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Caso Wilson Bueno

Acusado de ter matado escritor foi induzido a confessar o crime, dizem advogados

Oliveira (à direita, de preto) teria assistido Schimitt no depoimento em que o acusado confessa o crime | Daniel Derevecki/Gazeta do Povo
Oliveira (à direita, de preto) teria assistido Schimitt no depoimento em que o acusado confessa o crime (Foto: Daniel Derevecki/Gazeta do Povo)

Os advogados que compõem a defesa de Cléverson Petreceli Schimitt, de 19 anos, acusado de ter matado o escritor Wilson Bueno, vão contestar o depoimento que o acusado prestou, confessando o crime. De acordo com os advogados Maurício Zampieri de Freitas e Matheus Gabriel Rodrigues de Almeida, após ter sido preso, o jovem foi induzido a afirmar, em interrogatório, que cometeu latrocínio (roubo seguido de morte). "Na nossa avaliação, é uma confissão maculada e, por isso, nula. O processo todo, desde seu início, deve ser revisto", disse Freitas.

Quando prestou depoimento à Delegacia de Furtos e Roubos (DFR), na noite de 2 de junho, Schimitt foi acompanhado pelo advogado Pedro Octávio Gomes de Oliveira, que era amigo de Bueno. Oliveira aparece em foto publicada pela Gazeta do Povo em 2 de junho carregando o caixão do escritor, no sepultamento. Em função da amizade entre o advogado e a vítima, a defesa de Schimitt contesta a validade do depoimento.

"Durante etapas importantes do processo, o acusado teve a assistência de um advogado que é umbilicalmente ligado à vítima. Como pode uma pessoa chorar sob o corpo da vítima e depois ser o advogado de defesa da pessoa que teria cometido o crime? Qual o interesse por trás disso?", questionou Almeida.

Almeida e Freitas foram constituídos como advogados de defesa de Schimitt em 7 de junho. Ainda de acordo com eles, o acusado teria dito que Oliveira o teria orientado a assumir o latrocínio e a sustentar diante da autoridade policial coisas que não teriam acontecido na noite do crime. Os advogados dizem que ao longo do processo vão trazer à tona os reais motivos que fizeram com que Schimitt matasse Bueno.Outro lado

Oliveira admite que sua família mantinha uma relação de "amizade" e de "respeito" com Bueno. O advogado alega, no entanto, que nunca constituiu a defesa de Schimitt e que participou do depoimento do acusado como "fiscal da lei". "Eu acompanhei o interrogatório para garantir que os procedimentos seriam todos realizados e para garantir que o acusado fosse respeitado, sem sofrer qualquer arbitrariedade", disse Oliveira.

Ele classificou como "insulto" o fato de a defesa de Schimitt acusá-lo de ter induzido o rapaz no depoimento. Oliveira garantiu que não prestou qualquer assessoramento jurídico ao acusado e que sequer chegou a conversar com ele. "Essas insinuações fazem parte de uma tática no mínimo deselegante da defesa, que quer desqualificar todo o processo", avaliou. "Em relação ao depoimento do acusado, ele confessou tudo posteriormente, diante da imprensa", complementou.

O processo

O Ministério Público do Paraná (MP-PR) denunciou Schimitt por homicídio duplamente qualificado e por furto. A denúncia foi encaminhada à 2ª Vara do Tribunal do Júri. Nesta segunda-feira, o MP-PR não comentou os fatos alegados pela defesa de Schimitt e, por meio de sua assessoria de imprensa, informou que mantém a denúncia.

A expectativa é de que a 2ª Vara do Tribunal do Júri se manifeste ainda nesta semana sobre a denúncia apresentada pelo MP-PR. A partir de então, começa o período de instrução. Nesta etapa, a defesa de Schimitt pretende pedir que uma nova reconstituição seja realizada, com base em um novo depoimento do acusado. A primeira reconstituição do crime aconteceu no dia 11 de junho, sem a participação de Schimitt, que, ao longo do procedimento, permaneceu em uma viatura da polícia, no lado de fora da casa. "Na ocasião, não permitimos que o acusado participasse da reconstituição, porque já havia essa dúvida sobre a validade do depoimento dele", disse Freitas.

O primo do escritor e advogado Emídio Bueno Marques disse que a estratégia da defesa não altera os elementos que apontam que Schimitt foi o autor do crime. Marques ingressou na Justiça com um pedido para que a denúncia do MP-PR seja alterada para latrocínio. "O que não se pode negar é que esta atrocidade foi cometida pelo acusado. O que houve foi uma morte acompanhada de roubo", disse o advogado. Até esta segunda-feira (28), a Justiça ainda não havia se pronunciado sobre o pedido de Marques.

O caso

O escritor Wilson Pinto Bueno, de 61 anos, foi encontrado morto dentro de sua residência, no bairro Tingui, em Curitiba, por volta das 19h30 de 31 maio. Ele foi assassinado por volta das 21 horas do dia 30. Segundo o inquérito policial elaborado pela DFR, o escritor morreu depois de ter sido atingido por um golpe de faca no pescoço, que teria sido desferido por Cléverson Shimitt.

O rapaz teria fugido, levando dois celulares e uma câmera fotográfica digital. Para a polícia, discussões sobre um cheque de R$ 130, dado pelo escritor ao rapaz como pagamento de um programa sexual e como adiantamento de um serviço de demolição, teria motivado o crime.

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