogos" quando falta tão pouco para o término do evento, que tem 35 mil participantes registrados.Os países pobres gostariam de prorrogar o Protocolo de Kyoto e trabalhar num acordo paralelo para as nações em desenvolvimento. Já os países ricos, em sua maioria, preferem fundir as regras de Kyoto em um novo tratado, que valha para todos.

Um dos motivos para isso seria garantir o envolvimento dos Estados Unidos, que não aderiram ao Protocolo de Kyoto. Os demais países industrializados relutam em se comprometer com um novo Protocolo enquanto Washington escaparia para um regime menos restritivo.

Apelo das Maldivas

Em mais um lembrete sobre as consequências da mudança climática, o ex-vice-presidente dos EUA Al Gore e o chanceler norueguês, Jonas Gahr Stoere, divulgaram um relatório dizendo que o nível dos mares subirá até dois metros até 2100, e que há preocupantes sinais de degelo na Antártida.

"Estima-se agora que os níveis dos mares irão subir entre 0,5 e 1,5 metro até 2100, e no pior dos casos, até dois metros. Isso irá afetar muitas centenas de milhões de pessoas vivendo em áreas costeiras", disse o relatório.

O presidente das Maldivas, Mohamed Nasheed, disse que pode ser tarde demais para ajudar pequenos países insulares como o seu. "Se todos os países desenvolvidos pararem suas emissões hoje, e se mantivermos tudo normalmente, ainda assim iremos submergir".

Em frente ao local da cúpula, ativistas fantasiados de ursos polares realizaram um protesto pedindo aos negociadores que "salvem os humanos".

Posicionando-se contra os países africanos, um representante chinês disse que a maior preocupação dos países em desenvolvimento é obter verbas dos ricos para arcar com os custos pela redução das emissões de carbono e cobrir os gastos com a adaptação às mudanças climáticas.

"Se forem listadas em ordem de prioridade, as questões mais prementes em que os países em desenvolvimento querem ver resultados são: em primeiro lugar finanças, em segundo, as metas de redução de emissões, em terceiro, a transferência de tecnologias", disse o vice-chanceler He Yafei à Reuters.

Muitos líderes mundiais chegarão mais cedo a Copenhague para tentar resolver as discrepâncias. O premiê britânico, Gordon Brown, desembarca na terça-feira na capital dinamarquesa. Brown pretende se reunir com os colegas Kevin Rudd (Austrália), Jens Stoltenberg (Noruega) e Meles Zenawi (Etiópia) antes da chegada dos demais governantes.

Organizadores dizem que o início formal da fase mais intensiva e de primeiro escalão das negociações ocorrerá na noite de terça-feira (14h30 em Brasília), quando o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, fará um discurso numa cerimônia de abertura da cúpula.

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