Em greve desde o início desta segunda-feira (9), professores da rede estadual de ensino começaram a se mobilizar no início da manhã em frente à Assembleia Legislativa do Paraná, no bairro Centro Cívico, em Curitiba. Eles protestam contra um "pacotaço" a ser votado por deputados estaduais e que corta benefícios concedidos ao funcionalismo público do estado. Segundo o sindicato da categoria - APP-Sindicato - cerca de cinco mil educadores participaram do protesto.
Alguns professores e educadores irão passar a noite em frente à Assembleia. A expectativa é de que a mobilização seja ainda maior nesta terça-feira (10), a partir das 8 horas. Segundo a diretora financeira da APP, Marlei Fernandes, cem ônibus transportando educadores do ensino básicos devem vir a Curitiba durante esta madrugada. A APP estima que todos os 2,1 mil colégios ficaram sem aula nesta segunda-feira, com a adesão de aproximadamente 100 mil funcionários. A Secretaria Estadual de Educação não se pronunciou, até o momento, sobre a greve dos professores e nem sobre quantos colégios ficaram sem aula. Governo recua de fim de quinquênio para conseguir aprovar pacote na Assembleia
No início da tarde, 300 grevistas chegaram a ser liberados para entrar no plenário da Assembleia, segundo informações dos sindicalistas. Os professores pretendiam acompanhar a sessão que começou às 14 horas e que deu início ao trâmite do "pacotaço". No entanto, o acesso deles ainda foi lento e, por vezes, interrompido até perto das 16 horas, o que causou irritação.
Apenas perto de 50 professores conseguiram entrar na Assembleia. Eles se somaram aos outros 80 educadores que haviam entrado no local para acompanhar uma audiência pública que discutiria a previdência, mas que acabou sendo cancelada. Durante a manhã, os portões da Casa foram fechados para impedir a entrada dos grevistas no local.
Os professores se manifestaram em alguns momentos favoráveis e também contrários ao discursos dos deputados estaduais. A diretora de um Colégio Estadual Santa Gemma, Paulla Helena Silva de Carvalho, chegou a chorar durante a sessão. Para ela, será muito difícil o pacote de propostas do governo não ser aprovado. "É duro, mas no final a gente tenta manter a esperança", disse.
Antes, para discutir como seria o acesso dos educadores à Assembleia, os presidentes da APP e da Assembleia tiveram uma reunião. Durante o encontro, o presidente da Casa, deputado Ademar Traino (PSDB), chegou a propôr aos professores que as galerias da Assembleia fossem divididas entre os que apoiam as medidas do governo e os que são contrários. "Não aceitamos a proposta. Não queremos fazer uma guerra de torcida", disse o presidente da APP-Sindicato, Hermes Leão. Devido ao impasse, apenas uma galeria foi liberada e a outra permaneceu fechada.
Os professores querem que os projetos sejam retirados de pauta. Eles também pretendem impedir a aprovação da comissão geral - estratégia usada para votar de forma mais rápida as propostas.
Gritos de ordem e apoio da população
A todo momento, a multidão de professores gritava palavras de ordem. "Beto caloteiro" era uma das favoritas. Do alto de um carro de som, um professor perguntava "quem quebrou o Paraná?" e a resposta vinha em coro: "Richa!". Outro bordão era "deputado amigo da educação, vota contra o pacotão".
A cada interrupção de tráfego feita por manifestantes nas imediações, os professores recebiam acenos de apoio de usuários de ônibus que passavam pelo local.
No meio da manhã, o protesto ganhou apoio também de alunos do Colégio Estadual do Paraná (CEP) e de integrantes do Sindicato Dos Agentes Penitenciários do Paraná (Sindarspen), outra categoria que pode entrar em greve devido às propostas do governo estadual.
No ato, a APP-Sindicato distribuiu um folheto em formato de "carta aberta" à comunidade escolar. Eles pedem a união das famílias para ajudar a enfrentar "as dificuldades que estão sendo criadas pelo governador Beto Richa".
O folheto cita a dívida das escolas com fornecedores pela falta de repasse do fundo rotativo, diminuição drástica de funcionários, diminuição ou fechamento de turmas, diminuição do número de professores e não contratação de novos profissionais, fechamento de atividades complementares e contraturno, ameaça de fechamento de programas como Leite das Crianças e fornecimento de merenda, fim de programas de formação de professores e do plano de carreira da categoria e as dívidas com pagamento de rescisões contratuais, terço de férias e atrasos e cortes de salários.
Interior
A professora Walkiria Mazeto, secretária educacional da APP-Sindicato, conta que várias delegações estão vindo do interior do estado para participar do ato. Os professores estão na Praça Nossa Senhora de Salete desde as 7 horas, abrigados em tendas montadas pela categoria.
Os professores vindos do interior se organizam para montar barracas no local, informou a secretaria de Finanças da entidade, Marley Fernandes. Mas, isso só deve ocorrer no fim da tarde e sem que isso seja um acampamento "oficial" do sindicato, ressaltou a entidade, via assessoria.
Apoio de outras categorias
A manifestação dos professores em frente à Assembleia recebeu uma série de "participações especiais" ao longo da manhã. Representantes de outros sindicatos subiram ao carro de som para dar apoio ao ato.
No protesto de hoje, servidores da saúde municipal (Sismuc), do poder Judiciário estadual (Sindijus) e dos engenheiros (Senge) manifestaram solidariedade à causa dos docentes.
Representantes de outras categorias do funcionalismo estadual também devem juntar-se à manifestação organizada pela APP-Sindicato a partir de terça-feira (10), segundo informou Marley Fernandes, secretária de Finanças do sindicato dos professores, em discurso feito do alto do carro de som. "Hoje é só preparação, porque amanhã vai ser maior", disse.
A perspectiva é de que professores universitários estaduais, agentes penitenciários e servidores estaduais da saúde engrossem o coro contra o "pacotaço" de medidas de austeridade que devem cortar benefícios do funcionalismo público do estado.