Entrar no recém-reformado Kings Theater, no Brooklyn, é poder apreciar a beleza do mundo da Era do Jazz, graças aos painéis de nogueira nas paredes do grandioso saguão, às colunas coríntias iluminadas de cima por candelabros art déco imensos e aos quase 1.200 metros de carpete vermelho e dourado.
O Kings é um dos cinco Wonder Theaters ("Cinemas Prodígio") construídos na região metropolitana de Nova York pela Corporação Loews em 1929 e 1930. Os outros quatro são o Loew's Jersey em Jersey City, o Valencia no Queens, o United Palace em Manhattan e o Paradise no Bronx. A reforma de US$95 milhões do Kings está sendo acompanhada de perto em Jersey City, onde o futuro do Loew's ainda é dúvida; se ele conseguir se reerguer, o cinema de Nova Jersey terá grandes chances.
Gary Martinez, presidente da Martinez & Johnson Arquitetura que, junto com o Grupo de Teatro ACE, de Houston, fez a obra, sabe muito bem o que está em jogo. "Este caso aqui será o estudo para o próximo", diz.
O arquiteto George Rapp, cuja firma projetou o Jersey e o Kings no estilo renascentista francês, definiu seus espaços como "templos da democracia onde não há privilégio entre clientes".
"Os ricos estão lado a lado com os pobres e são os que mais se beneficiam desse contato", explica.
Martinez conta que, quando a reforma começou, há dois anos, os trabalhadores descobriram que a água tinha corroído grandes seções do gesso decorativo e umedecido parte do carpete; as luminárias tinham sido arrancadas das paredes, os pombos tinham feito ninhos no telhado e um sujeito sem roupa foi encontrado todo encolhido no palco, vivo, mas completamente atordoado ao ser acordado.
O cinema agora está impecável e faz parte de um condado gentrificado mas será que vai conseguir convencer a geração Netflix de hoje a investir tempo e dinheiro ali? Projetado por arquitetos de categoria internacional, os Wonder Theaters ajudaram a driblar o tédio e a desesperança provocados pela Crise de 1929, fornecendo ao cidadão comum uma fuga acessível para a fantasia de Hollywood e seu ambiente luxuoso.
O Paradise e o Valencia são cinemas "temáticos", projetados por John Eberson; segundo o Departamento de Conservação de Monumentos de Nova York, o primeiro foi inspirado nos palácios dos doges venezianos; o segundo, em uma mansão espanhola.
Só que, do final dos anos 60 até a década de 80, todos se transformaram em buracos escuros e sujos que exibiam filmes B. Botecos, lanchonetes e lojas de 1,99 proliferavam à sua volta; e aí vieram as igrejas, cujo status religioso as isentava de pagar impostos sobre propriedades gigantescas.
Em 1969, a Loew's vendeu o United Palace a Frederick J. Eikerenkoetter II, mais conhecido como "Reverendo Ike", e, em 1977, doou o Valencia ao Tabernáculo de Oração do Povo. E ali o pastor fez algumas mudanças: a fila de deuses romanos nus que havia sobre o proscênio, por exemplo, era demais para o Pentecostalismo rígido da instituição e por isso ganharam túnicas e asas. De resto, continuou praticamente intacto.
No United Palace os cultos são organizados pela United Palace House of Inspiration. A United Palace Theater, agência interna de reservas de ingressos, organiza shows de nomes como Neil Young, Bob Dylan, Adele e Kraftwerk. Em 2012, passou também a operar um programa comunitário, o United Palace of Cultural Arts.
"Esse local foi construído para promover a congregação do bairro. Estamos apenas começando a inserir essa belezura no século XXI", diz Mike Fitelson, diretor executivo do United Palace of Cultural Arts.
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