A família de Saddam Hussein informou neste sábado (30) que decidiu enterrar o corpo do ex-líder iraquiano executadonesta madrugada na cidade de Ramadi, e não no vilarejo de Awja, como havia sido cogitado anteriormente.

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"Depois que a família recebeu a vontade do presidente martirizado por meio de seus advogados que o viram pela última vez quando ele pediu para ser enterrado em Awja ou Ramadi... foi decidido que ele será enterrado na cidade de Ramadi", apontou um comunicado da família recebido pela Reuters.

O enterro de Saddam em Ramadi, a 110 quilômetros de Bagdá, ao invés de Awja --onde seus dois filhos Uday e Qusay foram enterrados após terem sido mortos por tropas dos EUA em 2004-- se deve a "razões particulares da família e a situação de segurança predominante" no Iraque, acrescentou o comunicado.

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Um clérigo de Awja havia informado anteriormente que o corpo de Saddam seria enterrado no vilarejo.

Segundo informaram mais cedo um advogado de defesa e uma fonte sênior do governo iraquiano, o corpo de Saddam foi levado por um avião norte-americano para a cidade natal de Tikrit e entregue ao chefe da tribo Albu Nasir para ser enterrado.

O advogado libanês Bushra al-Khalil informou que a filha de Saddam, Raghd, em exílio na Jordânia, estava em contato com os líderes tribais de sua família para decidir sobre um lugar seguro para o enterro.

Morte

Saddam Hussein foi enforcado na madrugada deste sábado por crimes contra a humanidade. Um fim dramático e violento para um ditador que governou brutalmente o Iraque por três décadas antes de ser deposto pela invasão liderada pelos EUA em 2003.

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Sem demonstrar qualquer sinal de arrependimento, um calmo Saddam chegou ao local da execução. Trazia um exemplar do Alcorão nas mãos amarradas e se recusou colocar o capuz negro na cabeça antes de os cinco carrascos mascarados colocarem a corda em seu pescoço, afirmou um político muçulmano xiita presente à execução.

Segundo outra testemunha, o ex-ditador disse não ter medo de ninguém. "Espero que permaneçam unidos e os advirto: não confiem na coalizão iraniana, essa gente é perigosa", teria recomendado Saddam ao povo iraquiano.

"Não tentou resistir e não pediu nada. Tinha em suas mãos um exemplar do Alcorão, que desejou enviar a uma pessoa. Alguém tomou o nome do destinatário do Alcorão e prometeu cumprir o pedido", relatou o conselheiro de Segurança Nacional, Muafaq al-Rubai.

"Foi muito rápido. Ele morreu na hora", disse à Reuters um oficial iraquiano que testemunhou o enforcamento. O presidente deposto, que não estava vendado, rezou rapidamente.

"Ouvimos o pescoço dele quebrar", afirmou Sami al-Askari, aliado do primeiro-ministro iraquiano, Nuri al-Maliki. A execução ocorreu num antigo edifício da inteligência militar, no norte de Bagdá, onde o próprio Saddam havia executado seus oponentes.

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Um canal de TV xiita exibiu imagens granuladas do corpo vestido numa mortalha branca, mostrando Saddam, que tinha 69 anos, com o pescoço marcado aparentemente por sangue ou um ferimento na bochecha.

Askari disse que Saddam provavelmente será enterrado em segredo no Iraque, depois que o governo rejeitou o pedido da família pelo corpo.

Enquanto os xiitas, oprimidos por Saddam, comemoram nas ruas, o primeiro-ministro pediu aos sunitas membros do ex-partido Baath, de Saddam, que acabassem com sua insurgência.

"A execução de Saddam põe um fim a todas as apostas patéticas de um retorno à ditadura", disse Makili, que apareceu na televisão assinando com tinta vermelha a ordem de uma execução à qual ele não compareceu.

Atentados

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Mas há poucos indícios de que a violência terminará. A polícia em Kufa, vizinha à cidade sagrada xiita de Najaf, disse que 36 pessoas morreram e 58 ficaram feridas pela explosão de um carro-bomba num mercado, que estava lotando de pessoas fazendo compras para o feriado de Eid al-Adha. Segundo as autoridades, a multidão matou um homem acusado de plantar a bomba.

A explosão de três carros-bomba matou pelo menos outras 25 pessoas num bairro xiita da capital -- o tipo de ataque que vem levando o Iraque em direção à violência sectária desde que as tropas norte-americanas acabaram com a mão de ferro de Saddam.

O presidente dos EUA, George W. Bush, que considerava Saddam uma ameaça, apesar das supostas armas de destruição em massa nunca terem sido encontradas, disse: "Levar Saddam Hussein à Justiça não acabará com a violência no Iraque, mas é um marco importante no caminho do Iraque rumo a uma democracia capaz de se governar, sustentar e defender."

A morte de cinco soldados elevou o número de militares norte-americanos mortos para próximo da marca de 3 mil. Bush já enfrenta o crescente descontentamento público com a guerra, enquanto o Iraque ruma para uma guerra civil total entre os sunitas e a maioria xiita.

Reações silenciosas

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A reação da população foi silenciosa, num dos dias mais sagrados do calendário muçulmano, que dá início às festividades religiosas do Eid al-Adha. Não foi imposto toque de recolher em Bagdá.

Xiitas oprimidos por Saddam dançaram nas ruas de Najaf e motoristas tocaram as buzinas dos carros em desfiles pelo bairro de Sadr City, um reduto xiita de Bagdá.

O principal canal de televisão sunita fez uma cobertura limitada da execução, mas mostrou imagens antigas de Saddam ao lado do ex-secretário de Defesa dos EUA, Donald Rumsfeld, num período em que os norte-americanos ajudaram o Iraque na luta contra o Irã.

A televisão estatal Iraqiya, por sua vez, mostrou imagens de arquivo de agentes de Saddam degolando e torturando vítimas do regime.

Saddam foi condenado pelas mortes e tortura de xiitas na cidade de Dujail, depois de ser vítima de tentativa de assassinato em 1982. Uma apelação foi rejeitada há quatro dias.

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Uma testemunha de Dujail disse que viu o corpo no escritório de Maliki e chorou por seus parentes mortos.

"Quando vi o corpo no caixão, chorei. Lembrei de meus três irmão e de meu pai, que ele matou. Cheguei perto do corpo e disse: "Esse é um castigo merecido por todos os tiranos," disse Jawad al-Zubaidi à Reuters. "Agora, pela primeira vez, meu pai e meus irmãos estão contentes."

Antes de sua morte, o ex-presidente rezou a profissão de fé muçulmana, afirmou uma testemunha.

Muitos curdos ficarão desapontados porque Saddam não será condenado pelo genocídio contra eles no julgamento ainda em curso, mas sua rápida execução foi um triunfo para Maliki, cujo poder sobre a frágil coalizão de unidade nacional tem sido questionado.

Após reclamações de interferência política no julgamento, a rapidez da execução pode provocar mais críticas sobre a legitimidade do processo patrocinado pelos EUA.

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Saddam tornou-se presidente em 1979, e no ano seguinte liderou o país numa guerra de oito anos contra o Irã que custou milhares de vidas. Em 1990, ele invadiu o Kuait, mas forças lideradas pelos Estados Unidos expulsaram os iraquianos do país no ano seguinte.

O meio-irmão de Saddam Barzan al-Trikrit e o ex-juiz Awad al-Bander devem ser enforcados em janeiro.