Um comboio militar cruzou as ruas inundadas de Nova Orleans, no início da tarde desta sexta-feira, levando tropas e comida. É o primeiro grande contingente de reforço que chega à área desde a passagem do furacão Katrina, há cinco dias, com a missão de ajudar a socorrer sobreviventes e ajudar a manter a ordem numa cidade que vive dias sem lei, agravados nesta sexta-feira por dois grandes incêndios sem controle e aos quais os bombeiros não estão tendo acesso.

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O destino das tropas é o Centro de Convenções, onde milhares de pessoas aguardam socorro e muitas morreram esperando, e o Superdome, de onde outros refugiados já vinham sendo transferidos para o Texas e para outras áreas da Louisiana.

O contingente chegou num dia de muitas reclamações com a lentidão do governo federal no socorro às vítimas, sobretudo em Nova Orleans. O presidente George W. Bush concordou que as operações estavam deixando muito a desejar e está visitando áreas afetadas. Até a primeira-dama, Laura Bush, assumiu o discurso de que era preciso fazer mais.

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- Sabemos que podemos fazer melhor do que isso - disse a primeira-dama dos EUA, Laura Bush, numa visita a um ginásio transformado em abrigo, na cidade de Lafayette, naLouisiana.

Enquanto isso, dois grandes incêndios - num depósito de produtos químicos e num outro prédio comercial não identificado - ardiam sem qualquer controle.

POLÍCIA COM MEDO - Durante a noite, atiradores da polícia tiveram que se posicionar em telhados de suas jurisdições, tentando protegê-las da ação de gangues armadas que perambulam pela região inundada fazendo saques e agredindo a população. Segundo um comunicado do prefeito de Nova Orleans, de madrugada, a polícia teve que sair das imediações do Centro de Convenções, onde há 15 mil a 20 mil desabrigados, porque grupos armados estavam disparando contra os policiais e eles temiam revidar e atingir civis.

Para responder a essa situação incontrolável, o governo dos EUA decidiu enviar o Exército para a cidade histórica, que deve chegar em seguida aos primeiros reforços da Guarda Nacional. Imagens da CNN mostraram uma longa fila de caminhões militares, carregados com alimentos, cruzando as ruas alagadas. Sobreviventes, alguns com seus filhos nos braços, tentaram acompanhar os veículos, achando que assim poderiam obter socorro. Segundo a correspondente Barbara Starr, cerca de mil soldados estão chegando, todos armados.

A cena surreal acontece em meio ao caos, acompanhada de outras incríveis cenas de desespero e violência. Em tom ameaçador, a governadora da Louisiana, Kathleen Blanco, advertiu os saqueadores:

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- Os soldados sabem como atirar e matar. Esses soldados têm (metralhadoras) M-16 carregadas - disse a governadora. - Essas tropas sabem como atirar e matar e acredito que farão isso.

O Pentágono declarou que 4.200 soldados extras da Guarda Nacional serão mobilizados nos próximos três dias e que 3.000 soldados do Exército também poderão ser enviados para combater as gangues armadas que se espalharam por Nova Orleans. Por fim, serão até 50 mil militares empregados na maior operação de ajuda doméstica e segurança na História dos EUA.

DESESPERO - Sem socorro, pessoas gravemente doentes aventuram-se pelas ruas alagadas em cadeiras de rodas para procurar ajuda, em meio a corpos em decomposição e tiros disparados contra soldados e equipes de resgate.

Autoridades declararam que o total de mortos certamente ficará em centenas e, provavelmente, em milhares, mas que ainda precisarão de mais tempo para determinar a cifra com precisão.

- Chame isso de bíblico, chame de apocalíptico, o que você quiser - afirmou Robert Lewis, de 46 anos, resgatado após sua casa ser invadida pelas enchentes. Ele foi levado para um abrigo e depois transferido para a cidade de Houston, no Texas. - Havia corpos boiando em frente à minha porta. Nunca vi nada assim - acrescentou, exausto.

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