Cerca de 2 mil alunos do Curso de Formação de Soldados (CFS) da Polícia Militar do Paraná foram enviados neste mês às ruas no estado sem arma e sem terem concluído etapas importantes da fase de recrutas. Isso inclui, por exemplo, o curso de tiro ao qual são submetidos durante a preparação.
Na semana passada, alunos da Região Metropolitana de Curitiba chegaram a protocolar ofício na coordenação do curso relatando a preocupação dos recrutas com a segurança da turma durante as atividades externas. Eles informaram que têm se deslocado de farda, com recursos próprios, sem arma e qualquer tipo de escolta. A situação, diz o documento, estaria “causando insegurança aos militares assim como comentários vexatórios por parte dos transeuntes”.
Hostilidade
Um aluno do curso de formação da PM – que pediu para não ser identificado – relatou que um dos maiores receios dos recrutas é em relação à hostilidade sofrida por policiais nas ruas.
“Querendo ou não, a farda está ali. Você está se monstrando como policial, mas não tem como se defender”, diz.
Caso uma ocorrência grave ocorra, relata o aluno, a ordem é se abrigar e entrar em contato com um oficial. Nesta segunda-feira, após as reclamações dos recrutas, os estudantes tiveram a notícia de que devem receber armas em breve.
“Dois pelotões vão começar a ir com armamento usado na aula de tiro. Mas é um armamento que temdefeito, dá falha, fica sujo, nós é que fazemos a manutenção”, conta.
Os alunos assinalam ainda que concluíram com êxito a disciplina de abordagem, mas que a matéria não trouxe no conteúdo informações para que a prática fosse realizada sem armamento. “Embora estejamos sendo alertados para não fazermos abordagens, entendemos que a situação nos deixa à mercê do acaso. Reforçamos que tememos represália, bem como perder a vida de maneira desastrosa e sem chance de defesa”, conclui o comunicado.
Esse cenário também chegou ao conhecimento da Associação dos Praças do Estado do Paraná (Apra-PR). A entidade protocolou documento solicitando ao governo do estado medidas que garantam segurança dos recrutas e da população. “Vemos isso com bastante preocupação, os alunos não chegaram a ter as notas do curso de armamento lançadas. Esperamos que as autoridades verifiquem a situação dos equipamentos de proteção de uso obrigatório dos policiais, incluindo os coletes”, afirma o presidente da Apra-PR, Orélio Fontana Neto.
Ele avalia que o estágio operacional nas ruas faz parte da formação dos soldados, mas que, sem armas, deixa alunos e a própria comunidade vulneráveis. “Os alunos precisam ter o mínimo de segurança nesse período de formação. Como eles vão fazer segurança se eles mesmos não têm segurança? ”, questiona Fontana Neto. O presidente da Apra-PR reforça ainda que o uso das tonfas, os cassetetes usados por policiais militares, pode ser útil em caso de detenção ou contenção, mas que não substitui o armamento de fogo em uma ocorrência mais grave.
Até que possam começar o estágio operacional nas ruas, os recrutas precisam ter concluído integralmente as disciplinas de Direitos Humanos e cidadania, Estudo do armamento e munição, Atendimento pré-hospitalar, Primeira intervenção em crises, Técnicas de abordagem policial, Tiro policial e Táticas para confrontos armados. Policiamento ostensivo geral, Polícia Comunitária, Direito penal e Direito Penal Militar precisam ter no mínimo 80% da carga horária cursada nesta fase. Já as disciplinas de Defesa Pessoal; Abordagem Sócio Psicológica da Violência; Policiamento em Eventos Especiais; Legislação Especial e Sistemas Informatizados precisam ter pelo menos 60% do conteúdo cursado até que as turmas de formação de soldados estejam aptas ao estágio operacional.
Procurada, a assessoria de imprensa da Polícia Militar do Paraná não deu retorno à reportagem.
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