Mármore dolomítico e diabásio. Uma dupla cujo nome soa estranho aos ouvidos, mas que marca presença nas calçadas curitibanas e em diversas cidades brasileiras. Melhor seria dizer “petit-pavê”, denominação das calçadas portuguesas, herança de nossos colonizadores de quem aprendemos a arte da cantaria, o entalhe das rochas. Em Curitiba, o petit-pavê se fez presente nas principais ruas e avenidas, nas quais o pinhão ocupa o papel de protagonista. Herança marcante que remete ao paranismo, movimento que buscou ressaltar a identidade do estado.
Capitaneado por Romário Martins, o paranismo encontrou nos artistas João Turin, João Ghelfi e Lange de Morretes a oportunidade para transformar temas como o índio, a flora e fauna paranaenses em expressão da identidade do Paraná. A Lange coube o cálculo e elaboração da forma geométrica para a representação do pinhão, semente da a araucária. Cada artista, à sua maneira, incorporou aos seus trabalhos a identidade paranista. Da paixão pelo estado, explícita no nome que adotou ao estudar na Alemanha, Frederico Lange foi o primeiro a suscitar o desejo de um enterro nada convencional: pediu para que fosse sepultado de pé, no cemitério de Morretes, sua terra natal, com o rosto voltado ao Pico Marumbi.
Um discípulo de Lange de Morretes também quis levar a paixão pela temática paranista ao túmulo. O pintor e escultor Oswald Lopes não só planejou como também executou o necessário para o seu sepultamento em um caixão em forma de pinhão. Bisneto de Cândido Lopes, tipógrafo carioca responsável pela fundação da Tipografia Paranaense, editora de nosso primeiro jornal – Dezenove de Dezembro –, Oswald foi também aluno de Alfredo Andersen e Guido Viaro. Lecionou no Instituto de Educação e foi um dos professores fundadores da Escola de Música e Belas Artes do Paraná, onde ensinou modelagem, além de ocupar o cargo de diretor do departamento de Belas Artes.
Desde a juventude, Oswald nutria a vontade de externar seu amor pelo estado. Aos 18 anos executou um molde em argila, no formato de um pinhão, que serviria como base para a execução futura do ataúde. Precavido, dois anos antes de sua morte, contou com o auxílio de seus alunos para colocar o projeto em prática e fabricar o caixão. Segundo o filho, Cassio Lopes, entre a finalização do sarcófago e o uso final, o artista utilizou o objeto como armário e ali guardava os pertencentes. Ao fundo do móvel improvisado, lia-se a frase “Meu enterro não deve ser fúnebre e sim festivo”. Também teve a preocupação de separar uma fita para amarrar o queixo e forrar um travesseiro com serragem, artifício para descansar a cabeça. Redigiu uma carta em que determinava quem seriam as pessoas encarregadas de transportarem seu caixão.
O pinhão-ataúde de ângulos retos traz uma riqueza em detalhes e remete ao longo processo de planejamento a que Oswald deve ter submetido sua última obra. Os pés, em formato de pinhas, elevam-no do solo. Grimpas estão posicionadas tanto nas laterais quanto na tampa do caixão. Cruzadas com uma pinha ao meio, elas formam uma cruz. Até mesmo as alças foram planejadas em formato de pinhão. São seis, três de cada lado. Tanto planejamento não evitou uma pequena intercorrência durante o sepultamento no Cemitério Municipal São Francisco de Paula: o caixão excedia a largura do túmulo, que teve partes quebradas para receber o ilustre artista.
Lista de Falecimentos - 04/10/2015
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