Líderes separatistas do leste da Ucrânia acusaram nesta quarta-feira (5) o presidente do país, Petro Poroshenko, de violar um acordo de paz ao decidir suspender a lei que dá às suas regiões um "estatuto especial" e sinalizar que deixará de cumpri-la.
As autoproclamadas repúblicas populares de Donetsk e Lugansk informaram que a decisão mina o acordo de cessar-fogo assinado entre as partes em Minsk, na Belarus, em 5 de setembro.
Poroshenko, que acusa os rebeldes de terem violado o acordo ao realizar eleições locais no domingo, disse na terça-feira (4) que queria que o Parlamento ucraniano derrubasse a lei que dava o estatuto especial às duas regiões.
A lei daria às regiões de Donetsk e de Lugansk direitos limitados para administrar seus próprios assuntos e protegia combatentes separatistas de acusação judicial.
"O cancelamento do estatuto especial por Kiev causa sérios danos ao processo de paz assinado em Minsk", informaram os separatistas pró-russos em uma declaração conjunta.
Sem resultados
Autoridades ucranianas, russas e separatistas pró-russos se reuniram nesta quarta em Donetsk para tentar salvar o frágil acordo de cessar-fogo.
"A reunião não deu resultados concretos, porque o nível de confiança entre as partes ainda é muito baixo", disse a jornalistas o vice-chefe da missão de observação da OSCE (Organização para a Segurança e a Cooperação na Europa), Alexander Hug. Ele ressaltou, porém, que o simples fato de haver um encontro entre as partes já é encorajador.
Menos ajudaO primeiro-ministro da Ucrânia, Arseni Yatseniuk, informou que seu país suspenderá os financiamentos para as zonas controladas pelos separatistas. "Enquanto partes das regiões de Donetsk e de Lugansk continuarem controladas por impostores, o governo não enviará fundos", afirmou o primeiro-ministro.
Ele acrescentou que, assim "que os terroristas deixem Donetsk e Lugansk e nós recuperarmos o controle desses territórios, levaremos a cada habitante os subsídios sociais a quem tem direiro".
Yatseniuk disse, porém, que Kiev não suspenderá o envio de gás e de eletricidade a essas regiões para evitar uma catástrofe humanitária.
Mortes
Nesta quarta, dois adolescentes morreram e outros quatro ficaram feridos após ataques de artilharia em um campo de futebol de uma escola de Donetsk. Segundo os meios de comunicação russos, os mortos são um garoto de 14 anos e outro de 18.
Os feridos, três meninos de 17 anos e um de 21, foram levados a um hospital local. Um deles está em estado grave. Os estudantes jogavam futebol em um campo perto do aeroporto local.
Os separatistas, por sua vez, denunciaram a morte de 12 civis em vários ataques de artilharia realizados supostamente por forças ucranianas em Donetsk e Frunze.
Sanções A chanceler alemã, Angela Merkel, indicou que, devido às eleições do fim de semana, mais líderes rebeldes do leste da Ucrânia poderão entrar para a lista de pessoas atingidas pelas sanções da União Europeia. Questionada nesta quarta se apoiaria novas sanções econômicas contra a Rússia, que apoiou as eleições, Merkel disse que "é preciso ter um outro olhar em relação à lista de pessoas que agora têm responsabilidade no leste da Ucrânia por causa destas eleições ilegítimas".
Ela afirmou que gostaria de poder falar sobre o levantamento das sanções, mas que isso é impossível agora.