Uma demonstração da Anistia Internacional realizada ontem, em Berlim, na Alemanha, prestou solidariedade aos protestantes sírios| Foto: Fabrizio Bensch/Reuters

Ruim com ele, pior sem ele. Após quatro meses de protestos e repressão na Síria, esse é o dilema por trás da relutância internacional em apoiar a saída do ditador Ba­­shar Assad e uma intervenção, como na Líbia.

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Num país marcado por divisões sectárias e sociais, é também o dilema que vive boa parte da po­­pulação. Para muitos sírios, a al­­ternativa ao regime é a guerra sectária.

O temor de um novo Iraque também guia a reação do Ociden­­te, que condena Assad sem insistir na sua saída, como fizeram com Hosni Mubarak no Egito e Mua­­mar Kadafi na Líbia. Rivais poderosos da Síria no mundo árabe, como a Arábia Saudita, mantêm o silêncio.

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Com o país fechado a jornalistas estrangeiros, a principal fonte de informação são ativistas sírios que, em sua maioria, atuam do exílio.

Segundo eles, quase 2 mil civis foram mortos pelas forças de segurança e milhares foram presos. O mutismo foi desafiado no último domingo, quando tanques do re­­gime atacaram a cidade de Hama, matando entre 80 e 140 pessoas, segundo estimativa dos ativistas.

Uma reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU produziu a primeira condenação do órgão à violência do regime sírio. Rachado entre o Ocidente e os Brics (Brasil, Rússia, Índia, Chi­­na e África do Sul), o CS conseguiu aprovar uma declaração presidencial.

O ataque a Hama despertou fantasmas que assombram a Síria desde 1982, quando tropas do Exército esmagaram um levante islamita sob as ordens de Hafez, pai de Bashar. Entre 10 e 20 mil pes­­soas foram mortas.

O novo banho de sangue em Hama levou os EUA a falar pela primeira vez claramente na queda do regime. "Assad está de saída", disse o porta-voz da Casa Branca Jay Carney. "Todos devemos pensar no dia seguinte ao Assad; os 23 milhões de cidadãos sírios pensam nisso."

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Não é o que indicam relatos de analistas e de quem observa de perto o país. Um diplomata baseado em Damasco diz que Assad "continua a ter o apoio das chamadas ‘grandes minorias’ [alauítas e cristãos] e de parte dos sunitas seculares, incluída a classe mercantil".

Segundo ele, que pede para não ser identificado, "esta é uma razão para, até aqui, não ter havido protestos de massa em Damasco e Alepo, as duas maiores cidades".

Hafez Assad assumiu o governo em 1971, após dar um golpe, e controlou o país com mão de ferro até morrer, em 2000. Bashar, oftalmologista formado em Londres, sucedeu o pai sob expectativa de abertura política, mas não realizou a reforma prometida.

Embora não tenha alcançado as principais cidades do país, os protestos persistem. Mas a ausência de uma alternativa viável a Assad dificulta a ação internacional. "A falta de líderes na oposição síria mete medo em muitos no governo americano", diz Joshua Landis, maior especialista em Síria dos Estados Unidos. Segundo ele, a "maioria silenciosa" também se preocupa com um vácuo de poder. "Quem quer o caos? O Iraque ainda está fresco na memória de to­­dos", afirma.

Os resultados duvidosos da intervenção da Otan na Líbia reforçam o veto de China e Rússia a medidas mais drásticas no CS contra Assad. Isso sem falar nos laços econômicos e militares entre os dois países e a Síria. Nos últimos anos, Moscou vendeu bilhões em armas ao regime de Assad.

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