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Faixas informando sobre a greve foram colocadas em frente ao Colégio Estadual do Paraná | Jonathan Campos/Agência de Notícias Gazeta do Povo
Faixas informando sobre a greve foram colocadas em frente ao Colégio Estadual do Paraná| Foto: Jonathan Campos/Agência de Notícias Gazeta do Povo

Problemas nas escolas vão de equipes reduzidas a muros caídos

O Núcleo Sindical Curitiba Sul da APP-Sindicato fez um levantamento das escolas estaduais em situação mais crítica. São quatro: Escola Estadual Arlindo Amorim (CIC), EE Alcyone Vellozo (CIC), EE Guilherme Pereira Neto (Campo de Santana) e Colégio Estadual Tatuquara (Campo de Santana).

De acordo com Veroni Salete Del Ré, professora de História e presidente do Núcleo Sindical Curitiba Sul, o principal problema nessas escolas é a falta de funcionários encarregados de serviços gerais e administrativos e de pedagogos. "O governo cortou os funcionários necessários para a manutenção diária das escolas e grande parte dos pedagogos. Hoje temos um pedagogo para cada 100 alunos. Secretários tiveram sua carga horária reduzida de 40 horas para 20 horas semanais; diretores auxiliares foram dispensados", conta Veroni.

Em termos de infraestrutura, a maior dificuldade decorre do atraso dos repasses da verba do fundo rotativo, destinado à manutenção das escolas e compra de materiais. "As escolas têm muros caídos, goteiras, falta de material básico, como papel higiênico e a complementação da merenda."

  • Aluna foi até o Colégio Estadual do Paraná na esperança de ter aulas
  • Professores vão pedir a retirada de dois projetos de leis que cortam benefícios do funcionalismo
  • Colégio Amâncio Moro, no Jardim Social, também estava com as portas fechadas

A greve dos professores da rede estadual começou nesta segunda-feira (9) com adesão de 100%. De acordo com Marlei Fernandes, secretária de Finanças do sindicato da categoria (APP-Sindicato), a mobilização é total, tanto na capital quanto no interior do estado. Ainda hoje, professores vão entregar dois ofícios ao governo do estado pedindo a retirada de dois projetos de lei que cortam benefícios do funcionalismo.

Por enquanto, não há encontros agendados para superar a crise. Para tentar impedir a aprovação do "pacotaço", os professores organizam um protesto em frente à Assembleia Legislativa do Paraná. Desde o início da manhã dessa segunda-feira, quatro grandes tendas foram erguidas para abrigar professores e funcionários da educação. Manifestações devem ocorrer também em outros municípios do estado.

Veja fotos do primeiro dia de greve dos professores

A Secretaria de Estado da Educação (Seed) informou não ter nada "de novo" a declarar sobre a paralisação. Até o início da tarde deve ser divulgado um boletim oficial com o número de escolas que aderiram à greve e o posicionamento do governo.

Professores explicam motivos da greve

Pela manhã, no Colégio Estadual do Paraná, membros do sindicato, professores e alunos do grêmio explicavam a quem chegasse os motivos da paralisação. Os alunos que vieram para a escola foram levados ao auditório.

"Não é gostoso fazer greve, mas nesse momento é necessário", disse Marlei Fernandes. Além da insatisfação com os projetos de lei que cortam benefícios dos servidores, os professores também reclamam da falta de pessoal, corte de funcionários, não pagamento do terço de férias e dos salários dos profissionais temporários, contratados via Processo Seletivo Simplificado (PSS).

Marlei também destaca o fechamento de 2,4 mil turmas em escolas de todo estado. Ela conta que há colégios que possuem lista de espera de alunos que gostariam de se matricular, mas não há autorização para abrir mais vagas. "Não tem condições de começar as aulas assim", diz.

Muitos alunos apoiam a paralisação dos professores. É o caso de Felipe Sebastian Perez, presidente do grêmio estudantil do Colégio Estadual do Paraná. Ele conta que o grêmio se organizou para informar os alunos sobre a greve. "Quando o professor vai para a greve, o aluno deve ir junto, porque o problema é para toda a comunidade escolar. É a luta pela educação", diz.

Bacacheri, Bairro Alto, Jardim Social e CIC

No Colégio Estadual Leôncio Correia, no Bacacheri, dezenas de professores e funcionários estão de braços cruzados. Poucos alunos vieram e alguns estavam no local para apoiar os professores.

O diretor do colégio, Vanderlei Carlos Galdioli, disse que desde outubro a escola não recebe as verbas do fundo rotativo. Um muro caído espera conserto há um ano e as chuvas da última semana derrubaram mais uma parte.

O colégio também sofreu com o corte de funcionários: mais da metade dos servidores foi dispensada. "Tem cinco funcionários para três turnos. Não tem merendeira, não tem inspetor de alunos, não tem ninguém", desabafou o diretor. O Leôncio Correia tem 2,2 mil alunos dos ensinos fundamental, médio e profissionalizante. "Se tivesse trocado de governo, a gente ate esperava alguma mudança, mas não desse jeito", afirmou Galdioli.

Dois alunos estavam na escola para apoiar os professores. Estudando há quatro anos na escola, Janaína de Souza Ferreira, de 16 anos, disse que apoia totalmente a paralisação. "Eles estão buscando seus direitos. Se tiverem que parar, eu apoio. Eles merecem mais, estão preparando o futuro da nação", afirmou.

Outro aluno, Natan de Lima, de 16 anos, diz que a situação dos professores é uma vergonha. "Quem está no governo foi ensinado por professores. Agora tratam eles assim?", questionou.

No Colégio Amâncio Moro, no Jardim Social, poucos alunos foram até o local e receberam a orientação de voltar para casa. Funcionários que estavam na escola contaram que já havia falta de pessoal e mais 20% foi cortado. "Aí fica complicado", resumiu uma funcionária que não quis se identificar por medo de represálias.

No Bairro Alto, o Colégio Algacyr Munhoz Maeder estava com os portões fechados e o aviso de greve já na entrada.

No Colégio Estadual Professor Brasílio Vicente de Castro, na Cidade Industrial de Curitiba, os professores se concentraram em frente à escola pela manhã e orientaram os alunos. Depois, eles seguiram rumo à Assembleia Legislativa para participar do protesto da categoria contra os cortes de benefícios da categoria, propostos pelo governo e que tramitam na casa.

Impasse

A crise na rede de ensino se arrasta há pelo menos duas semanas devido a medidas de austeridade determinadas pelo governo de estado. A gota d'água, que desencadeou a greve, foi o envio por parte do governador Beto Richa (PSDB) do chamado "pacotaço" à Assembleia Legislativa, na última quarta-feira (4). O projeto de lei prevê a extinção dos quinquênios e torna mais difícil a retirada de licenças (que passam a ser aprovadas diretamente pelo secretário de Educação). A medida também promoveu cortes no vale-transporte e muda as regras para a previdência dos servidores.

Segundo a APP-sindicato, o corte de 10 mil funcionários; o calote em parcelas do ano passado no fundo destinado à manutenção das escolas e compra de materiais; e o atraso no pagamento do terço de férias dos docentes e da rescisão dos 29 mil professores temporários que trabalharam na rede no ano passado também estão entre os motivos da greve.

Balanço

Ainda não há um levantamento oficial do número de escolas que amanheceram fechadas, mas a APP-Sindicato, representante da categoria, disse que a adesão à greve é de 100%. "Alguns professores e funcionários estão nas escolas conversando com pais e alunos que buscam informações. Temos recebido bastante apoio da população diante do desmonte da educação pública. A indignação é geral", disse o secretário de Comunicação do sindicato, Luiz Fernando Rodrigues.

De acordo com Rodrigues, não há previsão de encerramento da greve. "Estamos tentando negociar com o governo. A reivindicação principal é a retirada do projeto de lei enviado à Assembleia Legislativa e o pagamento de todos os débitos em atraso", disse, referindo-se ao "pacotaço" que prevê, entre outras coisas, a extinção dos quinquênios e cortes no vale-transporte; e ao atraso no pagamento do terço de férias dos docentes e da rescisão de 29 mil professores temporários. Segundo a APP-Sindicato, o montante devido chega a R$ 340 milhões.

Greve no Paraná

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