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Friedmann Wendpap

Divagações carnavalescas

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Carregava uma tristeza e não pensava em novo amor, quando alguém anunciou a Portela e a alvorada trouxe o samba, com azul que não era do céu nem era do mar. Foi um rio que passou em minha vida e meu coração se deixou levar. Em prosa trago a poesia de Paulinho da Viola que me emociona desde a juventude. A genialidade melódica do sambista ao declarar amor pela escola de samba encanta com intensidade que mantém a música sempre presente no tamborilar dos dedos sobre a mesa de trabalho. À época do carnaval me flagro batucando sobre o computador ao pensar no assunto para a segunda-feira da folia, dia de trabalho no calendário, feriado por costume. O Irã anuncia potência nuclear, os gregos quebram os pratos que sobraram da farra do Euro, brasileiros são vítimas de xenofobia no Paraguai. O mundo continua como sempre e nós, imersos em festa carnavalesca. Absorto, volto ao mundo quando Paulinho diz que aceita o argumento, mas não altere o samba tanto assim, para que a rapaziada não sinta falta do pandeiro e tamborim. É isso! Antigos carnavais.

A verdade é que eu não me recordo de nenhuma música do carnaval de 2011, 10, 09. Tenho memória de sambas dos anos 70, 80; me lembro do Bum bum paticunbum prugurundum contagiando a Marquês de Sapucaí; Tengo-tengo Santo Antônio Chalé, minha gente é muito samba no pé pra minha alegria que atravessou o mar e ancorou na passarela, palco iluminado onde a escola se encanta, o povão se levanta e o realejo diz que eu serei feliz, bem feliz porque a Mãe do Ouro vem nos salvar. Dizem que velho não vai à cartomante porque não tem futuro para ver, por isso não se angustia com o que virá, mas com as interpretações sobre o que já foi e teima em dizer que "antigamente" era melhor. Pode ser que eu tenha desligado as antenas para captar as novas músicas de carnaval, tanto as de ruas quanto as de salão, mas a sensação que me acompanha é de ausência de novidade.

Visão sulista? Talvez. O carnaval de Salvador e o de Recife têm identidade própria que os distingue entre si e da festa no Rio e São Paulo. Baianos fazem carnaval cheio de inovações tecnológicas, caminhões gigantes com potência sonora audível na Lua. Porém, não gosto do menu musical. A miniguitarra elétrica me dá nos nervos; a pulação feito pipoca em panela quente cansa a beleza. Em Pernambuco há alguma coisa de raiz na preferência por instrumentos de sopro que fazem do frevo em Recife ritmo mais adequado à dança que a saltos epiléticos. Para a turma do funil, basta haver música e todo mundo bebe, mas ninguém dorme no ponto.

Engraçado é curitibano opinando sobre carnaval dos outros. Antigo é melhor; a vassourinha pernambucana é deliciosa. Nem sai de casa para ver o desfile no Centro Cívico, fica com receio de pegar friagem ou de passar vergonha de aparecer na tevê e durante a semana as pessoas dizerem que te viram na arquibancada dançando. Era alguém parecido comigo. Juro que eu não fui.

Melhor é se entregar às músicas, novas ou antigas, até o momento das marchinhas que anunciam a Estrela D’Alva que no céu desponta com tanto esplendor. Aí, a festa acaba e 2012 começa.

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