“Quem dizem os homens que eu sou?”

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No trecho do evangelho de hoje, segundo Mar­cos, Jesus revela sua verdadeira face, quando Ele responde à pergunta que todos estão fazendo. O episódio acontece nas proximidades de Cesárea de Felipe, a cidade que Filipe, um dos filhos do rei Herodes, o Grande, fundou co­­mo capital do seu reino. A maioria dos seus habitantes é pagã e está situada ao norte, na divisa do território de Israel. Essa, tal­ve­z seja a razão última que impele Jesus a deixar as cidades e al­­deias ao longo do lago da Gali­leia e tomar o caminho desta re­­gião. Mostra que quer levar a sal­vação a todos os filhos do seu povo, também aos mais distantes.

Ao longo do caminho dirige aos seus discípulos duas perguntas, das quais a primeira bastante simples: "Quem dizem os homens que eu sou?" e a segunda, mais comprometedora: "E vós, quem dizeis que eu sou?". Encontramo-nos mais ou menos na metade do evangelho e podemos então pensar que estamos também na metade do "curso de catequese" que Jesus está dando para os seus discípulos. Antes de tudo, o que o povo conseguiu entender a respeito dele?  A lista das opiniões já foi amplamente relatada por Marcos: o rei Herodes ouviu falar de Jesus, cujo nome se tornara célebre; Dizia-se: "João Batista ressurgiu dos mortos e por isso o poder de fazer milagres opera nele". Uns afirmavam: "É Elias".  Diziam outros: "É um profeta como qualquer outro". Ouvindo isto Herodes repetia: "É João, a quem mandei decapitar; ele ressuscitou!". Essas são as opiniões do povo, mas para Jesus interessa saber o que os seus discípulos entenderam a respeito dele.

Vislumbraram alguma coisa a mais do que os outros? Alguns dias antes os repreendera porque "têm olhos, mas não veem", estão com o coração endurecido e não conseguem entender a sua verdadeira identidade; acreditaram nele, seguiram-no, mas não entendem para onde esteja indo, ainda não perceberam qual é a meta final para a qual está se dirigindo. Eis que hoje temos uma surpresa: depois de ter relatado o que se diz por aí a seu respeito, Pedro, também em nome de todos, mostra que já entendeu tudo. Diz-lhe:  Diz-lhe: "Tu és o Cristo!"  Tu és o Messias, o Salvador do qual todos os profetas falaram e que o nosso povo na sua totalidade espera. É difícil encontrar uma resposta mais exata. Não obstante, Jesus impõe o silêncio, energicamente: não quer que se me fale público quem Ele é.

O motivo pelo qual Ele quer que o segredo seja mantido é simples: Pedro respondeu com exatidão só na forma, pois na verdade, a ideia que ele tem de Jesus está completamente distorcida. Ele tem certeza de que o Mestre está prestes a dar início ao Reino de Deus na Terra e imagina que isto acontecerá através de uma ostentação de força, mediante prodígios e sinais que despertarão a atenção de todos sobre Ele. O equívoco é total e para Jesus chegou a hora de eliminar das suas mentes esse perigoso mal-entendido. Deve deixar bem transparente qual é a meta da sua viagem, deve elucidar de que modo o Pai realizará nele a sua obra de salvação. Se ainda medimos o crescimento do Reino de Deus baseados na fama, nos triunfos, nos aplausos alcançados, não estamos vendo a realidade sob o prisma de Deus, mas segundo os critérios dos homens.

Dom Moacyr José Vitti é arcebispo metropolitano