É a época da vindima e quando a uva está madura é preciso colhê-la e esmagá-la com rapidez. Os proprietários de grandes vinhedos estão muito preocupados: devem organizar o trabalho e principalmente precisam de operários para enviar aos seus parreirais.
Para os volantes que não têm um trabalho permanente, trata-se de uma oportunidade que não devem perder. Aproveitando a pressa dos proprietários, podem descolar algum dinheiro a mais; por isso, logo de manhã cedo, ficam na praça do povoado e esperam ser chamados.
É neste ponto que começa a nossa parábola. Antes mesmo do nascer do sol, eis que chega um viticultor à procura de operários. Há duas horas está de pé; programou o trabalho para o dia, preparou tinas, cestos, pipas. Está com o semblante preocupado. Poucas palavras são suficientes para acertar o pagamento e logo o primeiro grupo, o dos madrugadores e dos apressados, é encaminhado ao parreiral.
A pressa do patrão para terminar o quanto antes o trabalho é deveras grande. De fato sai mais quatro vezes à procura de operários: no meio da manhã, ao meio-dia, às três da tarde. Quando chama o último grupo já são 17 horas e falta somente uma hora para concluir a jornada de trabalho.
À noite o patrão manda enfileirar os operários e entregar a todos o pagamento, começando pelos últimos. Aí está a besteira! Se por compaixão, às escondidas, sem dar na vista, ele tivesse arredondado o pagamento para esses últimos, não haveria nada de mal. Mas provocar a ira daqueles, que após 12 horas de trabalho, têm o rosto queimado pelo sol e transtornado pelo cansaço, isso já é crueldade! Os operários da primeira hora, que já se não sustentam em pé, por causa da fadiga, são obrigados a assistir a uma cena irônica: observam incrédulos, os colegas que, sem suar o corpo, recebem o mesmo pagamento.
A parábola quer eliminar definitivamente da mente dos homens esta forma de relacionamento com Deus. Ele nunca se cansa de sair ao encontro do homem, mesmo quando este falha em todos os encontros. E mais: Ele não remunera pelos méritos próprios. Ninguém poderá julgar-se credor dele. A única atitude que deve ser tomada, diante do Pai que está nos céus, é aquela da criança que não se prevalece de nenhum direito, não merece nada, tem sempre os olhos voltados para o pai, esperando alegremente pelos seus presentes.
Esta parábola representa muito hoje, também para as nossas comunidades. Na Igreja não deve haver aqueles que exigem mais, porque chegaram antes. Ninguém deve sentir-se um veterano porque se converteu antes a Cristo. Todos são iguais. Ninguém é o senhor da vinha, pois todos são operários e se encontram no mesmo nível: não há motivos para superioridade. O cristão ama porque descobriu como é bonito amar desinteressadamente, como o Pai. Faz o bem pelo prazer de fazer o bem.
Dom Moacyr José Vitti, CSS arcebispo metropolitano de Curitiba