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Paulo Briguet

A primeira oração

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Durante muitos anos fui ateu. Chesterton tinha razão: quem não acredita em Deus acaba acreditando em qualquer coisa. Ao perder a fé católica da infância, passei a crer no materialismo mais tosco. Lembro-me claramente do dia em que uma amiga perguntou: "Paulo, qual é o sentido da vida para você?" Respondi sem vacilar: "A busca do prazer!" Tinha 19 anos.

Com o tempo, o hedonismo se transformou em paixão política. A leitura compulsiva de autores esquerdistas – estes que ainda gozam de grande reputação nas universidades – fez de mim um curioso tipo de militante revolucionário (ou, pelo menos, era o que eu imaginava). Participei do movimento estudantil, fiz discurso em assembleias, frequentei inúmeras e intermináveis reuniões políticas, defendi greves e invasões, escrevi artigos incendiários, fui dirigente sindical. Acreditava que a maior tarefa do jornalista era "transformar a sociedade". Minha pauta era fazer a revolução, e eu a estudei profundamente.

O ideal socialista começou a fazer água quando passei a ler autores críticos à mentalidade revolucionária. Em minha opinião, era um dever moral do estudioso militante conhecer o pensamento liberal e conservador para melhor criticá-lo. Li autores "de direita" – como diziam meus companheiros, cheios de nojo. Li também obras religiosas que fariam um Trotsky ou um Gramsci subir nas paredes.

O resultado é que os críticos acabaram por me convencer. Livrei-me do autoengano. Hoje sei que todas as experiências revolucionárias socialistas, sem exceção, resultaram em catástrofes, mortandades e genocídios. Se, para Marx, a economia é o motor da história, o ódio – aquele que transforma o revolucionário numa "fria máquina de matar", nas palavras de Che Guevara – é o motor da revolução. Percebi que o problema não estava na má aplicação das ideias revolucionárias, mas nelas próprias. Em toda a história desses movimentos, a começar pela Revolução Francesa, não há um só exemplo decente a ser apresentado.

Pouco antes de fazer 30 anos, ao contemplar uma igreja incendiada na cidade histórica de Mariana, em Minas Gerais, descobri que todas as esperanças políticas da minha juventude não passavam de um substituto demoníaco para a fé religiosa perdida na infância. Embora minha mudança tenha sido gradual, posso dizer que naquele momento eu abandonava o grande engano da revolução. A igreja queimada era a imagem da minha alma – algo que eu precisava recompor minuciosamente se não quisesse perdê-la para sempre.

Ali mesmo, em Mariana, fiz a minha primeira oração em muitos anos.

Mas devo confessar que não ficara totalmente afastado de Deus durante meu período de ateísmo. Costumava viajar sempre no Expresso Birigui, linha Londrina-Araçatuba. Os ônibus da companhia – hoje extinta – eram velhos e mal conservados. Certo passageiro ateu morria de medo de morrer em um desastre rodoviário. Silenciosamente, no começo das viagens, fechava os olhos e pensava: "Se Você existe, proteja-me!"

No Evangelho de Marcos, o reino dos céus é comparado por Jesus a um grão de mostarda: "(...) é a menor de todas as sementes que há na terra; mas, tendo sido semeado, cresce; e faz-se a maior de todas as hortaliças, e cria grandes ramos, de tal maneira que as aves do céu podem aninhar-se debaixo da sua sombra". Aquela pequena oração que eu fazia a contragosto no Expresso Birigui era o grão de mostarda, a semente da minha fé futura. A fé com que escrevo estas palavras agora.

Sim, o interlocutor das orações no Expresso Birigui não apenas existe como também se empenhou durante vários anos em livrar-me do mal, mesmo diante da minha mais categórica recusa: "Em verdade vos digo que, se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a este monte: Passa daqui para acolá, e há de passar; e nada vos será impossível".

Comecei com Chesterton, encerro com ele: "Se Deus não existisse, não haveria ateus".

O colunista Luis Fernando Verissimo está de férias.

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