Paris - Centenas de manifestantes sírios atacaram ontem as embaixadas dos Estados Unidos e da França em Damasco, quebrando janelas e pichando as paredes. Três funcionários da embaixada francesa ficaram feridos.
Os ataques às representações diplomáticas foram caracterizados como uma reação de partidários do governo do presidente da Síria, Bashar Assad, às visitas protagonizadas pelos embaixadores de EUA e França na semana passada à cidade de Hama, um foco de protestos contra o regime localizado no centro do país.
Guardas da representação diplomática efetuaram disparos de advertência, segundo o Ministério das Relações Exteriores da França.
Na embaixada dos EUA, os agressores quebraram janelas e içaram uma bandeira síria no complexo da sede diplomática, mas ninguém ficou ferido. Os manifestantes também picharam algumas paredes, chamando de "cachorro" o embaixador norte-americano. Posteriormente, os manifestantes atacaram também a residência do embaixador dos EUA na Síria, Robert Ford.
"O governo sírio nos garantiu que irá fornecer a proteção exigida sob a Convenção de Viena e nós esperamos que isso ocorra", afirmou um funcionário da embaixada norte-americana. Segundo esse funcionário, uma rede de televisão próxima do regime incitou "a manifestação violenta".
O governo sírio qualificou a visita feita pelos embaixadores Ford, dos EUA, e Eric Chevallier, da França, a Hama como uma "interferência flagrante" em "assuntos internos" do país.
Grupos de defesa dos direitos humanos dizem que pelo menos 1.400 civis já foram mortos desde o início, em março, do levante contra o governo autocrático de Assad, gerando a maior ameaça a sua liderança desde que ele sucedeu a seu pai, há 11 anos. Em outros incidentes de violência ontem, forças sírias mataram um civil e feriram 20 outros em disparos de metralhadoras pesadas em Homs, a terceira maior cidade do país, e vasculharam casa por casa em Hama, prendendo suspeitos opositores, disseram ativistas dos direitos humanos.
Apesar de usar força para esmagar os protestos, Assad também vem lançando chamados por um diálogo sobre reformas. Mas muitas figuras oposicionistas se recusaram a participar de uma conferência de dois dias na capital, dizendo que é inútil enquanto a violência continuar.
"O diálogo só pode funcionar quando as duas partes se respeitam mutuamente e se veem como iguais", disse Ayman Abdel-nour, editor residente no Golfo do site all4syria.com. "No momento, não existe diálogo."
Hilal Khashan, comentarista político residente no Líbano, disse que o chamado de Assad por um diálogo não é sério e que visa comprar tempo. "Se o regime fosse sério em relação a reformas, mudaria suas medidas de segurança," disse ele.
ONU
A França lidera as tentativas ocidentais de aprovar no Conselho de Segurança da ONU uma resolução condenando o governo sírio pela repressão violenta aos protestos. Os franceses afirmam que Assad perdeu sua legitimidade devido ao grande número de civis mortos na repressão às manifestações, que tentam encerrar os 41 anos de governo da família Assad.