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Depois da multiplicação dos pães, a multidão quer proclamar Jesus como rei. Do ponto de vista humano este entusiasmo marca o ápice do sucesso. Parece um triunfo. Para Jesus, porém, é a mais candente das derrotas: não conseguiu que entendessem o "sinal". O seu gesto foi mal interpretado e Ele percebe que não será fácil desfazer a confusão que se formou. Talvez para ganhar tempo ou, mais provavelmente, para rezar, afasta-se então para a montanha. A passagem deste dia começa dizendo que no dia seguinte as multidões vão à sua procura e, tendo-o encontrado em Cafarnaum, lhe perguntam: "Mestre, quando chegaste aqui? Por que este povo está à sua procura? Jesus já entendeu: não o procura para escutar mais palavras suas, para penetrar mais a fundo na sua mensagem,  para ser ajudada a compreender os gestos que Ele cumpriu, mas porque comeu pão em abundância, de graça, e porque espera continuar tendo o pão garantido, sem mais precisar trabalhar.

A pergunta que lhe é feita: "Mestre, quando chegaste aqui?" não é a verdadeira, esta não tem importância, e por isso Ele não responde. É outra a que todos gostariam de dirigir-lhe: "Mestre vais repetir também hoje e sempre o mesmo milagre? Jesus deixa de lado os pormenores sobre a hora da sua chegada em Cafarnaum e vai direto ao ponto central do problema: "Não procureis pelo alimento que perece, mas pelo que dura até  vida eterna". Ele quer que os seus discípulos entendam que Ele não veio para transformar com sua varinha mágica as pedras em pães, mas para ensinar que o amor e a partilha produzem pão em abundância. Querem a repetição de um milagre, mas teimam em não querer entender plenamente o sentido do sinal. Essa incompreensão que constitui o primeiro tema do trecho é um desafio para todos nós hoje. É um convite para reconsiderar os motivos pelos quais procuramos a Cristo, pelos quais buscamos a Deus e praticamos a religião. Muitos e talvez seja a maioria, o fazem porque alimentam a secreta esperança de conseguir alguma graça ou até mesmo algum milagre extraordinário.

Muitos continuam tendo a convicção de que Deus ajuda os que se mantêm fiéis a certas práticas e a certas devoções, julgam que Deus os poupe das desventuras, que conceda colheitas fartas, sorte no emprego e boa saúde aos que acreditam nele. Acontece com frequência, porém, que estes fiéis de "fachada" logo se dão conta que a sua fé não os ajuda a atingir os objetivos materiais que tinham prefixado para si mesmos e então tiram a conclusão que a religião cristã não serve para nada, que é melhor passar para aquelas seitas que com seus ritos mágicos, com a evocação dos mortos conseguem curar doenças, encontrar um emprego bem remunerado e superar os exames com brilhantismo.

E nós? Entendemos o significado do sinal dos pais ou somos como as multidões que procuram Jesus para ganhar o alimento que "perece"? Ou somos como a samaritana que não entendia que o Mestre lhe oferecia uma água diferente daquela do poço? O que fazer para não alimentar dentro de nós expectativas errôneas? A resposta nos é dada neste mesmo trecho do evangelho de hoje: "Esta é a obra de Deus: acreditar naquele que Ele mandou". A fé em Cristo não se reduz a raciocínios. Pressupõe a escolha de unir a sua própria vida com a dele na doação de si aos irmãos.

Dom Moacyr José Vitti é arcebispo metropolitano

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