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Ao longo dos séculos os homens sempre manifestaram um ardente desejo de "ver a face de Deus" (Ex 19,21).Os mais sábios entre os pagãos descobriram alguma coisa a respeito dele, contemplando as maravilhas da criação. O sol, os astros, as estrelas do firmamento, a chuva, as estações, a terra fértil dos campos, as sementes das plantas que fornecem alimento, revelaram alguns indícios da sua beleza, da sua bondade, do seu plano de amor. Os cristãos conseguem "ver" o Pai através de raciocínios filosóficos ou contemplando as belezas da natureza, mas contemplando uma pessoa: Jesus de Nazaré. Ele é o rosto humano de Deus: quem o vê, "vê o Pai" (Jo 14,9-11).

Os judeus "murmuram", isto é, recusam-se a seguir este caminho. Julgam inconcebíveis que um homem possa aventar a pretensão de tornar presente Deus. Sentem-se aterrorizados diante da ideia de um Deus que se faz homem. Estão absolutamente convencidos de que o Onipotente tem o seu trono nos céus, distante do mundo,  e que manifesta a sua majestade e o seu poder através de fenômenos grandiosos: relâmpagos, trovões, terremotos, ou através de façanhas de reis dominadores e famosos. Não consegue fazer penetrar na sua mente que Ele possa revelar numa figura de homem frágil e fraco, filho de um carpinteiro. Jesus concorda que jamais alguém viu o Pai, mas afirma que ninguém poderá chegar ao Pai se não passar através dele.

É preciso observar o que Ele faz com quem anda a quem repreende a quem defende, de quem se aproxima,  a quem acaricia por quem se deixa tocar, por quem se deixa beijar... Pois os seus gestos, as suas escolhas, as suas preferências são as mesmas de Deus. Para alguns a humanidade de Cristo é o intermediário que conduz a Deus, para outros é um obstáculo. Quem nunca ouviu falar de Jesus de Nazaré, pode chegar ao conhecimento de Deus, mas tateando, cometendo muitos enganos, assimilando muitas ideias erradas. Pensemos em quantos conceitos a respeito de Deus em voga neste mundo: há quem acredita num deus que faz o que quer, volúvel, que se irrita com quem não lhe é submisso, com quem não cumpre os ritos que lhe agradam: há quem acredita num deus distante que abandona a vida dos homens para ser administrada pelos anjos, pelos demônios, pelos espíritos dos defuntos: há quem acredita num deus sempre disposto a castigar; há quem acredita num deus exigente quem não esquece o mal praticado; há quem acredita num deus "quebra-galhos", que intervém quando a situação está ruim, mas que só o faz quando for implorado. E a lista destes deuses poderia se entender. Por que há tanta confusão em relação a Deus? Porque ainda não foi descoberto ou não foi aceito Cristo.

Na sua sede e fome de Deus os homens se saciam facilmente em todas as formas que encontram, saboreiam qualquer comida que se lhes apresenta até o dia em que tiverem a graça de descobrir a única nascente que tira a sede, o único pão que alimenta Jesus, o pão que "vem do céu". Por que, na procura de Deus, alguns enveredam por caminhos errados ou se extraviam por atalhos secundários, outros parecem privilegiados: encontram Jesus Cristo, acolhem-nos pela fé, se alimentam da sua palavra e chegam a Deus por caminhos planos e seguros? A essa pergunta Jesus responde: "Ninguém pode vir a mim se o Pai, que me enviou não o atrair". A descoberta de Jesus é um dom gratuito de Deus.

Dom Moacyr José Vitti CSS é arcebispo metropolitano.

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